Rio Bairros

Mostra retrata o cotidiano de ações policiais aéreas no Complexo da Maré

A exposição está em cartaz no Oi Futuro, no Flamengo
Mariane, Victor Hugo e Manaíra, do coletivo Fluxos Urbanos: outros olhares relacionados a subúrbio e favela Foto: Bruno Kaiuca / Agência O Globo
Mariane, Victor Hugo e Manaíra, do coletivo Fluxos Urbanos: outros olhares relacionados a subúrbio e favela Foto: Bruno Kaiuca / Agência O Globo

RIO — Entre os nove projetos que estarão expostos na mostra “Artsonica Residência Artística”, em cartaz na terça, dia 6, no Centro Cultural Oi Futuro , no Flamengo, o do coletivo Fluxos Urbanos chama a atenção por retratar a triste realidade do Complexo da Maré , com o seu “Perspectivas do helicóptero”. A obra nasceu a partir de um trabalho de campo na comunidade.

— Nosso projeto consiste em dois vídeos em 360 graus, que mostram o ponto de vista do helicóptero da polícia para a comunidade e vice-versa. Passei dois anos na Maré. O meu projeto de mestrado pela UFF era sobre uma página no Facebook que avisa sobre ações policiais no complexo. Percebi que as operações que usam helicópteros são muito mais violentas do que as das tropas terrestres e a do próprio caveirão. Aí, quis entender como isso é aceitável pelo resto da sociedade. Como algo tão letal e custoso é aplaudido, mesmo sem obter grandes resultados para combater o tráfico de drogas e o crime organizado — contextualiza a diretora Manaíra Carneiro, do coletivo Fluxos Urbanos.

No projeto, que recebeu R$ 40 mil do edital Artsonica para ser desenvolvido, Manaíra não fez críticas às operações policiais. E nem precisava. As imagens, gravadas dos dois pontos de vista, já dizem tudo.

— Eu ia perder meu tempo levantando questões sobre a eficiência dessas operações. Já é claro que elas não dão resultado. As pesquisas confirmam, e as ONGs tentam combater essa ação violenta. Pesquisa-se favela desde os anos 1960 e não é possível que, até hoje, não aplicaram medidas práticas para solucionar os problemas que existem nelas. O estado tem um olhar racista sobre a favela, e as operações refletem isso — analisa Manaíra.

“Perspectivas do helicóptero” foi um dos dez projetos selecionados entre os mais de 500 inscritos. A proposta do edital era de promover trabalhos que unissem arte e tecnologia.

— Tivemos três meses para produzir tudo. Mas com a pós-produção, em que usamos o espaço de coworking do Centro Cultural Oi Futuro, foi um total de quase um ano que ficamos envolvidos com essa atividade — ressalta Victor Hugo Rodrigues, que faz parte do Fluxos Urbanos.

O coletivo tem uma série de trabalhos, com o intuito de questionar problemas da sociedade, relacionados a subúrbio e favela. Neles, tenta-se tirar um pouco da marca de ausência com a qual esses lugares costumam ser vistos.

— É claro que consideramos a violência e a precaridade, mas para além disso, eles têm muito valor. Tem muita gente talentosa nas favelas, realizando coisas legais, mas o que chega nos noticiários é só a falta de saneamento básico, de segurança, de infraestrutura. Existe uma infinidade de coisas boa lá, que esse olhar viciado que se tem sobre a favela não consegue enxergar — acrescenta Victor.

E a ideia do coletivo é de que o “Perspectivas do helicóptero” mantenha o fôlego, mesmo após a temporada do Artsonica no centro cultural. Tudo para facilitar o acesso ao trabalho.

— Nosso conceito está fechado, mas esse projeto pode se desdobrar em muitas outras coisas. Até mesmo numa série audiovisual, por exemplo, que poderá atrair quem não tem o hábito de ir a museus — ressalta Mariane Martins, também do Fluxos Urbanos.

O Centro Cultural Oi Futuro fica na Rua Dois de Dezembro 63, no Flamengo. A mostra “Artsonica” fica em cartaz de terça a domingo, das 11h às 20h, até 15 de setembro. Tel.: 3131-3050. Grátis.

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