Barra
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Por — Rio de Janeiro

As opções de redutos da boemia foram atualizadas. Se bairros como Lapa e Botafogo já são consagrados nesse aspecto, nos últimos anos Jacarepaguá também tem demonstrado vocação para o ramo. E seu protagonismo no Comida di Buteco, que vai até o próximo domingo (5), pode provar. Na 17ª edição carioca do concurso que elege os melhores bares do país, a área concentra nove participantes, deixando longe vizinhos como a Barra da Tijuca, que tem dois bares na competição deste ano, e Vargem Grande, que também concorre com duas casas. Para Maria Eulália Araújo, cofundadora e diretora institucional do Comida di Buteco, a diversidade com qualidade é um dos fatores que mantêm a localidade vibrante.

— Sem dúvida, hoje é muito correto afirmar que Jacarepaguá é um reduto da boemia no Rio de Janeiro. Tem uma multiplicidade de bares e restaurantes com perfis variados, para todos os gostos. O cuidado com o espaço, o bom serviço e a boa comida são pontos em comum em todas as casas que visitamos, não só as participantes do Comida di Buteco. Se a região não oferece isso, é difícil se manter forte como vem acontecendo com Jacarepaguá — avalia Maria. — Os próprios moradores acabam se valendo da boa variedade para fazer um turismo botequeiro interno, contribuindo para o fortalecimento do setor na região. Outro trunfo da área é que, embora tenha crescido muito, tem um quê de interior. É muito acolhedora e faz com que as pessoas gostem de estar lá.

Chupe até o osso: petisco do Art Chopp, na Freguesia, inclui uma costela bovina defumada em lenha de macieira, acompanhada de creme de milho — Foto: Divulgação/Fernando Salles
Chupe até o osso: petisco do Art Chopp, na Freguesia, inclui uma costela bovina defumada em lenha de macieira, acompanhada de creme de milho — Foto: Divulgação/Fernando Salles

Gestão familiar

No caso do concurso, especificamente, Jacarepaguá leva vantagem em relação à vizinha Barra da Tijuca pelas características de gestão dos empreendimentos, diz a diretora.

— O perfil de boteco que acolhemos é aquele que não seja de franquia nem de rede, mas marcado pela presença ativa do dono no bar ou de outras pessoas da família. Entendemos que o Comida di Buteco vem ganhando força na região, assim como a área vem desenvolvendo sua vocação boêmia com o concurso. Isso nos leva a procurar cada vez mais bares na região no nosso perfil, formando um roteiro que atrai cada vez mais público de outros locais também — observa. — O Baixo Araguaia, que pelo primeiro ano não está no concurso (por ter atualmente um sócio que é também dono de uma rede de bares), participou por muitos anos. No início, só tinha ele na Rua Araguaia, na Freguesia. Depois, foram surgindo vários outros. Já o Art Chopp foi um campeão tão aclamado, em 2015, que a vitória atraiu muitos curiosos, de vários lugares da cidade, para conhecê-lo. E, em seguida, vários bares foram abrindo em seu entorno.

Art Chopp

Inaugurado em 2012, na Taquara, o Art Chopp, inclusive, é o mais antigo participante da região este ano. O título de 2015 foi logo em sua estreia no concurso. Em 2016, ficou em terceiro lugar. Dois anos depois, saiu de um espaço de 80 metros quadrados, na Estrada Rodrigues Caldas 715, para ocupar outro de 1.400 metros quadrados quatro vias depois, na Estrada Macembu 63. E, no ano que vem, a área total do restaurante chegará a cerca de cinco mil metros quadrados, anuncia o sócio Diogo Freitas, que administra o negócio ao lado da mulher Kelly Makllaine Rodrigues de Almeida.

— Em 2018, a dona do espaço que ocupávamos viu que estávamos ganhando visibilidade e aumentou o aluguel de R$ 3 mil para R$ 12 mil. Resolvemos procurar outro lugar e compramos o local onde estamos atualmente. De uma coisa ruim, surgiu essa oportunidade grandiosa. Hoje, o maior problema é que temos 110 mesas, com 527 lugares, e não há espaço físico na rua para estacionar tanto carro. Compramos, então, o terreno de trás e estamos construindo um prédio de três andares de estacionamento, com 70 vagas de carros. Nosso objetivo é continuar no concurso. Por isso, em vez de abrir outro, estamos fazendo do nosso bar um castelo — detalha Freitas. — Pedi a Kelly em casamento no palco da premiação em 2015. Na época, tínhamos seis funcionários. Hoje, são 35.

Os sócios do Art Chopp, Kelly e Diogo, ao lado da filha Manuella: pedido de casamento no concurso — Foto: Divulgação
Os sócios do Art Chopp, Kelly e Diogo, ao lado da filha Manuella: pedido de casamento no concurso — Foto: Divulgação

Freitas resolveu investir no bar após pedir demissão de um emprego como gerente de uma concessionária de carros. Só que, com as contas negativas, o negócio corria risco, até que, em 2014, viu na TV uma matéria sobre o Comida di Buteco e resolveu que tentaria participar. Foi a salvação do empreendimento.

— Eu e minha esposa estávamos passando muito sufoco, até fome em casa. Quando vi sobre o concurso, falei: “Vamos entrar e vamos ganhar, porque quero viver do bar”. Liguei várias vezes para o escritório da organização, que, semanas depois, mandou uma equipe para visitar o nosso bar. Mas só conseguimos participar no ano seguinte, e ganhamos. Só precisávamos de uma visibilidade. E deu certo. Teríamos fechado se não fosse o Comida di Buteco; não seríamos a potência que somos hoje. Tentamos aproveitar o movimento durante a competição para manter a casa cheia o ano todo — diz.

Especializado em carnes defumadas, o Art Chopp concorre este ano com o petisco Chupe até o Osso, uma costela bovina defumada em lenha de macieira, acompanhada de creme de milho e uma geleia feita a partir da gordura da carne.

— A costela bovina é defumada durante quatro horas em lenha de macieira e, depois, mais dez horas no fogo indireto, embrulhada no papel celofane. A gordura que escorre da costela é filtrada e depois misturada com alho e cebola defumados para fazer a geleia. O prato é extremamente saboroso e generoso; são cerca de 500g — conta o empresário. — Depois da Zona Norte e da Lapa, Jacarepaguá é o maior polo da gastronomia e da boemia da cidade. Já tive oportunidade de sair da Taquara, mas quero manter essa chama acesa aqui.

Raízes Gastrobar

Os casos de pessoas que dedicam a vida a fazer seus negócios darem certo se repetem na região. A fotógrafa Aline Cler e o farmacêutico Mauro Brito se conheceram em 2019, planejavam se casar, mas resolveram adiar o sonho do matrimônio para investir no Raízes Gastrobar, na Freguesia. Estreante no Comida di Buteco este ano, a casa foi inaugurada em agosto de 2022, na Estrada dos Três Rios 470, e tem como carro-chefe os bolinhos preparados no próprio estabelecimento, como o de bacon e o de coxinha de frango sem massa, além do lingui-croc, uma linguiça com queijo enrolada numa massa de pastel.

Raízes Gastrobar: Noivos precisaram adiar casamento para investir no negócio — Foto: Divulgação/Aline Cler
Raízes Gastrobar: Noivos precisaram adiar casamento para investir no negócio — Foto: Divulgação/Aline Cler

— Tudo começou com um sonho do meu noivo, que abriu um bar menor em Oswaldo Cruz, em 2019, mas vendeu a parte dele um ano depois para o sócio. Quando começou a procurar outro espaço, porque queria um bar maior, veio a pandemia. Já estávamos juntos e ele queria que eu entrasse na sociedade com ele. Como sou fotógrafa desde 2014, de início relutei, porque já tinha minha carreira e não queria sair da minha zona de conforto. Em 2021, noivamos e ele conseguiu me convencer. Achamos que nosso dinheiro daria para investir numa vida a dois e no negócio, mas, quando começamos a montar o bar, vimos que não. Optamos, então, por abrir mão de morar juntos e de nos casarmos. A expectativa é começar a pensar nisso de novo depois do concurso — conta Aline.

A fotógrafa Aline Cler e o farmacêutico Mauro Brito, donos do Raízes Gastrobar — Foto: Divulgação/Rodrigo Ramos
A fotógrafa Aline Cler e o farmacêutico Mauro Brito, donos do Raízes Gastrobar — Foto: Divulgação/Rodrigo Ramos

Foi a história do casal que inspirou o petisco concorrente no Comida di Buteco, uma versão salgada do bem-casado, o Não-casado, três sanduíches feitos com massa de batata temperada e recheio de maionese de lombo suíno e bacon. O prato é servido num tabuleiro em que consta uma linha do tempo com a trajetória do casal de 2019 até o concurso.

O Não-casado é uma versão salgada do bem-casado, assinada pelo Raízes Gastrobar — Foto: Divulgação/Fernando Salles
O Não-casado é uma versão salgada do bem-casado, assinada pelo Raízes Gastrobar — Foto: Divulgação/Fernando Salles

— Somos de Madureira e estamos tentando nos organizar para irmos morar perto do bar, na Freguesia — revela a fotógrafa. — Temos tido casa cheia todos os dias, com o pessoal do bairro comparecendo bastante. Eu sei porque vou de mesa em mesa e perguntando. Acho que o pessoal da Freguesia tinha uma cultura de se arrumar para ir para a Barra. Agora, a galera está aprendendo a valorizar mais o comércio local. Conversei com uma cliente que me disse que cada vez mais os moradores do bairro estão querendo deixar o carro em casa e curtir por perto.

Nordestino Carioca

Outro concorrente a melhor boteco é o Nordestino Carioca, na Avenida Sargento Carlos Argemiro Camargo 49, no Anil. A casa, que existe no local há cerca de 20 anos, estreou no concurso em 2009, foi campeã em 2012 e, desde 2014, não participava da competição. Atual sócio do estabelecimento, o cearense Vicente de Paulo Farias conta que trabalhou para o antigo proprietário, Antônio Roberto Araújo, por 16 anos como garçom, até que o então dono resolveu voltar para sua terra natal, a Paraíba, e ele comprou o negócio, que administra ao lado da mulher e dos dois filhos.

Carne de sol desfiada, cuscuz de milho e linguiça com melado de rapadura compõem o petisco do Nordestino Carioca — Foto: Divulgação/Fernando Salles
Carne de sol desfiada, cuscuz de milho e linguiça com melado de rapadura compõem o petisco do Nordestino Carioca — Foto: Divulgação/Fernando Salles

— Há um ano e oito meses, passei de garçom a dono. E Seu Roberto é minha inspiração. Ele começou vendendo churrasquinho na rua, depois conseguiu um espaço na Feira de São Cristóvão, depois comprou um espaço com telha de amianto no Anil e foi levantando o Nordestino Carioca. Chegou um momento em que ele se disse cansado e parou de participar do Comida di Buteco. Agora, estou muito feliz de poder voltar para essa competição, que é fascinante — relata Farias, que chegou ao Rio com 17 anos e hoje tem 54. — Eu sempre gostei de cozinhar. Na época do Seu Roberto, a cozinheira era a mulher dele, e aprendi a fazer muitos pratos. Hoje, não tenho medo de o meu cozinheiro faltar, porque posso substituí-lo perfeitamente.

Vicente de Paulo, dono do Nordestino Carioca, ao lado da filha e do cozinheiro da casa — Foto: Divulgação
Vicente de Paulo, dono do Nordestino Carioca, ao lado da filha e do cozinheiro da casa — Foto: Divulgação

O Trio Arretado de Bom é seu petisco no concurso e inclui uma das especialidades da casa: carne de sol. Ela vem na versão desfiada, com cebola roxa, nata de leite e manteiga de garrafa, acompanhada de farofa de cuscuz com ovos e linguiça suína caramelizada no melaço de rapadura. Já o baião de dois e o sarapatel são destaques do menu fixo.

— O Nordestino Carioca é uma casa meio rústica, com uma varanda virada para a rua. É um lugar bucólico, arborizado e com um movimento bem tranquilo. Você vai se sentir na roça. Temos 56 lugares e estamos sempre com um forró tocando como som ambiente — descreve o cearense.

Outros bares

Os demais participantes da região são Empório Santa Oliva e Bar do Thomaz, em Jacarepaguá; Bar do Gallo, Tibar Taquara e Fakas Beef, na Taquara; e Formigueiro Brasa e Fogão, na Freguesia. A Barra participa com Deck Bar e Restaurante e Bar do Elson, ambos na Ilha da Gigoia; e Vargem Grande, com Tô na Boa e Tonamata.

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