Rio Bairros

Com cursos variados, projetos em comunidades abrem a jovens carentes caminhos para crescerem

Perto de instrumentos musicais, livros e tintas, objetivo é conectá-los ao mercado de trabalho
Alunos da oficina de grafite da Maré durante uma atividade Foto: Agência O Globo / Roberto Moreyra
Alunos da oficina de grafite da Maré durante uma atividade Foto: Agência O Globo / Roberto Moreyra

RIO — Pode parecer um discurso clichê ou até demagogo. No entanto, muitas vezes, uma simples oportunidade é o que falta para jovens carentes, rodeados de más influências nas comunidades em que vivem, poderem crescer em sociedade e sentirem gosto pela vida.

Na região, multiplicam-se projetos sociais que procuram descobrir em cada um desses jovens e crianças o que eles têm de melhor. E em todos esses projetos é oferecida uma gama de cursos, dando opções para que os inscritos aprendam uma atividade e tenham uma base de conhecimento que levarão para o resto de suas vidas. Longe de armas e drogas, de preferência; perto de instrumentos musicais, livros, computadores, tintas e de atividades cujo objetivo é conectá-los ao mercado de trabalho.

A ONG Instituto Vida Real, no complexo da Maré, foi fundada em março de 2003 por Sebastião Antônio de Araújo, o Tião, de 56 anos. Ex-chefe do tráfico na localidade nos anos 1980, ele é nascido e criado na comunidade e conhece todos por lá. O instituto oferece oficinas de música (canto e instrumentos de corda e sopro), fotografia, informática (básico e design), reforço escolar, atendimento psicológico, artesanato e grafite. Atualmente, 180 alunos são atendidos.

— O Vida Real foi criado com o intuito de transformar e de mostrar que eles podem, sim, ir além. Já atendemos mais de dez mil crianças e jovens até hoje. Temos muitos ex-alunos fazendo faculdade e empregados com o que aprenderam aqui. Isso é gratificante — diz Tião, emocionado.


Menino se diverte na aula de percussão do AfroReggae
Foto: Agência O Globo / Roberto Moreyra
Menino se diverte na aula de percussão do AfroReggae Foto: Agência O Globo / Roberto Moreyra

Projeto social criado em 1993, o Afroreggae, que tem uma das sedes em Vigário Geral, conta na unidade com oficinas de percussão, zumba e balé. Devido a uma pequena crise por falta de patrocínio nos últimos 12 meses, o projeto só está com essas três atividades em funcionamento.

— Já houve época em que tivemos 17 oficinas. Inclusive a sede, em Parada de Lucas, está fechada. Mas não vamos esmorecer. Estamos atrás de incentivo. Tem muitos jovens e crianças que estão ligados a nós, e não podemos deixá-las na mão — diz o coordenador William Reis.

Já o Camp (Círculo dos Amigos do Menino Patrulheiro), na Mangueira, completou 30 anos em 2018 e tem como objetivo incluir jovens aprendizes no mercado de trabalho. O projeto socioeducativo, criado pelo juiz de Direito Marino da Costa Terra, tem esse nome graças aos próprios garotos que participaram da primeira fase do programa. Eles escolheram batizá-lo assim para fazer uma homenagem ao “Patrulheiros Toddy”, seriado exibido pela TV Tupi no início da década de 1960 (quando acabou o patrocínio do achocolatado, mudou de nome para “Patrulheiros do Oeste”); e ao “Vigilante rodoviário”, pioneiro seriado brasileiro que fez sucesso também nos anos 1960. Presidente do Camp-Mangueira, José Scalfone explica que os jovens passam por um treinamento antes de ir trabalhar nas empresas:

— Isso aumenta suas chances de efetivação, pois chegam mais bem preparados do que outros jovens aprendizes.

O aluno trabalha quatro dias nas empresas conveniadas e assiste a um dia de aula no local. O Camp-Mangueira oferece aos aprendizes laboratório de informática, aulas de reforço escolar em português e matemática, aulas de boas maneiras e apresentação e aulas práticas relativas a cada profissão (repositor de produtos, auxiliar administrativo e limpeza, por exemplo).

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