RIO — Depois de a produtora Porta dos Fundos ser alvo de coquetéis molotovs nesta terça-feira, Fábio Porchat afirmou em entrevista ao GLOBO nesta quarta-feira (25) que o atentado teve motivação homofóbica. Para ele, "a homofobia é nítida", uma vez que o ataque ocorreu após o Porta dos Fundos retratar Jesus Cristo como gay no "Especial de Natal Porta dos Fundos: A primeira tentação de cristo" , no ar na Netflix desde 3 de dezembro.
— Penso que o ódio pelo Especial de Natal diz muito mais sobre quem o repudia do que sobre nós. A homofobia é nítida nesse caso. Para nós, do Porta dos Fundos, ser gay é uma característica como qualquer outra. A pessoa pode ser alta, baixa, branca, negra, gay, hétero. Para os homofóbicos, ser gay é xingamento. Aí é que mora o preconceito — disse o ator.
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Para Porchat, é importante que a polícia identifique e puna os criminosos o mais rapidamente possível:
— Esse tipo de intolerância tem se mostrado cada vez mais comum. Se não identificarmos esses terroristas, isso pode soar como um aval para que mais atentados sejam encorajados a acontecer. O país e o estado precisam mostrar que não aceitamos ataques violentos de qualquer espécie contra quem quer que seja. Contra o presidente, contra o Porta dos Fundos ou contra você — disse.
Mais cedo, o ator há havia utilizado uma rede social para se pronunciar sobre o atentado:
"Não vão nos calar. Nunca! É preciso estar atento e forte."
De acordo com a assessoria de imprensa do grupo, dois coquetéis-molotov foram lançados contra a fachada do imóvel. O ataque aconteceu às 4 horas da manhã e o caso foi registrado como crime de explosão na 10ª DP (Botafogo).
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O fogo foi contido, segundo a assessoria, por um segurança que estava no prédio. Apenas o quintal e a recepção sofreram danos materiais com o ato. Personalidades como o escritor Paulo Coelho, a cantora Clarice Falcão e o ator João Vicente de Castro, sócio da produtora, comentaram o episódio em suas redes sociais.
RELIGIOSO REPUDIA ATAQUE
O ataque à sede da produtora do Porta dos Fundos foi repudiado pelo bispo-auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Antonio Augusto Dias Duarte. Para o representante da Igreja Católica, independentemente de posições favoráveis ou desfavoráveis, o que está por cima de tudo é o valor que Jesus dá a cada pessoa.
— É preciso deixar bem claro que Jesus Cristo não veio promover os ataques e a violência entre pessoas, mas sim a paz e a harmonia. Se Jesus é representado como bêbado ou como gay, isso não pode, de jeito nenhum, ocultar a verdadeira identidade de Jesus, um Deus que vem para o mundo com uma única finalidade, resgatar o homem para o bem. Seja um ataque com bombas, seja uma postura homofóbica, seja uma caricatura de Jesus Cristo, o que está por cima de tudo isso é o valor que Jesus dá a cada pessoa, independentemente de suas posições favoráveis ou desfavoráveis a ele — diz o bispo.
Grupos religiosos, no entanto, estão em campanha contra o Especial de Natal Porta dos Fundos, no qual Jesus (Gregorio Duvivier) é surpreendido com uma festa de aniversário quando voltava do deserto acompanhado do namorado, Orlando (Fabio Porchat).
Além de evangélicos e católicos, também se manifestaram contra o vídeo representantes de outros movimentos de inspiração cristã, espíritas, humanistas, a OAB estadual no Maranhão, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o Instituto Brasileiro de Direito e Religião e até mesmo a Federação Islâmica Brasileira (Fambras).
A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em nota, afirmou que o vídeo "agride profundamente a fé cristã".
"Ridicularizar a crença de um grupo, seja ele qual for, além de constituir ilícito previsto na legislação penal, significa desrespeitar todas as pessoas, ferindo a busca por uma sociedade efetivamente democrática, que valoriza todos os seus cidadãos", diz um trecho da nota.