O autor do e-mail encaminhado à deputada federal Talíria Petrone (PSOL), contendo graves ameaças e ataques racistas, também fez menção direta a um “plano B” ao afirmar que se não conseguisse atingir o objetivo pretendido, “meter uma bala na cara” da parlamentar e “matar qualquer um que estiver junto”, iria invadir o primeiro debate realizado entre os pré-candidatos à prefeitura da cidade — Talíria, Rodrigo Neves (PDT) e Carlos Jordy (PL) — armado para tirar a vida dos três, afirmando ainda que em seguida “explodiria o local com uma bomba, para realizar um massacre”.
Parte do conteúdo da mensagem veio à tona na última segunda-feira, dia 29, após a equipe da parlamentar ter acessado o texto, que estava na caixa virtual desde 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. O GLOBO-Niterói teve acesso completo ao boletim de ocorrência registrado pela parlamentar na Polícia Federal, no Rio de Janeiro. A PF afirmou não dar detalhes sobre o caso para que as investigações não sejam prejudicadas.
Outro detalhe que chama a atenção é o nome que aparece na assinatura do e-mail, “Ricardo Wagner Arouxa 666”. Em 2020, ameaças dirigidas à vereadora de Niterói Benny Briolly e à atual deputada federal Duda Salabert (PDT-Minas Gerais) continham o mesmo nome.
Talíria, que recebeu mensagens e ligações de solidariedade de Rodrigo Neves e de Bruno Lessa (Podemos), concorrentes ao cargo máximo do Poder Executivo, afirmou que “o atraso não terá espaço durante o processo eleitoral na cidade”. Ela acredita que o nome do criminoso é um pseudônimo usado por grupos extremistas que se articulam na deep web.
—É um absurdo ter que parar a nossa preparação por causa de uma situação como essa. Não aceito o lugar de vítima que esses grupos querem dar a mim. Quero é discutir os rumos da educação, do orçamento público e da saúde em nossa cidade. Isso não vai minar nossa força política. Nossas candidaturas do campo democrático, guardadas as divergências que constituem a boa política, sem a menor dúvida apresentarão o bom debate para melhorar nossa amada Niterói— afirmou.
Por sua vez, Rodrigo Neves afirmou não haver espaço para fascistas e grupos da extrema-direita em Niterói e que nada pode atrapalhar o processo democrático que será decidido pela livre vontade da população nas urnas. Ele lembrou ainda de ameaças que sofreu durante as eleições de 2022, quando tentou concorrer à vaga de governador.
— As polícias (Civil e Federal) têm condições de rastrear de onde partiu o e-mail e identificar esses criminosos. Em Niterói, os milicianos não se criam, não há um território sequer dominado por eles, e nem a extrema-direita. São tempos difíceis para a democracia, onde tentam o tempo inteiro produzir esse tipo de situação. Aqui, as urnas vão prevalecer e não a violência. Este é um valor inegociável — destacou.
O deputado federal Carlos Jordy afirmou ser inacreditável que algum tipo de ameaça como essa aconteça.
—Tenho família e me preocupo com a integridade da minha esposa e filha. Espero que as autoridades investiguem e punam os responsáveis por essa bizarrice. Quem poderia ser contra a eleição de candidatos à prefeitura que disputam contra um grupo que quer se perpetuar no poder? Isso é prova de que a segurança em nossa cidade vem se degradando durante os últimos 12 anos, chegando ao ponto de ameaçar o processo eleitoral. Esses grupos não possuem qualquer ideologia a não ser o próprio ego impetuoso pelo poder— aponta
Sigla cobiçada
A semana em Niterói também foi movimentada após o engenheiro João Gomes, pré-candidato a prefeito pelo Novo, desistir de disputar as eleições na cidade. O quiproquó que culminou nesta decisão envolveu uma troca de acusações entre os filiados da sigla e um assessor parlamentar de Jordy, que também é do Novo.
Mesmo afirmando que a sigla iria seguir até outubro sem apresentar uma nova cabeça para a chapa e descartar qualquer eventual aliança, o partido foi cortejado por Bruno Lessa e pelo deputado bolsonarista.
Apesar do diálogo com as partes, a presidente do Novo, Andrea Carvalho, afastou qualquer possibilidade de apoio oficial, pelo menos até o final do primeiro turno.
—Não sendo a Talíria, qualquer um que vá para o segundo turno contra o Rodrigo Neves terá o meu apoio. Fomos sondados para coligações, mas decidimos seguir sozinhos. Preferimos manter a nossa coerência e seguir em frente, mesmo diante das dificuldades, com pouco dinheiro, como sempre. Temos 14 candidatos a vereador — disse.
Jordy se adiantou ao apontar o alinhamento político entre as siglas e destacou que os postulantes a vereança estariam "muito inclinado a nos apoiar".
—Estamos conversando com o partido Novo. Os candidatos do partido sabem que o nosso projeto é o único com condições reais de vencer o projeto de poder corrupto de Rodrigo Neves, além de defendermos realmente os princípios e valores que regem o partido. É inconcebível o partido apoiar qualquer outra candidatura em Niterói que não seja a nossa— crava.
Durante as últimas eleições na cidade, o Novo obteve mais de 15 mil votos.
Inscreva-se na Newsletter: Niterói