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Política Eleições 2020

Votação de impeachment de Crivella seguiu lógica de alianças eleitorais

Vereadores que estão próximos da chapa de Eduardo Paes (DEM) saíram da base de apoio do prefeito, deixando placar apertado. Carlos Bolsonaro votou contra investigação
Votação do processo de impeachment do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), na Câmara Municipal: placar apertado deu vitória ao prefeito Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Votação do processo de impeachment do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), na Câmara Municipal: placar apertado deu vitória ao prefeito Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

RIO - Faltando cerca de dois meses para as eleições municipais, a votação do pedido de impeachment do prefeito do Rio Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, seguiu a lógica de alianças montadas para o pleito de novembro. O pedido, que surgiu após uma reportagem da TV Globo revelar a existência dos “Guardiões do Crivella” - grupo de assessores do prefeito montado para constranger jornalistas e pacientes na porta de hospitais -, foi rejeitado pela Câmara de Vereadores por 25 votos a 23.

O placar desta quinta-feira foi o mais apertado a favor de Crivella, que já foi alvo de outros três pedidos de impeachment em anos anteriores. Em outros casos, a base de apoio do prefeito havia reunido pelo menos 30 dos 51 vereadores.

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Além do presidente da Câmara, Jorge Felippe (DEM), que se declarou impedido por estar na linha sucessória de Crivella, os vereadores Thiago K. Ribeiro (DEM) e Junior da Lucinha (PL) se abstiveram de votar. Ribeiro era da base aliada de Crivella na Câmara dos Vereadores, mas rompeu com o prefeito após ter ajudado a barrar um pedido de impeachment em junho de 2019, e trocou o MDB pelo DEM, partido do ex-prefeito e candidato Eduardo Paes. Ele chegou a fazer uso da palavra nesta quinta, mas decidiu não votar argumentando que o processo de impeachment serviria “apenas para dar palanque a outro candidato”, já que dificilmente seria concluído antes da eleição, marcada para 15 de novembro.

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Junior da Lucinha, que defendeu Crivella em todos os pedidos de impeachment anteriores, justificou sua ausência nesta quinta-feira dizendo que passou mal e teve de ir ao médico. Seu partido, o PL, está próximo de uma aliança com Paes e pode indicar o nome do vice na chapa do ex-prefeito. Outro partido de olho na composição da chapa de Paes é o PMN, do vereador Luiz Carlos Ramos Filho, que votou a favor da abertura do processo de impeachment contra Crivella nesta quinta-feira.

Ramos Filho havia defendido o prefeito em todas as outras votações: nos dois pedidos de impeachment em 2018, por conta do episódio conhecido como “Fala com a Márcia”, revelado pelo GLOBO , e na votação em junho de 2019, em denúncia feita por um servidor municipal por suposto crime de responsabilidade cometido por Crivella na renovação de contratos da prefeitura. Relator deste último pedido, no ano passado, Ramos Filho emitiu parecer contrário ao prosseguimento do processo.

No início desta semana, seu pai, o ex-deputado Luiz Carlos Ramos “do Chapéu”, foi nomeado por Crivella como subsecretário de Habitação, em um movimento para afastar a família do arco de alianças de Paes. A nomeação, no entanto, não foi combinada com o ex-deputado, que sequer tomou posse.

-- Essa é uma situação muito diferente do impeachment anterior, do mobiliário urbano. Neste caso de agora eu entendi que a denúncia era mais complexa e deveria ser apurada. Sempre fui um vereador independente, voto com a minha consciência - argumentou Ramos Filho.

O vereador Carlos Bolsonaro (à direita) durante visita do presidente Jair Bolsonaro (de pé, discursando) a uma inauguração do prefeito Marcelo Crivella (ao centro, de máscara azul) Foto: Marcos Correa / Presidência da República
O vereador Carlos Bolsonaro (à direita) durante visita do presidente Jair Bolsonaro (de pé, discursando) a uma inauguração do prefeito Marcelo Crivella (ao centro, de máscara azul) Foto: Marcos Correa / Presidência da República

Defesa de Carlos Bolsonaro

Outro vereador que teve posicionamento diferente dos anteriores foi Paulo Messina (MDB), pré-candidato à prefeitura. Messina, que foi chefe da Casa Civil de Crivella, rompeu com o prefeito em meados de 2019, após o último pedido de impeachment, e tornou-se crítico ferrenho da atual gestão.

Embora tenha encolhido, a base de apoio de Crivella também teve reforços. Um deles foi o vereador Carlos Bolsonaro, hoje no Republicanos, partido do prefeito. Carlos, que se absteve nas duas votações de pedidos de impeachment em 2018 e chegou a votar a favor da abertura do processo em 2019 - posteriormente, o prefeito foi absolvido -, desta vez se manifestou de forma contrária às investigações por parte da Câmara Municipal.

Crivella tem buscado, desde o ano passado, uma aproximação do presidente Jair Bolsonaro, de quem tem recebido apoio velado antes das eleições deste ano. Nas suas redes sociais, Carlos justificou o voto favorável ao prefeito afirmando que a eventual abertura de processo de impeachment "de nada serve temporalmente e efetivamente" por conta da proximidade às eleições municipais.

"O momento é 'perfeito' e o 'xadrez' está posto perfeitamente na linha política temporal: desgaste calculado! Que a justiça seja feita sem que a politicagem arrebente mais ainda o Rio. Diante do exposto, decidamos nas urnas e aguardemos a justiça", escreveu o vereador.