Tijuca e Zona Norte
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Por Maria Guimarães*

“A educação é tanto mais autêntica quanto mais desenvolve este ímpeto ontológico de criar”. A frase do educador Paulo Freire, apesar de rebuscada, reforça uma ideia simples: o desenvolvimento educacional é aprimorado quando a criatividade é incentivada. E que forma melhor de atingir isso, se não pela arte? A partir dessa visão, o pedagogo e artista plástico Wagner Trancoso iniciou, há aproximadamente seis anos, o projeto de retratar personagens históricos brasileiros em painéis de grafite por escolas e ruas da Zona Norte. Sua realização mais recente foi concluída em fevereiro passado, no Núcleo de Artes Nise da Silveira, em Higienópolis.

São três painéis espalhados pelo centro educacional: a escada que demarca a entrada recebeu as ilustrações da psiquiatra Nise da Silveira, que dá nome ao local, e da bailarina Ingrid Silva; a sala de música foi rebatizada como Sala Os Gonzagas, porque Chiquinha e Luiz Gonzaga agora estampam a principal parede do espaço; já a sala de teatro foi presenteada com a releitura do quadro “Os operários”, de Tarsila do Amaral.

Fundado em 1995, o espaço cultural é um dos 17 Núcleos de Extensão da cidade e oferece aulas de dança, canto, instrumentos musicais, desenho e teatro para crianças e adolescentes de 5 a 15 anos. Anteriormente sediado no Instituto Nise da Silveira, no Engenho de Dentro, o núcleo mudou para Higienópolis em 2010, sob a promessa de abranger mais a região, trazendo alunos da rede municipal moradores de Manguinhos, Jacaré e Complexo do Alemão. Atualmente, fica no terceiro andar do Colégio Estadual Ministro Orozimbo Nonato; por isso, a customização de Trancoso facilita o entendimento de que aquele espaço é diferente do resto da escola.

Joselene Lemos, diretora do núcleo, afirma que o painel da entrada foi muito importante para criar um ambiente artístico no imaginário dos alunos.

— É como se passasse a mensagem de que ao subir aquelas escadas o estudante entra num lugar criativo, colorido, onde ele pode criar e se expressar como quiser — opina.

Música. O professor André Ricardo Amaral e alunos na sala Os Gonzagas — Foto: Foto: Lucas Tavares
Música. O professor André Ricardo Amaral e alunos na sala Os Gonzagas — Foto: Foto: Lucas Tavares

Antes das pinturas, o espaço já contava com obras de arte feitas pelos estudantes. O teto e as paredes do corredor são repletos de desenhos e esculturas elaboradas durante as aulas. Portanto, as intervenções de Trancoso vieram para reforçar a identidade do local e despertar ainda mais orgulho nos estudantes e funcionários. É o caso de Iara Sá, que já trabalhou como merendeira e agora atua no apoio, cuidando dos alunos que entram e saem das salas.

— Eu amo arte e fiquei muito feliz com os painéis. Um ambiente bonito e bem cuidado inspira a gente durante o trabalho. Sinto que todo mundo que trabalha aqui está mais orgulhoso de vir trabalhar — destaca Iara, que atua no núcleo desde 2011.

A ideia dos painéis surgiu por acaso. Joselene estava dirigindo seu carro quando viu Trancoso realizando mais uma de suas criações num muro no entorno do núcleo — o que não é difícil, já que o artista, morador de Vicente de Carvalho, prioriza as ruas da Zona Norte para realizar suas intervenções.

— Ela (Joselene) passou por mim de carro e perguntou se eu fazia esse tipo de trabalho em escolas, e eu topei na hora, até porque já tinha feito painéis no Instituto Nise da Silveira e fiz o link entre os nomes. É comum que as pessoas reconheçam meu trabalho por aqui, já que eu atuo mais nessa parte da cidade. É onde eu nasci e onde considero que há mais necessidade, porque outros lugares do Rio têm mais acesso a arte e cultura, e muitas vezes o subúrbio fica esquecido — diz Trancoso.

Mantendo a identidade visual de pequenas casinhas compondo um desenho maior, a arte de Trancoso já passou por vários momentos. Até pouco tempo atrás, seus grafites eram basicamente formados por animais como pássaros, leões e girafas. Foi em 2016, num trabalho em conjunto com um coletivo de grafiteiros, que pintou um rosto pela primeira vez. A partir dali, surgiram diversos convites de colégios e instituições para retratar personalidades brasileiras.

— Em ambientes onde há crianças eu costumo levar personagens brasileiros que impactaram o país. Seja na arte ou na educação, é uma forma de fazer eles se interessarem pela História do Brasil e conhecerem mais sobre figuras tão importantes como Nise da Silveira, Pixinguinha e Ingrid Silva — destaca Trancoso.

Criação. O artista plástico diante de painel na Escola Municipal Eurico Sales  — Foto: Foto: Lucas Tavares
Criação. O artista plástico diante de painel na Escola Municipal Eurico Sales — Foto: Foto: Lucas Tavares

Seu contato com a arte de rua começou ainda criança, por meio da pichação. Somente aos 18 anos, quando voltou à escola — após nove anos sem estudar — , foi que passou a investir em pinturas e entendeu que o grafite era sua vocação. Trancoso concluiu a faculdade de Pedagogia e logo depois ingressou no mestrado.

— Minhas pinturas foram as grandes financiadoras da minha educação. Foi por meio delas que eu consegui terminar a escola e me tornar mestre. Por isso que eu sempre digo que a arte mudou a minha vida e é isso que eu quero passar aos jovens — afirma.

Há dez anos, além de atuar como artista plástico, ele leciona arte em três escolas também na Zona Norte. E busca integrar sua experiência artística com as aulas, além de relacionar expressões artísticas com outras matérias.

— Se a escola me der liberdade, eu relaciono arte com tudo, já dei até aula de skate para ensinar sobre coordenação motora para crianças. O que me inspira é ver os alunos se encontrando na arte, melhorando o desempenho em outras matérias por causa da visão artística. A arte torna a educação mais leve, e eu dedico a minha vida a isso — assegura Trancoso.

Além dos painéis de rua, o artista participou da criação de um carro alegórico na Escola de Samba Vizinha Faladeira, campeã da série B do carnaval 2023.

*Estagiária, sob a supervisão de Milton Calmon Filho

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