RIO — Um espaço vivo, formado por pessoas e memórias. Assim pode ser definido o Museu dos Meninos, criado para contar, no universo virtual, histórias reais de homens pretos e periféricos, vítimas de racismo, preconceito social e violência. Fundado pelo ator Maurício Lima, morador do Complexo do Alemão, o centro cultural virtual tem em seu acervo depoimentos de quem sente na pele a dor provocada por uma sociedade racista, assim como entrevistas de intelectuais ativistas da causa, como a filósofa e escritora Djamila Ribeiro, além de manifestações culturais variadas, como exposições e espetáculos on-line.
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Foi em 2019 que o Museu dos Meninos começou a ser gerado, mas o seu nascimento só se deu em 4 de agosto deste ano. Para que este verdadeiro parto fosse realizado com sucesso, houve necessidade de superar as pedras que apareceram no caminho, como a pandemia de Covid-19 e os poucos recursos financeiros para produzir o projeto. O resultado do trabalho duro está disponível gratuitamente ao público no site museudosmeninos.com.br.
— O nosso espaço virtual foi todo produzido dentro do Complexo do Alemão. Antes da Covid-19, gravamos vídeos presencialmente, dentro da comunidade, mas depois seguimos no formato on-line, o que não chegou a ser um problema, já que o nosso projeto sempre foi pensando em existir, em dar o nosso recado, exclusivamente através da internet. As visitas à nossa plataforma são mais do que bem-vindas, até para que possamos abrigar cada vez mais trabalhos de artistas negros de periferia. Lutamos com dificuldade para democratizar a arte — diz Lima.
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É na Galeria Virtual Seu Rodrigues que encontros de múltiplas manifestações dialogam.
— Seu Rodrigues foi um importante fotógrafo do Complexo do Alemão que morreu vítima da Covid-19 e, por tudo que fez pela comunidade, merece muitas homenagens. No espaço que leva o nome deste saudoso ilustre morador do Alemão abrigamos artistas de muitas linguagens. Lá, há trabalhos de videos, fotos, experimentos de sons, obras de arte... É um lugar de contemplação e troca de experiências sobre o universo masculino de pretos periféricos — observa o ator.
O Museu dos Meninos não contempla meninas por um motivo que Lima faz questão de explicar:
— Os meninos negros são as maiores vítimas de violência policial no Rio, sobretudo no contexto de favela. Foram as estatísticas do mapa da violência no Brasil que me fizeram criar o museu. Lamentavelmente, 77% dos jovens assassinados no país são negros, do gênero masculino, com idades entre 15 e 29 anos e moradores de favelas e periferias. Eu poderia ser um deles. É importante ter um espaço onde se possa escrever as histórias destes jovens que estão sendo extintos — frisa o ator, de 30 anos.
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