Zona Sul
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Por — Rio de Janeiro

Que tal neste verão um sacolé de frutas e folhas geladinho para incrementar e refrescar a merenda escolar das crianças? Também é possível inovar com um cachorro-quente de cenoura ou um brownie de feijão. Ainda dá para vender e faturar uma graninha. Estas e outras receitas criadas pela cozinheira Regina Tchelly estão pintadas pelos muros do Morro da Babilônia e fazem parte da terceira edição do trabalho, este ano voltado para as escolas do Rio, que a partir de 2024 estão proibidas de oferecer alimentos ultraprocessados. O passo a passo, tim-tim por tim-tim e ainda com ilustrações, foi desenhado pelas artistas Vitória Trigo e Nathalie Ranzolin.

Regina fundou em 2011 a Favela Orgânica, que desde então ensina, principalmente para moradores da comunidade, sobre o consumo consciente e o aproveitamento integral dos alimentos. Muitas dessas receitas também estão no livro “Favela orgânica: aproveitamento integral de alimentos”, que em 2023 ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria Economia Criativa. Uma nova edição da obra, que em pouco tempo se esgotou, será lançada em uma sessão de autógrafos no espaço da Favela Orgânica, na Babilônia, no próximo dia 10, às 15h. O evento contará ainda com uma roda de conversa com mulheres empreendedoras.

E para fazer receitas saudáveis assim, a Favela Orgânica este ano ganhou um reforço de peso com a parceria de um outro projeto, o Orgânico Solidário, que desde janeiro entrega mais de 300 quilos de frutas, legumes e verduras a 50 mulheres da comunidade. A novidade é que a partir do mês que vem estes números vão mais que triplicar: serão 160 mulheres beneficiadas.

Terceira edição do trabalho pintado nos muros da Babilônia é voltada para a merenda das escolas do Rio — Foto: Divulgação/Regina Tchelly
Terceira edição do trabalho pintado nos muros da Babilônia é voltada para a merenda das escolas do Rio — Foto: Divulgação/Regina Tchelly

Criado no início da pandemia, o Orgânico Solidário completa quatro anos também em março. Trata-se de uma plataforma sem fins lucrativos que busca garantir o acesso a alimentos saudáveis para famílias em situação de vulnerabilidade social. Aziz Constantino, um dos idealizadores do Orgânico Solidário, conta que o objetivo é ressignificar a lógica de distribuição de comidas em periferias e favelas e democratizar o alimento nutritivo e saudável, além de gerar renda para a cadeia de produtores orgânicos agroecológicos.

— A cesta básica deveria servir para emergências, mas como a destinamos para a filantropia, ela acabou sendo 100% industrializada, e hoje tem um déficit nutricional muito alto. O único alimento que atinge o mínimo de nutrição é o feijão. E não olhamos para o médio e o longo prazos desses territórios que foram impactados. O que o Orgânico Solidário faz é trazer uma nova perspectiva. Não é uma cesta básica, é uma cesta base da transformação, que gera nutrição para as famílias, gera renda e regenera a terra — explica Constantino.

A fundadora da Favela Orgânica, Regina Tchelly, com a cesta do Orgânico Solidário — Foto: Divulgação/Matheus Reis
A fundadora da Favela Orgânica, Regina Tchelly, com a cesta do Orgânico Solidário — Foto: Divulgação/Matheus Reis

Entregue quinzenalmente, a cesta tem mais de seis quilos distribuídos em dez itens de alimentos frescos e orgânicos. Além de promover segurança nutricional e alimentar para as famílias da Babilônia, Constantino acrescenta que a intenção é também fortalecer iniciativas sociais relacionadas à gastronomia periférica, enaltecida pela Favela Orgânica.

— O plano é de longo prazo, mantendo as entregas recorrentes e aprofundando os indicadores de impacto, como implantação de hortas comunitárias e diversidade de oferta nos comércios locais — diz.

Aprendizados completos em torno do que se come

Aziz Constantino conta que, em seus programas, Regina Tchelly ministra aprendizados completos em torno dos alimentos, focando em segurança alimentar, nutrição, criatividade na cozinha e repertório agroecológico, e ressalta que a cesta do Orgânico Solidário funciona como um material didático para os moradores do morro.

Constantino lembra ainda que a parceria com a Favela Orgânica não é de agora: começou na pandemia, com entregas que se estenderam por mais de ano.

— Com a diminuição das doações, infelizmente acabamos priorizando outros projetos sociais. Com o crescimento da nossa atuação em diferentes regiões do Rio e do Brasil, somado à conquista de um dos principais prêmios de combate à fome do país no ano passado, conseguimos retomar fluxos maiores de doação e reativar esse e outros programas de segurança alimentar junto a projetos sociais — diz.

Caixa contém dez insumos frescos e pesa mais de seis quilos — Foto: Divulgação/Matheus Reis
Caixa contém dez insumos frescos e pesa mais de seis quilos — Foto: Divulgação/Matheus Reis

Na Zona Sul do Rio, o Orgânico Solidário mantém ainda doações ativas na Favela do Vidigal, para projetos com crianças voltados à prática de ioga e capoeira. As arrecadações são feitas por meio do site do projeto (https://organicosolidario.org), e os interessados podem doar o valor mínimo de uma cesta (R$ 60) ou ainda optar por uma assinatura solidária mensal, no mesmo valor, oferecendo uma renda contínua à iniciativa.

Programa em escolas e aulas de horta

Regina Tchelly reforça que a cesta, doada por meio do Orgânico Solidário, vai muito além de matar a fome temporariamente e ressalta que os alimentos duram mais tempo com as receitas e dicas de como aproveitar os insumos de forma integral dadas pela Favela Orgânica.

— Dependendo da família, as cestas durariam de cinco dias a dez dias, mas, aproveitando os itens integralmente, usando a semente da abóbora para fazer um leite, uma farofa, por exemplo, e também armazenando tudo da maneira correta, conseguimos muitas vezes dobrar e até triplicar esse tempo. Ensinamos a matar a fome empreendendo, por meio do ciclo do alimento, que multiplica a comida na panela e ao devolver o insumo à terra, ou seja ao se plantar, com as sementes, os talos ou a compostagem, adubo para os próprios alimentos — detalha Regina.

O projeto, por meio da Favela Orgânica e Suas Frentes, oferece ainda às beneficiadas aulas sobre como criar e manter uma horta, lições de nutrição e atendimento nutricional e psicológico.

Ivonides Silva, beneficiada pelo projeto, e a nutricionista Daiane Peixoto  — Foto: Divulgação
Ivonides Silva, beneficiada pelo projeto, e a nutricionista Daiane Peixoto — Foto: Divulgação

A Favela Orgânica nas Escolas também trabalha o consumo consciente e integral dos alimentos com alunos, professores e merendeiras, além de auxiliar na criação de hortas comunitárias. Um case de sucesso aconteceu na Escola Dom Cipriano Chagas, em Botafogo, que recebeu o programa por dois anos, botou em prática uma campanha de alimentos sem desperdícios e criou uma horta escolar. O resultado foi um merenda mais saudável e nutritiva.

A nutricionista Daiane Peixoto começou na Favela Orgânica como estagiária, em 2021, e hoje dá aulas e faz atendimento nutricional. Para ela, o projeto é uma ferramenta bem-sucedida de combate à fome, um problema que ainda é uma realidade no Brasil. Além disso, a profissional enfatiza que o programa gera a construção gradual de consciência para a alimentação mais saudável e o aproveitamento integral dos alimentos sem gerar custos para famílias que não poderiam pagar por isso:

— Isso torna a alimentação mais completa. Por exemplo, a casca de certas frutas e vegetais é rica em vitaminas e minerais, enquanto as folhas podem conter fibras e antioxidantes. A variedade de nutrientes na dieta é ampliada. E a alimentação mais saudável traz bem-estar e reduz doenças. Aproveitar tudo o que for possível também ajuda a reduzir os custos da casa com a compra de alimentos. E, no final das contas, auxilia na busca por sustentabilidade.

Regina recorda-se que a Favela Orgânica surgiu da sua inquietude ao ver o desperdício que acontecia nas feiras livres cariocas. Nascida no interior da Paraíba, ela cresceu vendo sua família plantando seu próprio alimento e aproveitando o máximo possível dele. Aos 19 anos, Regina, que hoje está com 42, mudou-se para o Rio, onde começou a trabalhar como empregada doméstica e cozinheira. Foi quando deparou-se com um cultura de desperdício que para ela era desconhecida.

Com apenas R$ 140, a cozinheira deu início ao projeto em sua própria casa, no Morro da Babilônia, onde reside até hoje. Na época, compartilhava com seis mulheres da comunidade os conhecimentos que acumulou com sua vivência na Paraíba. Atualmente a Favela Orgânica se expandiu, e a partir de uma abordagem holística, que engloba conceitos como consumo consciente, gastronomia alternativa, compostagem caseira e hortas em pequenos espaços, já levou oficinas e palestras para diversos estados do Brasil e países como França, Itália e Uruguai. Regina também já apresentou um programa de TV, chamado “Amor de cozinha”, no canal Futura, e tem planos para voltar às telinhas. Na Babilônia, o projeto também conta com um restaurante.

— A Favela Orgânica ensina a comer bem com o que tem, a empreender, a ter autonomia. A comida do futuro é agora. É aproveitar até o talo, porque talvez esse talo amanhã não exista — reflete Regina.

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