RIO — Depois de comissão de frente e casal de mestre-sala e porta-bandeira, inventaram a alegoria exclusiva para os jurados. O abre-alas do Paraíso do Tuiuti passou vazio pela avenida; os componentes só subiam para encenar uma guerra na frente dos jurados.
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O primeiro dos muitos equívocos da escola de Paulo Barros, carnavalesco quatro vezes campeão, mas que foi salvo pelo samba excelente e pela bateria inspirada de Mestre Marcão. Por eles, a Azul e Amarelo permanecerá no grupo.
Embalada pelo samba da carta:
Viradouro busca o bi lembrando o carnaval de 1919
A África com pitadas de Disney e Hollywood não funcionou.
Referências a ícones pop como Beyoncé, RuPaul e Obama, em metáforas com orixás entram para a lista de bizarrices carnavalescas. O Brasil tem personalidades negras de sobra, dispensa a importação de personagens.
Própria história:
Cartola, Jamelão, Delegado e uma multidão de 'camisas' na Mangueira
As alas passaram com filas dos dois lados, vestidas de fantasias sempre iguais, variando apenas as cores. No mais, foi um burocrático desfile de orixás.
Luxo e glória do carnavalesco:
Homenagem a Arlindo Rodrigues rende celebração ao carnaval na correta Imperatriz
O quarto carro teve problemas, abrindo buraco em frente ao primeiro módulo de julgamento. E no fim, correu.
Sorte do Tuiuti foi o seu chão.
Sintonia arranhada por acidentes com fantasias
A expectativa para ver as Rainha e Princesa de Bateria da Paraíso do Tuiutí, juntas, na Marquês de Sapucaí era grande. Afinal, os últimos encontros entre as duas foram nada tranquilos. Mas Thay Magalhães e Mayara Lima estavam em sintonia na noite de sábado. O problema foi com as fantasias de ambas, que deixaram genitália e seios à mostra em trechos do desfile.
Abrindo caminhos na Sapucaí
A Paraíso do Tuiuti abriu a segunda noite de desfiles na Sapucaí com o enredo "Ka ríba tí ÿe - Que Nossos Caminhos Se Abram", contando histórias de luta, sabedoria e resistência do povo preto. A lembrou nomes de personalidades negras como Barack Obama, Beyoncé, Nelson Mandela e Catherine Johnson.
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A ideia do carnavalesco Paulo Barros foi apresentar um desfile afrofuturista, num enredo que aborde a glorificação do povo preto, associando personagens conhecidos aos orixás do candomblé. Mandela, por exemplo, veio representado como Oxalá.
A escola mostrou 20 personalidades negras contemporâneas que escreveram seu nome na história com características de 20 divindades africanas. Com isso, cada ala da Tuiuti homenageou um personagem pioneiro nas conquistas do povo negro e reverenciar uma divindade.
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Confira o samba-enredo
“Ka Ríba TiI Ye – Que nossos caminhos se aram”
Autores: Moacyr Luz, Cláudio Russo, Aníbal, Píer, Júlio Alves e Alessandro Falcão
Intérpretes: Celsinho Mody e Carlos Júnior
Olodumarê mandou
Oxalá me conduzir pelo céu da liberdade
Me falou Orunmilá
Vai, meu filho, semear pelo mundo a humanidade
Nos caminhos de Exu
Me perdendo encontrei nua e crua essa verdade
Que a raiz do preconceito
Nasce do olhar estreito da cruel desigualdade
Sou alabê gungunando o tambor
Trago cantos de dor, de guerra e de paz
Pra ver secar todo pranto nagô
E gritar por direitos iguais
Meu sangue negro que escorre no jornal
Inundou um oceano até a Pedra do Sal
Eh! Dandara!
A espada e a palavra, eh!
Não vai ser escrava
Hei de ver noutras negras minas
Um baobá malê que nasceu do chão
Pra vencer a opressão com a força da melanina
Negro é cultura e saber
Ka Ríba Tí Yê, caminhos de sol
Onde Mercedes, Estelas
Por becos e vielas
Se fazem farol
Pra iluminar Alafins
E morrer só de rir feito mil Benjamins
E cantar! Cantar! Cantar…
A beleza retinta que veio de lá
E cantar! Cantar! Cantar…
Pra saudar o meu Orixá
Ogunhiê! Okê arô!
Laroyê! Meu pai, kaô
Tem sangue nobre de Mandela e de Zumbi
Nas veias do povo preto do meu Tuiuti
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