Após quebrar fêmur, filho de ex-namorada de Jairinho não queria andar no carro do vereador, mostra laudo médico
De acordo com investigações da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav), repulsa indica que menino de 3 anos passou por 'sofrimento psíquico no interior do veículo, além do trauma físico'
Paolla Serra
01/06/2021 - 14:48
/ Atualizado em 01/06/2021 - 15:20
Laudos mostram que menino, na época com 3 anos, não queria ficar em carro com Jairinho Foto: Reprodução
RIO — Um laudo elaborado por profissionais do Serviço de Psicologia do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mostra que o filho de 3 anos de Débora de Mello Saraiva afirmava, em 15 de março de 2015, não querer andar no carro do namorado da mãe, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o
Dr. Jairinho
(sem partido). Na ocasião, a estudante deixou que ele levasse o menino a uma reunião numa casa de festas e, cerca de 15 minutos depois, ele a contatou informando que a
criança havia torcido o joelho ao sair do veículo
. O parlamentar, que está preso preventivamente pela morte do enteado,
Henry Borel
, foi novamente indiciado por tortura nesse inquérito. Ele já é réu em um processo pelo mesmo crime contra a filha de outra ex-namorada.
De acordo com o delegado Adriano França, titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav), no entanto, “todos os elementos colhidos nos autos apontam para a ação direta” de Jairinho na lesão: “resta demonstrado, de forma inequívoca, que a fratura não ocorreu de forma voluntária, sendo provocada pelo investigado, ao submeter o menor, sob sua guarda e cuidado, a situação de extremo estresse emocional e violência física, que o levou, inclusive, a vomitar, conforme já relatado, restando cabalmente demonstrada ainda, a relação de causa e consequência”, destaca no relatório final de investigação ao qual O GLOBO teve acesso.
O prontuário médico do menino aponta que ele vomitou e por isso quis descer do carro. A mesma reação foi descrita por familiares das duas outras crianças que teriam sido vítimas de sessões de violência de Jairinho. “Paciente interage bem durante o atendimento. Chora um pouco ao dizer que quer ir para casa. Fala que não quer andar no carro em que se acidentou”, destaca o laudo. Para a Polícia Civil, o comportamento caracteriza a “repulsa indicativa de ter passado por sofrimento psíquico no interior do veículo, além do trauma físico”.
Laudo do Instituto Médico- Legal (IML) constatou muitas lesões espalhadas pelo corpo do menino, infiltrações hemorrágicas nas partes frontal, lateral e posterior da cabeça, contusões no rim, no pulmão e no fígado. A mãe afirmou acreditar que ele tenha caído da cama e batido a cabeça Foto: Reprodução / Instagram
Coletiva sobre a conclusão do inquérito sobre a morte do menino Henry Borel. Da esquerda para a direita estão:
Marcos Kac (promotor do caso), o delegado Antenor Lopes (diretor da DGPC), Henrique Damasceno (delegado titular da 16ª DP), Denise Rivera (perita criminal) e Ana Paula Medeiros (delegada-adjunta da16ª DP) Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
O delegado titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), Henrique Damasceno, deu uma entrevista coletiva sobre a conclusão do inquérito que apurou a morte de Henry. "A única pessoa calada foi o Henry. Ele pediu ajuda e não foi ajudado", disse o investigador Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Henry, exibe a tatuagem feita para esconder uma homenagem ao ex-marido nas redes sociais. O desenho foi feito no dia em que Monique pediu que Jairinho "pagasse suas coisas" para não prejudicá-lo Foto: Reprodução
Os avós de Henry com o menino ainda bebê. 'Me sinto muito culpada', disse mãe do menino ao pai uma semana após morte. Conversa com o avô da criança faz parte do conteúdo recuperado pela polícia no celular de Monique: 'Tudo foram escolhas minhas', disse ela em outro trecho Foto: Reprodução
Henry em sua última festa de aniversário: pai compartilhou foto nas redes sociais no dia em que o menino faria 5 anos Foto: Arquivo pessoal
Monique revela 'humilhações e agressões' em carta sobre a relação com Jairinho. Carta foi escrita na última sexta-feira (23), no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde recebe tratamento contra a Covid-19. A professora descreve uma rotina de violências, humilhações e crises de ciúmes do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido) Foto: Reprodução
Dr. Jairinho e Monique Medeiros, em fotos feitas no ingresso do casal no sistema penitenciário Foto: Reprodução / Agência O Globo
Vereador Dr. Jairinho, preso, ao lado de diretor de presídio. Na imagem ele come um sanduíche que o diretor entregou para ele Foto: Reprodução
O advogado André Françao, que representava Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, Barreto renunciou à defesa do vereador no caso Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Doutor Jairinho durante discurso na Câmara de vereadores, onde os sete membros do Conselho de Ética da Câmara dos Vereadores decidiram, por unanimidade, abrir o processo de cassação do mandato do vereador Foto: Renan Olaz / Agência O Globo
Dr. Jairinho foi preso junto com Monique, mãe do menino Henry, por tentar interferir na investigação do caso. Segundo a polícia, o casal será indiciado por tortura e homicídio duplamente qualificado, além de poder perder o mandato na Câmara dos Vereadores do Rio Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Hnery cumpre prisão preventiva e será indiciada por tortura e homicídio duplamente qualificado Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Peritos chegam ao edifício Majestic para fazer a reconstituição da morte do menino Henry Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Câmera encontrada por policiais da 16ª DP (Barra da Tijuca) no quarto de Henry. Anotação recuperada em celular de Monique Medeiros da Costa e Silva expõe sua vontade de instalação do equipamento dentro de imóvel no Majestic Foto: Reprodução
Edifício Majestic, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde o menino Henry vivia com a mãe e o padrasto Foto: Reprodução / TV Globo
Henry no colo da mãe enquanto Dr. Jairinho faz um carinho nele Foto: Reprodução
A mãe de Henry, Monique Medeiros, e o padrasto, o vereador Dr. Jairinho, chegam à 16ª DP (Barra) para ser ouvidos como testemunhas Foto: Reprodução / TV Globo / Agência O Globo
Polícia cumpre mandado na casa da família de Monique, em Bangu, Zona Oeste do Rio Foto: Fabiano Rocha em 26/03/2021 / Agência O Globo
Leniel Borel de Almeida em entrevista ao Fantástico: 'Acordo de manhã chorando. Tem que ter muita força, cara. E o que eu sei é que esse menino não pode ter morrido em vão' Foto: Reprodução / TV Globo
Dr. Jairinho na Câmara dos Vereadores do Rio. Ele era padrasto de Henry Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo - 23/05/2019
Henry Borel Medeiros tinha 4 anos quando morreu na madrugada do dia 8 de março em condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde morava com a mãe e o padrasto. A causa da morte, segundo laudo do IML, foi "hemorragia interna causada pelo rompimento do fígado" Foto: Reprodução / Instagram
O pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, que é separado da mãe do menino, tem publicado fotos e mensagens para o menino. Ela diz ainda esperar respostas Foto: Reprodução / Instagram
Em trocas de mensagens entre o pai e a mãe, Monique Medeiros, foi revelado que Henry não gostava de voltar para a casa, onde vivia com Monique Medeiros e o padrastro, o vereador Dr. Jairinho Foto: Reprodução / Instagram
Monique com o filho Henry Foto: Reprodução TV Globo
Ainda segundo as investigações, médicos do Lourenço Jorge afirmaram que o menino apresentava hematomas nas bochechas e assaduras nos glúteos no momento do atendimento. Ele precisou ficar com a barriga e as duas pernas engessadas por dois meses. Pelo menos mais um episódio de agressão do vereador contra a criança foi identificado. Como ele e a então namorada alegaram na unidade de saúde que havia ocorrido um “acidente automobilístico”, eles foram indiciados também por falsidade ideológica. Por não cumprir o dever legal de cuidar do filho como agente garantidora, apurar “as ocorrências de sua inteira ciência”, Débora responderá também por tortura na modalidade omissiva.
Procurado pelo GLOBO, o advogado Braz Santana, que defende Jairinho, informou que a versão apresentada nos depoimentos de Débora é “bastante inverossímil” e lhe “causa estranheza o silêncio de uma década”. Já a estudante não foi localizada.