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'Gabriel Monteiro orientou criança a falar que seu pai era alcoólatra', diz ex-assessor do parlamentar sobre vídeo publicado nas redes sociais

De acordo com relatos de ex-membros da equipe do vereador, publicações eram forjadas
O vereador Gabriel Monteiro costuma publicar vídeos em suas redes sociais com relatos de pessoas, incluindo crianças Foto: Hermes de Paula / Arquivo / Agência O Globo
O vereador Gabriel Monteiro costuma publicar vídeos em suas redes sociais com relatos de pessoas, incluindo crianças Foto: Hermes de Paula / Arquivo / Agência O Globo

RIO — De acordo com ex-assessores, o vereador do Rio, ex-policial e youtuber Gabriel Luiz Monteiro de Oliveira (sem partido) publicou "vídeos forjados” em suas redes sociais. Entre essas gravações, estão alguns em que aparecem diversas crianças, que ele “entrevista” e publica em suas redes sociais com certa frequência. Neste domingo, o "Fantástico", da TV Globo, mostrou imagens em que o parlamentar instrui uma criança a falar que estava com fome .

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Nas imagens que foram ao ar, numa publicação no perfil de Monteiro, a menina diz: “Eu pensei que hoje eu ficaria sem comida. Mas estou comendo o que mais gosto”. Nas imagens brutas, o vereador induz a criança a dizer tais frases: “Fala assim: tio, hoje eu ia ficar mais um dia sem comer. Mas hoje estou aqui comendo o que mais gosto”.

E logo em seguida a menina repete o que Monteiro pediu.

— Ele ainda pediu para que a criança dissesse que o pai dela era alcoólatra. Era comum ele fazer isso — disse um ex-assessor do político que trabalhou à época com o material e que não quis se identificar.

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Outro ex-assessor, Heitor Monteiro Lobby, de 21 anos, que integrou a equipe do vereador por quase um ano, acusa Gabriel Monteiro de instruir "a equipe a piorar a narrativa" sobre a situação das crianças:

— A equipe ia na frente para fazer a busca do perfil de crianças que ele queria e pedia: negras, carentes e com uma história triste. A partir daí, ele instruía a gente a piorar a narrativa. A gente instruía e induzia a criança a contar certo tipo de coisa que ela não estava passando naquele momento. Às vezes, a gente pegava uma criança que estava sentada no sinal, só acompanhando a mãe, e dizia pra ela contar que estava ali trabalhando para ajudar os pais. Mas ela não estava trabalhando, apenas acompanhando a mãe — conta Heitor.

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Ao Fantástico, Ariel de Castro Alves, advogado, especialista em direitos humanos, membro do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente afirmou que Gabriel Monteiro cometeu várias violações contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

— Nós temos ali várias violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente e à Constituição Federal. Desrespeito aos direitos, ao respeito à imagem e à dignidade da criança — afirmou o conselheiro.

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Neste domingo, após a reportagem, Monteiro publicou um vídeo editado com uma mulher identificada como a mãe da menina mostrada na gravação:

— O que a minha filha falou não era nada mentira. No dia que ele chegou e abordou a minha filha, era quase cinco e pouca da tarde (sic) e eu e a minha filha não tinha almoçado (sic). Eu quase desmaiei. As pessoas criticam, mas não sabem o que passamos — disse a mulher.

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O GLOBO procurou a Promotoria da Infância de Juventude e a Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) pedindo um posicionamento com relação às denúncias da reportagem. Nenhum dos órgãos respondeu até a publicação deste texto. Gabriel Monteiro foi procurado e não atendeu nem retornou as ligações. Seu gabinete ainda não respondeu ao e-mail com o pedido de resposta.