Rio Bairros

Mesmo sem sede, Projeto De Olho no Lixo amplia atuação e dá oficinas na Maré e no Vidigal

Serão oferecidos cursos de moda e música;
Projeto De Olho no Lixo cotinua funcionando de maneira precária Foto: Divulgação
Projeto De Olho no Lixo cotinua funcionando de maneira precária Foto: Divulgação

RIO — O projeto ambiental De Olho no Lixo , que no ano passado teve sua sede na Rocinha destruída pela prefeitura , segue funcionando de forma precária na localidade conhecida como Roupa Suja — desde março, as atividades são realizadas num conteíner ao lado do CIEP Ayrton Senna. Mesmo assim, conseguiu ampliar seu campo de atuação. Há um mês, começou a oferecer cursos de capacitação de moda e de confecção de instrumentos e souvenirs na favela Roquete-Pinto, no Complexo da Maré. E, a partir de quarta-feira, passará a dar oficinas gratuitas de moda e música no colégio Stella Maris, no Vidigal, onde, até então, a atuação era voltada apenas para a coleta de lixo. Alunos da escola e jovens da comunidade poderão particpar das aulas.

— Começamos a trabalhar no Vidigal em agosto do ano passado, antes da ação da prefeitura na Rocinha. Até agora estávamos voltados apenas para a coleta de lixo, mas vamos começar a oferecer os cursos de capacitação. Vemos como um meio de ajudar a gerar renda na comunidade — diz Márcia Rollemberg, coordenadora do De Olho no Lixo.

As oficinas de moda ficarão a cargo do Ecomoda, voltado para a capacitação em produção de acessórios e peças de vestuário, a partir do reaproveitamento de retalhos, tecidos e jeans usados.

— Ganhamos duas novas máquinas de costura e estamos recebendo doação de retalhos para confecção de bolsas. A ideia é produzir uma grande quantidade até setembro para, depois, começar a vender — conta Almir França, coordenador do Ecomoda. — Além disso, empresas de limpeza estão doando uniformes velhos, com os quais começaremos a produzir bolsas retornáveis para os supermercados.

Entre as atividades do projeto, estão aulas de música Foto: Divulgação
Entre as atividades do projeto, estão aulas de música Foto: Divulgação

As aulas de música serão ministradas através do projeto Funk Verde, coordenado por Regina Café. Entre as atividades, estão, além de aulas de percurssão e teoria musical, a confeção dos próprios instrumentos.

— Fazemos quase tudo, exceto os intrumentos de corda. Mas damos aula de cavaquinho e teclado. Nossa atividade está ligada à diminuição da marginalidade através da música. Os jovens que vêm para os nossos cursos se distanciam do crime — acredita Regina.

'Estamos em um puxadinho'

A destruíção da sede pela prefeitura tornou impossível que uma das frentes mais importantes do De Olho no Lixo, a cooperativa Rocinha Recicla, voltasse a funcionar.

— Era lá que ficava todo o maquinário de processamento do lixo. Tinhámos cerca de 54 cooperados. Eles tiravam uma média de R$ 800 do trabalho. São todos moradores da comunidade, que ficaram sem renda — aponta Márcia Rollemberg.

No momento, o dirigentes da ONG estudam como voltar com a cooperativa:

— Na prática,  estamos em um puxadinho, na rua. Queremos colocar tudo de volta para funcionar, mas é díficil pela falta de espaço — diz a coordenadora.

A coleta de lixo, o Funk Verde e a Ecomoda conseguiram continuar operando ao longo dos últimos meses, apesar dos problemas. No caso das aulas de confeção de acessórios e vestimentas,  um espaço provisório foi cedido pela prefeitura em uma casa do entorno.

O projeto De Olho no Lixo é fruto da cooperação entre Secretaria de Estado do Ambiente, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e o Viva Rio Socioambiental, com recursos da Associação dos Supermercados do Estado do Rio (Asserj). Funciona na Rocinha desde 2016 e, no ano seguinte, ganhou sede própria .

Em novembro do ano passado, uma ação conjunta de diversos órgãos da Prefeitura, com apoio da Polícia Militar, demoliu toda a estrutura do projeto. Na época, a prefeitura afirmou que a ação integrava o plano de reurbanização da Rocinha e que membros da ONG teriam sido chamados para participarem das discussões , mas não apareceram. Em nota, a administração municipal disse que uma nova área para sediar o projeto seria disponibilizada na Estrada da Gávea. A ação foi considerada arbitrária pela Secretária de Estado do Ambiente.

O Inea afirmou estar em diálogo com a Secretária de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS) e a prefeitura do Rio para encontrar uma solução para o problema. Em nota, a Secretária Municipal de  Infraestrutura e Habitação diz que está trabalhando para realocar o projeto:

"A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação informa que está em negociação com o Governo do Estado para liberação de um local que atenda às necessidades do projeto. Só após a liberação de um local pelo Governo do Estado a Prefeitura poderá iniciar as obras da nova sede."

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