Com diversos condomínios de grande porte em construção, diferentes pontos de Vargem Grande registram o movimento típico das obras de magnitude — e colecionam moradores indignados com o que classificam de descaso das construtoras. As queixas vão desde materiais espalhados pelas ruas até a descaracterização do bairro, passando por buracos nas vias, destruição de calçadas, trânsito caótico, marcado pelo vaivém de tratores e caminhões, e impacto ambiental.
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O principal alvo das reclamações é o empreendimento Vitale Eco, que está sendo erguido no número 860 da Estrada do Sacarrão pela Vitale Construtora e Incorporadora. O condomínio abrigará 406 unidades, entre casas duplex e apartamentos de dois quartos, distribuídos em 11 blocos. Parte do imóvel fará parte do programa Minha Casa, Minha Vida. Segundo moradores, a construção vem promovendo o caos na via.
Moradores reclamam de transtornos causados por grandes obras em Vargem Grande
Dono do restaurante Check in na Mata, no número 854-B da via, Luiz Cláudio Mendes diz que viu seu movimento cair 50%.
— Quebraram a estrada inteira. Ela virou um grande canteiro de obras, com tudo feito de forma desordenada. Eles abrem e fecham buracos no mesmo lugar várias vezes. Espalharam manilhas na frente das casas sem pedir permissão aos moradores. Eu fui um dos prejudicados. Colocaram esses materiais robustos na saída do estacionamento da minha loja. Entupiram um sistema de esgoto, e eu fiquei mais de cinco dias recebendo rejeitos no restaurante. Estouraram uma tubulação, e os moradores ficaram mais de 24 horas com uma quantidade enorme de água chegando às residências. Fora o volume de poeira, o lamaçal quando chove e a buraqueira. Qual cliente vai querer enfrentar tudo isso? — reclama. — Não estão se preocupando com o transtorno para os moradores.
Também reclamam de problemas causados pelas obras os vizinhos dos condomínios Reserva Atlântica, em construção pela Direcional Engenharia S/A na Estrada dos Bandeirantes 27.508; Novolar Vargem Grande e Novolar Reserva Pontal, ambos da construtora Novolar, localizados nos números 29.800 e 29.900 da mesma via; e um empreendimento erguido pela My Engenharia, que terá cerca de 2.600 metros quadrados de área construída e será composto por 29 casas, na Estrada do Sacarrão 891.
De acordo com os moradores, todas as obras estão invadindo áreas verdes, com supressão de vegetação e impacto na fauna local, que inclui araras, tucanos e ouriços.
— Estou observando uma descaracterização total da área. Aqui é uma região originalmente de sítios e casas pequenas. Agora, estão construindo condomínios grandes, para muitos moradores, dentro de uma Área de Preservação Ambiental. Não podemos esquecer que Vargem Grande faz parte da zona de amortecimento do Parque Estadual da Pedra Branca, e os condomínios estão sendo erguidos em área de mata. São cicatrizes enormes. Você olha e fica estupefato — lamenta o servidor público estadual Domingo Cundines, que mora há 12 anos no bairro.
Moradora do bairro há sete anos, Fernanda Ribeiro, de 63, costumava se locomover de bicicleta, mas diz que resolveu “aposentar” o meio de transporte devido às obras no bairro.
— Hoje em dia, tenho medo de ser atropelada por uma retroescavadeira. Já dei de cara com uma empilhadeira na Estrada dos Bandeirantes e caí — relata. — O cenário bucólico, que converge com a natureza, simplesmente está acabando.
A construtora Novolar afirma que, durante o período de construção, faz obras de melhorias no entorno dos seus empreendimentos em benefício da população local, podendo, para isso, estocar, de forma temporária, materiais em vias públicas. Dentro dos projetos do bairro, destaca, constam obras em ruas e ampliação da rede de esgoto em trechos das estradas dos Bandeirantes e do Pontal e da Avenida das Américas, com investimento de cerca de R$ 2 milhões. Destaca ainda que os condomínios e as intervenções ao redor têm todos os licenciamentos necessários.
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A Direcional Engenharia também informa que têm todas as licenças para o Reserva Atlântica. Informa que o empreendimento ocupa uma área total de 88 mil metros quadrados, dos quais 77% foram mantidos como área de preservação. Acrescenta que fez obra de terraplanagem, plantio de grama e calçada, com autorização das autoridades municipais e cuidado para não gerar transtornos nas cercanias.
A Vitale diz que, mesmo que sejam tomadas medidas de mitigação, obras podem causar transtornos temporários, mas que os benefícios serão permanentes. A empresa afirma que a Estrada do Sacarrão era desprovida de infraestrutura e que, por isso, fez melhorias na via, como rede de abastecimento e de drenagem, meio-fio, calçada e asfalto. Destaca que as obras estão bem sinalizadas e que, em dias secos, disponibiliza caminhão-pipa para limpeza urbana. Em relação aos materiais, garante que estão dispostos de modo que não atrapalhe a circulação de pedestres e veículos. Sobre o trânsito caótico, informa que há agentes que auxiliam na manutenção do fluxo. Ressalta, por fim, que dispõe de todas as licenças necessárias junto aos órgãos responsáveis.
A My Engenharia afirma que o material disposto em frente ao seu empreendimento não pertence à empresa, mas à outra obra. Destaca ainda que dispõe de todas as licenças necessárias para a construção do condomínio.
A Secretaria municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, por sua vez, informa que todas as obras citadas têm as devidas licenças urbanística e ambiental, com previsão de compensação ambiental que inclui transplante de árvores, quando elas são removidas de um local e replantadas em outro, e plantio de mudas. A Secretaria de Meio Ambiente e Clima diz que irá averiguar o cumprimento das condicionantes feitas aos empreendimentos. Sobre as queixas de desordem das obras, a Secretaria municipal de Conservação diz que mandará uma equipe aos endereços citados a fim de fazer vistoria e tomar providências.