Zona Sul
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Por — Rio de Janeiro

Nos últimos dias, começou a circular na internet um vídeo do acervo do Arquivo Nacional com depoimentos de surfistas sobre a proibição do esporte em 1977. O material relembra um período ruim para o surfe e a frustração dos praticantes diante da imposição em uma época de ditadura militar. Ipanema foi o palco de muitas histórias envolvendo o tema.

— A proibição foi anterior aos anos 1970. Em 1965, quando eu tinha a minha primeira prancha, de madeirite, estava surfando e quando saí do mar a Polícia Militar apreendeu a prancha e a levou para o batalhão da Rua São Clemente. Meu pai foi comigo para retirar, e vimos centenas de pranchas que tinham sido apreendidas. Nos anos 1970 a proibição continuou, com muita perseguição — recorda o surfista Otávio Pacheco.

Em preto e branco. Surfistas observam ondas no píer de Ipanema — Foto: Arquivo pessoal/Daniel Sabba
Em preto e branco. Surfistas observam ondas no píer de Ipanema — Foto: Arquivo pessoal/Daniel Sabba

Tudo teria começado porque uma prancha, que na época era muito pesada e sem “cordinha”, teria machucado a mulher, ou filha, de um general do Exército. Na época, o esporte estava surgindo, e os praticantes eram marginalizados. As pranchas apreendidas muitas vezes acabavam quebradas a baionetas.

— Teve uma época em que só podíamos cair na água até as 8h e após as 14h. Nós desafiávamos a polícia, e eles ficavam na areia vigiando para nos pegar quando saíssemos. Muitas vezes íamos remando até o Leblon para sair. Era o Batalhão de Choque na areia e o barco do Salvamar na água. Éramos cercados de todos os lados. Os surfistas eram malditos porque o esporte representava a liberdade num tempo em que ela não existia — completa Pacheco.

Em 1966, o governador Negrão de Lima assinou um decreto de liberação para o esporte numa área de 200 metros do Arpoador e somente após as 14h.

— Essa foi a época mais horrível do surfe. As pranchas apreendidas eram muito difíceis de serem encontradas porque os militares do depósito no Batalhão da Polícia Militar, em Botafogo, não davam informações. Nós, surfistas, éramos criminalizados. Isso mudou quando os filhos dos militares começaram a pegar onda e as filhas começaram a namorar surfitas. Muitas vezes vaiávamos quando a polícia chegava, mas tínhamos medo de protesto, era uma época muito esquisita —diz o surfista Daniel Sabba.

O fotógrafo Fernando Lima conta que nunca teve sua prancha quebrada ou apreendida:

— Tive muita sorte. Muitas vezes eu ia remando até o píer para sair da água. O píer era um território livre. A gente não queria ficar sem surfar.

Lembranças de Rico de Souza

Ao lembrar a época em que o surfe era proibido, Rico de Souza recorda também suas histórias. Uma delas foi quando precisava se preparar para um campeonato no Havaí e explicou a um policial que estava na praia por que iria entrar no mar.

— Ele me disse que ia chamar o Batalhão de Choque e o helicóptero. O mar estava enorme e não tinha ninguém dentro da água. Quando eu entrei, vários surfistas foram junto comigo. Na hora de sair, o Choque já estava na areia — lembra.

Rico, que estava acompanhado de Relson Gracie, combinou que dois amigos iriam buscar a dupla na Avenida Niemeyer e que eles iam remar até o Sheraton.

Surfe. Adultos e crianças burlavam a proibição do surfe em Ipanema — Foto: Divulgação
Surfe. Adultos e crianças burlavam a proibição do surfe em Ipanema — Foto: Divulgação

— Sabia que poderíamos atravessar a praia mais rápido do que os policiais. Mas quando chegamos lá já havia outros agentes no local. Tinha um outro amigo que morava ali; resolvi que iria entrar na casa dele. Eu consegui, mas o Relson se machucou nas pedras — conta.

A dupla conseguiu entrar na Kombi dos amigos, mas logo chegou o camburão.

— Eles queriam que entrássemos no camburão. Eu falei que não iríamos, e até o guarda do Sheraton interferiu para nos ajudar. Eles levaram nossas pranchas para o batalhão da Siqueira Campos, em Copacabana. Fomos lá resgatar. Quando chegamos, encontrei um amigo bicampeão de surfe que teve a prancha apreendida no mesmo dia — lembra.

Rico avalia que se fosse em dia, talvez não desafiasse a polícia:

—Naquela época era normal a gente ignorar a lei e ir surfar. Não sei se eu faria isso hoje em dia. Admito que a situação das pranchas e dos banhistas era perigosa. O esporte cresceu, vieram as cordinhas e tudo mudou.

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