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Veja a cronologia da crise entre Moro e Bolsonaro desde a reunião gravada no Planalto

Vídeo é a peça-chave para o inquérito que busca apurar interferências políticas na PF
Sergio Moro e Jair Bolsonaro em foto de fevereiro; o agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública justificou saída do governo por descumprimento de promessa do presidente de que teria carta branca para fazer indicações-chave Foto: REUTERS/ADRIANO MACHADO

RIO — Citado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro durante depoimento no último dia 2 como uma prova da tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal , o vídeo de uma reunião do presidente com ministros, em 22 de abril, no Palácio do Planalto, é peça-chave para o trabalho do ministro Celso de Mello , do Supremo Tribunal Federal ( STF ), na relatoria do pedido de abertura de inquérito para investigar as acusações de Moro. O decano do STF deu prazo de 72h na terça-feira desta semana para que o governo apresentasse a gravação . A Advocacia-Geral da União (AGU) recorreu . O vídeo está no centro das acusações públicas entre Moro e Bolsonaro, que se estendem desde a saída do ex-ministro do governo.

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Abril

Dia 22 : O então ministro da Justiça Sergio Moro participa da reunião do conselho de ministros e de presidentes de bancos públicos com o presidente Jair Bolsonaro. Durante o encontro, segundo Moro, Bolsonaro teria ameaçado demiti-lo caso não concordasse com uma nova substituição do superintendente da Polícia Federal no Rio. O diretor-geral da PF também perderia o cargo. A reunião foi gravada em vídeo pela própria Presidência da República, o que poderia comprovar as acusações de que Bolsonaro tentou realizar interferências indevidas na PF.

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Dia 23 :  Pela manhã, Sergio Moro troca mensagens por meio do aplicativo WhatApp com Bolsonaro sobre mudanças no comando na Polícia Federal. O ex-ministro e o presidente se encontram depois em reunião no Palácio do Planalto no qual Bolsonaro lhe informa que havia decidido demitir o então diretor-geral Maurício Valeixo.

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Dia 24 : Moro anuncia sua saída do cargo de ministro da Justiça, após Bolsonaro exonerar o diretor-geral da PF Maurício Valeixo, nome de confiança do ex-ministro. Durante o anúncio da demissão, o ministro relata a conversa que teve com Bolsonaro um dia antes sobre a demissão do diretor e diz que o presidente deixou claro que gostaria de fazer uma interferência política no órgão. Em pronunciamento após a demissão de Moro, Bolsonaro nega a interferência na PF. À noite, o Jornal Nacional da TV Globo divulga conversas de Moro com Bolsonaro pelo WhatsApp sobre mudanças da PF e troca de mensagens do ex-juiz com a deputada federal Carla Zambelli (PSL). Ela teria tentado convencê-lo a permanecer no cargo e se oferecido para conversar com Bolsonaro para indicá-lo para uma vaga de ministro do STF.

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Ao anunciar demissão, ministro da Justiça acusou presidente de tentar interferir política na Polícia Federal, de ter 'preocupação' com inquéritos no STF e comparou autonomia com os governos do PT

 

Dia 28 : Bolsonaro promete divulgar vídeo gravado na reunião do dia 22, legendado, como contraponto às acusações de Moro. Posteriormente, Bolsonaro é aconselhado por integrantes do governo a voltar atrás e não divulgar a gravação.

Maio

Dia 2 : Sergio Moro presta depoimento na sede da Polícia Federal do Paraná . O depoimento a delegados e procuradores durou mais de oito horas e faz parte do inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir politicamente em investigações da PF.

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Dia 4 : O procurador-geral da República, Augusto Aras, pede ao STF que a Corte ouça ministros do governo e delegados da Polícia Federal e tenha acesso ao vídeo da reunião do dia 22 no Palácio do Planalto. O documento foi enviado ao ministro Celso de Mello, relator do inquérito no STF. Augusto Aras pediu os depoimentos de Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo); Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Braga Netto (Casa Civil). No mesmo dia, advogados de Moro afirmaram ao STF que abrem mão do sigilo do depoimento prestado pelo ex-ministro à Polícia Federal.

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Dia 5 : Em despacho expedido às 22h30m, o ministro do STF Celso de Mello determina o prazo de 72 horas para a apresentação de uma cópia dos "registros audiovisuais" da reunião do dia 22. Ele ordenou que o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, o secretário especial de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o assessor-chefe da Assessoria Especial do presidente da República, Célio Faria Júnior, sejam oficiados com urgência.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, é visto falando ao telefone em seu gabinete um dia antes de anunciar que saiu do governo Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Moro participa da coletiva, em 13 de abril, para anunciar o boletim epidemiológico sobre a Covid-19 no país Foto: Jorge William / Agência O Globo
O ministro da Justiça compõe a mesa ao lado de outros ministros e do presidente, durante anúncio de medidas do governo para combater a pandemia da Covid-19 Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo - 18/03/2020
Moro e Bolsonaro conversam durante cerimônia de posse dos novos dirigentes do Tribunal Superior do Trabalho e do Conselho Superior da Justiça do Trabalho Foto: Jorge William / Agência O Globo - 19/02/2020
O ministro participa da comissão especial na Câmara que analisa a volta da prisão após condenação em segunda instância Foto: Jorge William / Agência O Globo - 12/02/2020
Bolsonaro e Moro durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília Foto: Adriano Machado / Reuters
Bolsonaro e Moro durante solenidade, no Palácio do Planalto, para promover o pacote anticrime Foto: Adriano Machado / Agência O Globo - 03/10/2019
Moro em visita ao Arquivo Nacional, no Rio, em agosto de 2019: em ofício encaminhado ao Ministério da Economia, ele disse à época que o aperto orçamentário poderia inviabilizar ações como operações da PF Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo - 26/08/2019
Em 'teste de popularidade', o presidente Jair Bolsonaro levou time de ministros, entre eles Sergio Moro, à tribuna do Maracanã, para a final da Copa América Foto: Carl de Souza / AFP - 07/07/2019
O ministro da Justiça, Sergio Moro, participa de audiência conjunta entre quatro comissões, na Câmara dos Deputados, sobre as supostas mensagens trocadas com o coordenador da Operação Lava-Jato, o procurador Deltan Dallagnol Foto: Jorge William / Agência O Globo - 02/07/2019
Boneco inflável do Super-Moro é visto durante manifestação de apoio ao governo, em Brasília, em junho do ano passado. Pesquisa realizada em dezembro de 2019 mostrava que 53% da população avalia como ótima/boa a gestão do ex-juiz no ministério, enquanto outros 23% a consideram regular, e 21%, ruim/péssima. Já Bolsonaro tinha 30% de ótimo/bom, 32% de regular e 36% de ruim/péssimo Foto: Evaristo Sa / AFP - 30/06/2019
Sergio Moro em audiência na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde afirmou não ter mais registro das mensagens com Dallagnol em seu celular Foto: Jorge William / Agência O Globo - 19/06/2019
Bolsonaro e Moro assistem juntos a partida de futebol entre Flamengo e CSA, no estádio Mané Garrincha, em Brasília, após a divulgação pelo site The Intercept Brasil de diálogos entre o Moro e o procurador Deltan Dallagnol Foto: Jorge William / Agência O Globo - 12/06/2019
Durante cerimônia do 154º aniversário da Batalha Naval do Riachuelo, em Brasília, Bolsonaro e Moro andam lado a lado. Este foi o primeiro encontro após vazamento dos diálogos entre Moro e Dallagnol Foto: Jorge William / Agência O Globo - 11/06/2019
Moro participa ao lado de Bolsonaro da assinatura do decreto que flexibilizou o porte e a posse de armas. O ministro disse, no entanto, que o decreto não faz parte de uma política de segurança Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo - 07/05/2019
Sergio Moro entrega o projeto do pacote anticrime a Rodrigo Maia, na Câmara Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo - 19/02/2019
Moro discute com parlamentares pontos do pacote anticrime, que muda artigos do Código Penal e endurece leis de combate ao crime organizado Foto: Jorge William / Agência O Globo - 06/02/2019
Moro em um dos primeiros compromissos como ministro da Justiça: participação no Fórum de Davos, onde negou que o governo Bolsonaro faça populismo sobre corrupção e defendeu um pacto empresarial no Brasil contra subornos Foto: FABRICE COFFRINI / AFP - 22/01/2019
Em entrevista coletiva, Moro anuncia que decidiu deixar a magistratura após 22 anos de carreira e assumir o cargo de ministro da Justiça de Jair Bolsonaro Foto: Geraldo Bubniak / Agência O Globo - 06/11/2018
Moro durante viagem ao Rio para se encontrar com Bolsonaro e acertar o convite para ser ministro Foto: Foto de leitor - 01/11/2018

 

Dia 6 : A Advocacia-Geral da União (AGU) pede ao ministro do STF Celso de Mello que reveja a decisão de determinar ao governo a entrega do vídeo de uma reunião citada em depoimento pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro. No pedido encaminhado ao STF, o advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Junior, argumentou que, na reunião, “foram tratados assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado, inclusive de relações exteriores, entre outros”.

Dia 07 : A AGU solicitou a Celso de Mello permissão para entregar somente trechos do vídeo , mas o ministro não respondeu ao pedido.

Dia 08 : Em seu terceiro ofício, a AGU pediu a Celso de Mello que não permita a divulgação do conteúdo integral do vídeo . Na manifestação, a AGU pede ao ministro que seja definida previamente a "cadeia de custódia" do vídeo após sua entrega — ou seja, o órgão quer saber por quais setores e servidores públicos o material passará até sua análise, para evitar vazamentos. A AGU também solicita a Celso que recomenda à PF "realizar a segregação dos elementos que sejam pertinentes daqueles que não sejam pertinentes ao Inquérito em epígrafe para o fim de juntada definitiva dos primeiros aos autos".