Com apenas 26 anos, Renan de Paula vem se destacando no cenário da música clássica numa posição privilegiada, como regente de orquestras. O jovem músico e morador do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, é um dos principais destaques do 10º Gramado in Concert — Festival Internacional de Música de Gramado, no Rio Grande do Sul. Integrante do projeto Ação Social pela Música do Brasil (ASMB) há dez anos, ele foi um dos seis jovens escolhidos para participar do evento.
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— O que mais me motiva, tanto nesta edição quanto na última do Gramado in Concert, é a representatividade que eu posso carregar comigo. Poder chegar na minha comunidade, as crianças me vendo descendo ou subindo com uma mala, perguntando onde eu estava, e outras pessoas acompanharem nas redes sociais ou nas lives, dá esperança porque a realidade é bem restrita. As pessoas que moram no mesmo lugar que eu não têm muita perspectiva de vida. Então, ver alguém ali que é do ciclo alcançar lugares longes dá uma esperança para a galera que está vindo agora e mostra que não há apenas um caminho — diz.
Oficina de regência
Além de Renan, os alunos de violino Anna Eliza Moraes, Mariana Pereira, Gabriel Paixão e Willian Lopes e o aluno de violoncelo Rodrigo Cunha terão a oportunidade de participar de oficinas com renomados músicos do cenário nacional, além de integrar a orquestra de estudantes do festival. O maestro vai reger uma peça com os alunos e também participar de uma oficina de regência.
Renan começou seus estudos ao lado da dupla Antonio Carlos & Jocafi. Depois, seguiu como violista e percussionista, apresentando-se com grandes músicos no cenário clássico e popular, como Lang Lang, Yamandu Costa, Anitta e Malia. Realizou diversas viagens nacionais e internacionais tendo como destaques concertos no Theatro Municipal do Rio e no Carnegie Hall, nos Estados Unidos.
— Eu tocava viola. Cheguei a tocar outros instrumentos, porém, desde muito novo, eu sempre quis seguir nessa área de regência. Esse desejo veio por conta do meu avô, que morreu em 2020 devido à Covid-19 . Eu queria seguir os passos dele, e na pandemia surgiu essa oportunidade — conta Renan.
Professor de música clássica
Atualmente, o jovem é regente da Orquestra InfantoJuvenil da Ação Social pela Música e também é professor nos núcleos de aprendizado do projeto, que ensina música clássica para cerca de quatro mil jovens de comunidades e áreas periféricas do Rio. Hoje, ele estuda com o maestro Cláudio Cruz, um dos maiores regentes do cenário da música clássica no país. Ao relembrar as dificuldades na trajetória profissional, Renan destaca o racismo.
— A maior dificuldade que eu encontrei pelo caminho foi a cor da minha pele. Não é comum você ver um jovem negro periférico assumindo um cargo de importância, que é o de regente, pisando em diversos palcos conhecidos. Eu lido com muito preconceito, pessoas que tentam me desmotivar porque a burguesia está acostumada a ver o jovem negro descer da comunidade ou em um saco preto ou armado. A partir do momento em que assumimos postos grandes, isso incomoda — afirma Renan.
Sobre o festival de Gramado
O Festival Internacional de Música de Gramado recebe a cada ano centenas de estudantes brasileiros e estrangeiros, que participam de oficinas dos mais variados instrumentos, práticas de orquestra e projetos especiais. Este ano, em sua edição comemorativa de uma década, o evento receberá 400 estudantes e terá quase 30 membros na equipe pedagógica.
— Para a Ação Social pela Música do Brasil é um orgulho enorme ter alguns dos nossos melhores estudantes aprendendo com grandes músicos da cena brasileira, e também levando Brasil afora o conhecimento que adquiriram no projeto — afirma Fiorella Solares, criadora e diretora da ASMB.