Nascida em Beirute, no Líbano, mas sem a nacionalidade libanesa, Maha Mamo veio para o Brasil como refugiada. Aqui, iniciou uma luta para que a imigração reconhecesse os sem pátria como ela. Conseguiu seu objetivo em 2017, quando a Lei de Imigração foi mudada. Em 2018, ela finalmente se tornou brasileira. Desde então, vem inspirando outras pessoas em diversos países a lutarem pelo direito à cidadania. São quatro milhões de apátridas ao redor do mundo, e esse número pode ser maior devido à subnotificação.
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Por essa jornada, Maha foi premiada com o Faz Diferença 2023 na categoria Mundo, na noite desta quarta-feira. Atualmente nos Estados Unidos, Maha não pôde comparecer à cerimônia, na Casa Firjan, no Rio, mas enviou um vídeo, que foi exibido aos convidados.
"Esse prêmio não é só meu, é de cada refugiado, apátrida e imigrante em situação de vulnerabilidade. Cada pessoa afetada pela discriminação, por guerra, por catástrofes naturais. A minha luta segue mais forte, há muito mais trabalho a ser feito e esse é só o começo. Agradeço muito o reconhecimento e o apoio de todos. O apoio da minha família, dos meus amigos, das pessoas que trabalham comigo, dos meus parceiros e a cada um de vocês. Vocês fazem a diferença. Muito obrigada!", afirmou ela.
Os pais de Maha fugiram da Síria para ficarem juntos, já que o país não permite o casamento interreligioso — a mãe é muçulmana e o pai, cristão — e estabeleceram-se no Líbano. Embora os filhos tenham nascido em território libanês, não puderam ser registrados como libaneses, uma vez que o país apenas permite que o pai transmita a sua nacionalidade. E também não poderiam ser sírios, já que o Estado não reconhece os filhos de casamentos interreligiosos.
Antes mesmo de entender sua condição, Maha Mamo já sentia na pele as consequências de ser apátrida. Aos 3 anos, foi barrada em diversas escolas até conseguir se matricular em uma. E foi assim nos 27 anos seguintes: sem uma nacionalidade, direitos básicos e coisas simples eram quase sempre negados ou demandavam um esforço tremendo. Foram 30 anos sob a invisibilidade até sua história inspirar uma mudança histórica na legislação brasileira e a formulação de políticas públicas em mais de 20 países.
O Prêmio Faz Diferença é uma realização do jornal O GLOBO, com patrocínio da Firjan SESI e apoio da Naturgy.