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Por — Rio de Janeiro

Uma celebração da fé, mas também da cultura, da gastronomia e de tradições ancestrais. Eis o significado do Dia de São Jorge — associado a Ogum, nas religiões de matriz africana — nos quilombos da região. Redutos de resistência e exaltação do patrimônio afrodescendente, esses locais sediarão eventos regados a diversão, religiosidade e sabores em comemoração à data, festejada na terça-feira (23).

Quilombo Aquilah

Integrante do guia Zungu, que indica referências na gastronomia preta no município, o Ponto de Cultura Quilombo Aquilah, na Rua Godofredo Viana 64, no Tanque, terá como destaque a feijoada quilombola, que será servida do meio-dia e meia às 14h, gratuitamente. No preparo, ingredientes como feijão-preto, carnes de porco e de boi, torresmo e couve. Já a opção vegana é feita com feijão-vermelho e legumes, como batata-doce, inhame, batata-inglesa, cenoura, maxixe e jiló. As vagas para degustar o prato, feito no fogão a lenha, são limitadas. Interessados devem entrar em contato pelo WhatsApp (21) 99881-7308.

— Servimos com aquela couvezinha maravilhosa feita no azeite; vai a laranja, para ajudar na digestão, e ainda tem a tradicional batidinha de limão, num copo mineiro de cerca de 100ml. A opção vegana é tão boa quanto a tradicional, porque é muito bem temperada — garante Hosania Nascimento, coordenadora do local e uma das responsáveis pela cozinha. — Gostamos que nossas feijoadas sejam fartas, para que as pessoas comam uma vez e já se sintam satisfeitas. Nossa gastronomia é muito afetiva. Temos um carinho especial por esse prato ancestral. Tudo é envolvido numa aura de afetividade.

Aquilah: a feijoada do Ponto de Cultura é destaque no guia Zungu, de gastronomia preta no município — Foto: Divulgação/Quilombo Aquilah
Aquilah: a feijoada do Ponto de Cultura é destaque no guia Zungu, de gastronomia preta no município — Foto: Divulgação/Quilombo Aquilah

De graça, ainda vai uma sobremesa para adoçar o dia após a feijoada, que é surpresa (geralmente, o Aquilah serve doces de compota, como de abóbora, mamão verde ou cocada mole em seus eventos). Para quem não conseguir degustar as delícias gratuitas, a opção é aproveitar o Boteco do Quilombo, que oferece petiscos como pastéis, acarajé e torresmo, além de cerveja.

Tradição há 15 anos no Aquilah, a celebração conta ainda com uma oficina de atabaque e canto de louvor a São Jorge, às 11h, antes do almoço.

— É uma vivência em que o público vai se sentar e se arriscar a tocar. Às vezes, as pessoas não têm nem familiaridade, mas é um instrumento que envolve muito a sensibilidade. Se ela estiver aguçada, sempre dá certo e você não se decepciona. Depois, vamos entoar os cânticos mais conhecidos para São Jorge e para Ogum, que, no sincretismo, é o orixá guerreiro, que nos conduz na luta diária — explica Hosania. — O diferencial é que temos uma mestre, a Agda Luz, conduzindo a experiência. Houve um tempo em que mulher não podia tocar atabaque, e estamos quebrando esse paradigma.

Aquilah: Sincretismo marca festas em homenagem  ao santo guerreiro nos quilombos da região — Foto: Divulgação
Aquilah: Sincretismo marca festas em homenagem ao santo guerreiro nos quilombos da região — Foto: Divulgação

Às 14h, no terreiro do quilombo, o padre Lucas Carvalho, do Santuário Católico da Escrava Anastácia, em Madureira, vai celebrar uma missa campal, ao som de atabaques e ritmos africanos.

— Lucas é uma padre negro, jovem, carismático e muito ligado às tradições afro-brasileiras, o que se reflete nas suas missas, sempre cantadas e muito lindas — destaca a líder. — Para nós, sejamos católicos, umbandistas ou candomblecistas, São Jorge significa a força que precisamos ter diariamente para lidar com todas as adversidades; a fé que não podemos perder de que há quem nos protege e nos vigia, fazendo com que olhos perversos não nos alcancem quando saímos para ganhar o pão de cada dia.

A programação segue com apresentações artísticas espontâneas, como com mestres de capoeira e de jongo. Quem quiser experimentar será bem-vindo. Às 16h, uma roda de samba com as Pastoras do Aquilah e com o grupo Baianaquilah vão animar o público. Já o encerramento, às 17h30, será embalado pela bateria feminina Aquilah.

— As Pastoras são uma roda de samba feminina do próprio quilombo, que canta clássicos do samba e samba de raiz. Já o Baianaquilah, formado por baianas do acarajé locais, é uma fusão de samba de roda da Bahia e samba do Rio de Janeiro. Em algumas ocasiões, convidamos baianos que gostam de estar presentes para tocar violão e fazer a percussão do prato com a faca, uma característica do samba do Recôncavo Baiano. Isso tem muito a ver com a gente, que, depois que come a feijoada, dá uma lavadinha no prato e faz um som com ele — detalha Hosania.

Quilombo do Camorim

Um dos mais antigos do estado, o Quilombo do Camorim, na Estrada do Camorim 922, datado de 1614, também pretende conquistar o público pelo paladar. Líder da comunidade, Adilson Almeida é quem prepara a feijoada para a celebração a São Jorge, a ser servida do meio-dia às 15h, a R$ 35. Ele promete um tempero marcante e diferenciado, mas mantém a receita guardada a sete chaves.

— Nossa feijoada tem um sabor bem apurado. Nosso segredo é colocar muito amor no preparo. Esse é o melhor tempero. Em todos os eventos, as pessoas saem nos agradecendo e elogiando a comida. Depois, costumam voltar para saboreá-la. O preparo da feijoada é um saber ancestral. Sou bem acostumado a fazer para mais de 600 pessoas. É um aprendizado herdado da minha mãe, que hoje passo para minhas filhas e meus netos, para que não se perca. Desde que me conheço por gente, gostava de observar pessoas cozinhando — relata Almeida.

Quilombo do Camorim: Feijoada será seguida de roda de jongo da qual público poderá participar — Foto: Divulgação
Quilombo do Camorim: Feijoada será seguida de roda de jongo da qual público poderá participar — Foto: Divulgação

A abertura do evento, celebrado desde 2003 no quilombo, será às 11h, com a liderança contando a história do local. Às 15h, uma roda de jongo será aberta pelo mestre Geraldo.

— O mestre Geraldo tem um coletivo do ritmo em Volta Redonda e é o padrinho do jongo no Quilombo do Camorim. Por isso o convidamos. Faremos os cânticos de abertura e, depois, quem quiser pode entrar na roda para jongar. É um jongo participativo, em que todos cantam, batem palma e dançam — explica o dirigente.

Às 16h, será a vez de samba e reggae, com o grupo Batucalacatuca. Às 19h, o evento será encerrado com uma oração a São Jorge ao som de atabaque.

— Esse é um momento de reflexão para todos nós. Na verdade, em toda a festividade, nós nos referimos à divindade como Ogum, orixá guerreiro e protetor que traz a base dos nossos ancestrais; a diáspora africana em sua essência. Independentemente disso, nosso evento é aberto a todas as religiões. Recebemos pessoas de denominações de matriz africana, católicos e até evangélicos de mente mais aberta para a cultura. Todos em comunhão, porque pregamos o respeito — diz Almeida.

Quilombo Cafundá Astrogilda

No Quilombo Cafundá Astrogilda, na Rua Luiz Borracha 722, em Vargem Grande, dentro do Parque Estadual da Pedra Branca, a feijoada de São Jorge será servida de graça, a partir das 13h. A abertura do evento será às 8h, no Altar Astrogilda, no núcleo de mesmo nome, onde haverá um momento de reza e um café da manhã da roça, com itens como bolo, bolinho de chuva e sucos.

— Às 9h, vamos fazer o que estamos chamando de “andar com fé”, para contemplar todas as pessoas que professam uma crença, até a Praça Romualdo dos Santos Mesquita, que tem o nome do meu avô. Ele foi um grande artesão, sabia muita coisa e praticamente fez as casas de todas as pessoas que moram no quilombo. A partir das 10h, na praça, teremos barracas com ervas medicinais, oficinas de tranças, produtos de bazar e feira de artesanato e de arranjo de flores. Encerraremos às 17h, contando a história de moradores do local — diz Cristiano Mesquita, presidente da associação de moradores do quilombo.

São Jorge e Ogum nos bares

Bares da região também terão festa: a rede Bar do Zeca Pagodinho servirá a tradicional feijoada, entre meio-dia e 18h, nas unidades Vogue Square (R$ 450) e Park Jacarepaguá (R$ 150). Elaborado pelo chef Toninho Momo, o prato é composto por linguiça, arroz branco, torresmo, couve fatiada, farofa da casa e rodelas de laranja. Disponível no site bardozeca.soudaliga.com.br, o ingresso dá direito ainda a open bar e a assistir às atrações musicais, que animarão o público com o melhor do samba. No Vogue Square, o show será do grupo Vou Pro Sereno; e no ParkJacarepaguá, com o Caju pra Baixo.

Já o Colinda, bar no NewYorkCityCenter, vai promover, a partir das 13h, uma feijoada beneficente no feriado, no valor de R$ 60, sendo R$ 10 destinados a ações sociais da Paróquia Santa Rosa de Lima, na Barra da Tijuca. O evento terá roda de samba com o grupo Roda do Pelé.

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