Rio

Além da polêmica com a Mocidade, justificativas do carnaval geram outras reclamações

Um dos jurados afirmou que estava rezando para que tivesse tomado uma decisão considerada justa pela Liesa

Carro acidentado da Tijuca: em vez de desabamento de estrutura, jurado acreditou que alegoria tinha pego fogo
Foto: Agência O Globo/Movinfocopress
Carro acidentado da Tijuca: em vez de desabamento de estrutura, jurado acreditou que alegoria tinha pego fogo Foto: Agência O Globo/Movinfocopress

RIO - Embora o debate sobre o 9,9 em enredo dado por Valmir Aleixo à Mocidade Independente seja o mais polêmico , a divulgação das justificativas das notas dos jurados do carnaval 2017 desatou outras reclamações, de torcedores de várias escolas. Teve julgador que viu fogo em alegoria da Tijuca, da qual, na verdade, parte da estrutura despencou e deixou 12 feridos. Uma das juradas de evolução resolveu tirar pontos de fantasias. E os vocábulos indígenas e africanos custaram décimos preciosos em samba-enredo à Beija-Flor e à União da Ilha.

Depois da controvérsia em relação à Mocidade, no entanto, foi mesmo a justificativa de Luiz Antonio Silva de Araujo, do quesito enredo, para o 9,8 dado por ele à Unidos da Tijuca a que gerou mais burburinho nas redes sociais. Ele escreveu que um carro da azul e amarelo teria pegado fogo. E, para concluir seu texto, disse que rezaria para ter tomado uma decisão que pudesse ser considerada justa pela Liesa.

“O desfile da escola sofreu absoluta desarrumação de sua narrativa, decorrente de acidente com fogo em uma alegoria. (...) O desarranjo foi de tal ordem que tornou difícil listar todos os setores prejudicados. (...) O julgador toma a decisão de limitar a penalização em 2 décimos, que sugere respeito à escola que briosa terminou o desfile. (...) Considerando já um pouco de cansaço e da responsabilidade do julgador diante desse acidente, o mesmo estará rezando por ter encontrado uma solução que possa ser acatada, como justa, pelo conjunto da Liesa”, escreve Luiz Antonio.

Já a jurada Edileuza Aleluia julgou que o visual de algumas escolas prejudicou a evolução delas — quesito que ela teria de avaliar. Para justificar o 9,8 dado à Vila Isabel, ela escreveu que “faltou mais capricho em alguns acabamentos, causando um desconforto visual”. Já para o 9,7 ao Tuiuti, disse que havia “fantasias aquém dos desenhos propostos, causando dificuldade de entendimento”. Enquanto isso, para a Unidos da Tijuca, que teve sérios problemas de evolução devido ao acidente com seu carro alegórico, ela deu 9,9, e escreveu que “as alas 2, 3 e 4 permaneceram tempo demais paradas”.

No mesmo quesito, evolução, Edilberto Fonseca questionou que escolas como Tuiuti e Vila aproveitaram pouco o potencial coreográfico de seus enredos. Enquanto isso, em comissão de frente, Paulo César Morato tirou décimos de várias escolas justificando que as apresentações não empolgaram o público. Uma delas, segundo a avaliação dele, seria a comissão da Grande Rio, que trouxe a cantora Ivete Sangalo como uma das integrantes.

“A apresentação não ganha força e profundidade, não seduzindo o público como em anos anteriores”, afirma ele, que conferiu nota 9,9 à agremiação de Duque de Caxias.

Em samba-enredo, a celeuma é sobre os termos em outras línguas e dialetos usados por Beija-Flor e União da Ilha. A tricolor insulana recebeu 9,8 de Clayton Oliveira, entre outros motivos, porque o “uso descritivo de termos com origem no tema torna difícil a dicção e o canto”. A mesma nota foi dada por Felipe Trota, que argumentou que “apesar da melodia simples, o excesso de vocábulos de difícil entoação resultou em um samba com pouco potencial para canto”. A escola levou para a avenida a concepção de tempo na cultura banto, da África.

Já a Beija-Flor, que cantou o romance “Iracema”, de José de Alencar, perdeu ponto pelo uso de palavras indígenas. A jurada Alice Serrano deu 9,9, e foi detalhista.

“Um samba lindo com passagens líricas e emocionantes. Mas em relação à letra, que apresentou muita qualidade poética, vejo como um excesso a quantidade de palavras em tupi-guarani que prejudicaram a compreensão em algumas partes. Após pesquisas em vários dicionários disponíveis (não logrando êxito em esclarecer alguns termos) foi possível constatar que elas estão adequadas à letra, que por sua vez narra com propriedade o enredo. Mas e o público?”, escreveu ela em trecho de sua justificativa.