Tijuca e Zona Norte
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Por Regiane Jesus — Rio de Janeiro

Olhar para os gigantes carros alegóricos enfileirados na Avenida Presidente Vargas, prontos para entrar na Marquês de Sapucaí, encantava o então menino Ruan Mendes, que descia o Morro do Borel, na Tijuca, na companhia da mãe, para ver o carnaval. Não havia dinheiro para comprar entradas para assistir aos desfiles das escolas de samba no Sambódromo, então, o máximo que conseguiam era sentar nas arquibancadas gratuitas em frente ao “valão”. As cores, movimentos e sons exerciam um fascínio sobre a criança. Mas, curiosamente, não havia o sonho de deixar o lugar de espectador para fazer parte do elenco principal daquela ópera popular a céu aberto. O destino, no entanto, tinha outros planos. Quando a Paraíso do Tuiuti entrar na Avenida depois de amanhã, abrindo a segunda noite de desfiles do Grupo Especial, o modelo, vencedor da etapa carioca 2023 do concurso de beleza Mister da 40, produtor cultural, motorista e voluntário do projeto social Funcionalizando Borel, na comunidade onde mora, estará no alto do quarto carro como destaque principal.

Aos 26 anos, após estrear nos desfiles em 2015, no Salgueiro, Mendes está cheio de expectativa para o grande dia que se aproxima.

— Eu já estou sentindo uma emoção jamais sentida. Passa um filme na cabeça de tudo o que já vivi diamte desta estreia como destaque principal de um carro alegórico em uma escola de samba detradição. Lembro de quando eu era criança e via as alegorias na Presidente Vargas na rua mesmo ou sentado na arquibancada do valão. A gente não tinha grana para comprar o ingresso, mas curtia o carnaval assim mesmo. Este momento que vou viver na segunda-feira é algo que nunca imaginei. Estou com um frio na barriga extremo, mas pronto para dar meu melhor — diz o jovem, de 1,90m, que representa um cacique na agremiação de São Cristóvão usando uma fantasia que promiete deixar a maior parte do seu corpo desnudo.

Ruan Mendes em 2019, durante desfile do Salgueiro — Foto: Divulgação/Edson Siqueira
Ruan Mendes em 2019, durante desfile do Salgueiro — Foto: Divulgação/Edson Siqueira

Nem a primeira vez que pisou no Sambódromo, em uma ala da vermelha e branca tijucana, estava nos planos de Mendes.

— Em 2013, fiz o meu primeiro trabalho como modelo para o Salgueiro. Naturalmente, fui me aproximando da escola. Dois anos depois, fui convidado para desfilar lá. A princípio, não queria porque gostava mesmo era de assistir aos desfiles, não me via fazendo parte diretamente da festa. Mas resolvi viver esta experiência e gostei. Em seguida, me chamaram para participei de uma ala coreografada, aceitei o desafio, que, aliás, acabei repetindo até o carnaval passado. Por incrível que pareça, nunca desfilei na Unidos da Tijuca, a escola da minha comunidade, mas um dia isso pode acontecer — planeja.

Na favela onde mora com a mãe, Ingrid, e a avó, Vilma, Mendes é monitor voluntário, desde 2018, do projeto social Funcionalizando Borel, que oferece treinamento funcional ao custo de R$ 30 mensais.

— Toda a equipe trabalha de graça para perimir que os moradores do Borel e adjacências tenham acesso à saúde e ao bem-estar através da prática de atividade física. No total, são 50 alunos que nas noites de de segunda a quinta podem fazer treinos funcionais acompanhados por professores de Educação Física. Fico feliz em ajudar de alguma forma ao projeto — observa.

Não tem tempo ruim para Mendes quando o assunto é trabalho.

O modelo Ruan Mendes sonha desfilar nas passarelas internacionais — Foto: Divulgação/Douglas Jacó
O modelo Ruan Mendes sonha desfilar nas passarelas internacionais — Foto: Divulgação/Douglas Jacó

— O meu primeiro emprego foi aos 16 anos. Já trabalhei em empresa de aviação civil, farmácia, além de dar expediente como segurança, auxiliar de serviços gerais e garçom. Ser independente, ter o meu dinheiro, sempre foi fundamental para mim. Atualmente, concilio a carreira de modelo com o trabalho de motorista particular e de aplicativo — conta.

A ideia para um futuro breve é conseguir se dedicar exclusivamente à moda.

— Eu já fiz campanha para uma marca italiana de pijamais, desfilei em alguns eventos e estou investindo nos concursos de beleza masculina, que dão uma visibilidade que pode me levar a ser convidado para bons trabalhos como modelo. Quero ser descoberto por um estilista consagrado e virar uma das caras de uma grande marca. Chegar às passarelas internacionais é o meu maior sonho. Venci recentemente a etapa carioca do concurso Mister da 40 (promovido pela 40 Graus Models), estarei no carnaval em uma posição de destaque, sinto que as coisas estão acontecendo na minha carreira de modelo — analisa.

Mendes tem ainda outros desejos.

— Quero estudar para ser ator. Vivo com dignidade, mas pretendo ter conquistas materiais para dar mais conforto às mulheres da minha vida, que são minha mãe, minha avó e a minha tia Camila. Sou preto, favelado, e posso ser o eu quiser. Esta é a mensagem que sempre falo par as crianças e adolescentes da comunidade. O racismo e o preconceito não vão nos parar — conclui.

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