A visão de mundo do empresário Natan Pedro, fundador e gestor da Pizzaria Kanoa, localizada na Cohab Ramos, era, de certa forma, limitada. Aos 18 anos, quando deixou Massaranduba (PB) com destino ao Rio, o sexto filho de um casal de agricultores, que deu expediente na roça ainda criança, não trouxe sonhos na bagagem. Desejava apenas trabalhar em alguma função distante da que exercia no sertão, que era plantar, colher e vender milho, arroz e feijão.
O casamento também estava nos seus planos. Já tinha até uma noiva. Sob a sua ótica juvenil, só queria levar “uma vida normal”. Não passava por sua cabeça cursar uma universidade, construir uma carreira bem-sucedida, empreender e alcançar conquistas materiais. A virada na forma de enxergar a existência veio, curiosamente, no momento em que este morador de Olaria temeu ficar cego.
Três anos após ter se instalado na cidade que o adotou de braços abertos, vivendo, naquela época, na Penha e trabalhando em uma rede de supermercados, Natan Pedro começou a perceber que estava vendo o mundo nublado, embaçado, sem cor. Bateu o desespero. Mas, por falta de informação e receio de preocupar as pessoas à sua volta, demorou a procurar ajuda especializada. Tempos depois, no momento em que recebeu o diagnóstico de ceratocone (a córnea se projeta para a frente), a doença já tinha evoluído bastante. Mas ainda era possível superar as limitações visuais com o uso contínuo de lentes de contato rígidas. A adaptação a esta ferramenta, no entanto, parecia impossível. Mas foi justamente este drama que fez com que olhasse à sua volta com outras lentes de aumento. De repente, entendeu que a sua criatividade natural deveria ser transformada em profissão. Decidiu cursar marketing. Só que para estudar, precisava ler. E para ler, precisava enxergar.
— O estudo salvou a minha vista e a minha vida. Foi uma virada de página quando comecei a fazer um tratamento sério para controlar o ceratocone e decidi que conseguiria me adaptar às lentes rígidas. Antes da doença, eu estava em uma zona de conforto. A minha ideia era trabalhar sem ambições e formar uma família. Pirei diante da possibilidade de perder a visão. Mas transformei a revolta em luta. Atualmente, enxergo bem. Dirijo, leio, mas, claro, não descuido do acompanhamento médico. Tenho algumas limitações, mas está tudo certo. Procuro enxergar a vida com gentileza e generosidade. Eu me tornei uma pessoa melhor, em todos os sentidos, após enfrentar uma situação adversa — diz.
A demissão do emprego no supermercado, onde trabalhava como repositor, foi o empurrão que faltava para mudar de vida após enfrentar a doença e estar às voltas com os desafios da faculdade de Marketing. Empreender era a melhor saída para garantir o sustento e botar em prática suas ideias. O primeiro empreendimento foi uma padaria na comunidade Parque União, em Bonsucesso.
— Não me limitei a vender pães. Um dia, tive a ideia de comprar um boneco do “Big Brother Brasil” e criar uma promoção. Quem comprasse três picolés ganhava um cupom para concorrer ao robôzinho. Deu supercerto. Eu não sou padeiro, não sabia fazer pão, mas sabia fazer marketing. Foi lá que consegui comprar o meu primeiro carro. Antes mesmo de fechar a padaria, abri a pizzaria. Estou sempre procurando novos caminhos — ressalta.
Foi em 2014 que Natan Pedro abriu a Kanoa em uma praça dentro da Cohab, conjunto habitacional em Ramos com 80 blocos e cerca de quatro mil moradores.
— Verifiquei que não existia uma pizzaria para atender os moradores do conjunto, então decidi investir neste negócio. No começo foi tão complicado que o meu então sócio desistiu, e eu segui sozinho. Foquei em oferecer para os clientes uma pizza de qualidade com preço acessível. Além disso, passei a criar ações promocionais. Ofereci desconto para quem estivesse vacinado contra a Covid-19, dei desconto do percentual da idade do cliente... Sem contar que estou sempre fazendo alguma coisa para afastar um pouco as crianças do celular. Na Páscoa, os pequenos que pintassem um desenho ganhavam uma pizza brotinho. No Dia da Criança, elas ganharam ioiôs. Empreender não é apenas pensar no lucro, mas também fazer algo pelo bem-estar de todos — analisa.
O empresário realizou sonhos que jamais almejou.
— Não sou rico, mas conquistei estabilidade financeira graças ao trabalho. Além de gerenciar a Kanoa, eu coloco a mão na massa, literalmente. Sou pizzaiolo, estou sempre na cozinha. Foquei a minha energia no meu negócio. Deixei de lado a vida pessoal. Não casei nem tive filhos. Sou feliz assim. A Kanoa me deu uma grande família, que são os moradores da Cohab — conclui.