“Bonjour, madame!” É assim que o feirante Jorge Henrique dos Santos, de 30 anos, chama a atenção de quem passa na frente da sua barraca de frutas, em Ricardo de Albuquerque. O “Samurai da Feira”, como se intitula, viralizou nas redes sociais pela habilidade com que corta abacaxis, melancias e outras frutas. Mas não é só a agilidade a marca registrada de Jorge Henrique. Em vídeos que já bateram mais de cem mil visualizações na internet, ele e o primo cantam um funk e encenam um diálogo que chama a atenção de quem passa pela feira.
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O morador de Austin, em Nova Iguaçu, conta que a ideia para compor as músicas surgiu da necessidade de alavancar as vendas na barraquinha onde trabalha. Ele afirma que precisava de um diferencial, então aprimorou sua habilidade com a faca. A maneira com que ele corta as frutas para os clientes impressiona, e vem acompanhada de bordões como “Corta, Samurai!” ou “Quem não pode ver sangue nem olha!”.
Infância difícil
As pessoas que veem a alegria do feirante não imaginam que o “Samurai” teve uma infância difícil e de muita luta. Jorge Henrique é filho de mãe solteira e foi criado com nove irmãos. A mulher sustentava toda a família com o seu trabalho de coleta de lixo, na Comlurb. Por outro lado, o pai era viciado em álcool e drogas. Jorge Henrique tentou a vida como jogador de futebol, na Bélgica, mas, sem conseguir se adaptar ao país, retornou ao Brasil há oito anos.
Experiência na Europa
O convite para viajar para o outro país surgiu da própria irmã do feirante. Com a cara e a coragem, procurou clubes belgas, mas nada conseguiu. Durante o tempo em que viveu na Europa, ele conseguiu se manter trabalhando nos campos capinando, limpando estábulos e como operário de construção civil.
— Comecei a trabalhar desde pequeno, com 12 anos, precisava ajudar a minha mãe, porque ela criava a nossa família sozinha. Quando criança meu sonho era ser jogador de futebol, por isso fui para a Bélgica, mas devido ao frio europeu acabei voltando para o Brasil e dei vida ao “feirante samurai”. Quando voltei, achei que fosse conseguir entrar para algum clube. No entanto, não deu certo. A partir daí tive que aprender a manusear a faca para me sustentar. Sempre fui uma pessoa muito alegre e tinha essa vontade de juntar meu trabalho com a minha alegria. No começo, muitos achavam engraçado, mas depois foram gostando da ideia, e agora todos só me conhecem assim — conta Jorge Henrique.
Feiras na Zona Norte
Hoje, o “Samurai” trabalha em feiras de terça a domingo, todas localizadas na Zona Norte, a mais de 30 quilômetros de sua casa, nos bairros de Bento Ribeiro, Oswaldo Cruz, Marechal Hermes, Honório Gurgel e Ricardo de Albuquerque. Em Austin, ele mora com a mulher, Tiphany Caroliny, e a filha, Sophia Caroliny, de 5 anos. Jorge Henrique é pai também de Cauan Henrique, de 10 anos, fruto de outro relacionamento. O feirante acorda às 4h da manhã, pega trem e demora mais de 40 minutos para chegar ao trabalho, às 5h30, quando começa a montar o tabuleiro e colocar as frutas. Porém, o trajeto não é motivo de desânimo. Do início ao fim da feira, às 15h30, o alto astral e a cantoria o acompanham.
A simpatia como trunfo
Os vídeos e a simpatia alavancaram o número de clientes, e ele conta que chegou a vender 12 mil abacaxis no ano passado. As melancias também são cobiçadas, e a média é de 90 vendas por semana. Com o trabalho, Jorge Henrique conseguiu realizar o sonho de reformar a casa. Hoje, ele diz que busca se dedicar para crescer ainda mais na profissão e poder proporcionar melhores condições à família.
— O meu sonho é ter condições de um dia dar um futuro melhor para minha família. Quero dar a eles tudo que um dia não pude ter e, claro, continuar meu trabalho como “Samurai da Feira”, levando alegria a todos que passam pela minha barraca, “ô luxo”— afirma Jorge Henrique.
Vascaíno fanático, ele foi notado pelo clube de coração, que o apelidou de “Samurai da Colina”:
— O Vasco ficou sabendo da minha história e do quanto eu sou vascaíno. O apelido surgiu daí, e eu fiquei bastante feliz.