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Com energia de Exu, Grande Rio quebra tabus e é campeã do carnaval do Rio

Escola de Duque de Caxias conquistou seu primeiro campeonato desde sua estreia no Grupo Especial, em 1991, com desfile considerado histórico pelos críticos
Desfile da Grande Rio na Marquês de Sapucaí Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Desfile da Grande Rio na Marquês de Sapucaí Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO - Tabus caíram na apuração do carnaval do Rio na tarde desta terça-feira. Pela primeira vez na história, a Acadêmicos do Grande Rio conquistou o título do Grupo Especial, depois de bater na trave quatro vezes, com quatro vice-campeonatos desde que estreou na elite da folia carioca, em 1991. A tricolor de Duque de Caxias terminou a apuração com 269,9 pontos, coroando um desfile considerado histórico pela crítica especializada, com um enredo que nasceu com o objetivo de desmistificar a imagem de Exu. A apresentação que arrebatou o público misturando exuberância visual com a energia do samba e da bateria, consagrou ainda a jovem dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, que assinou este ano apenas seu segundo carnaval entre as grandes da folia.

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Os dois tinham estreado na Grande Rio em 2020, depois de serem os responsáveis por desfiles premiados nos grupos de acesso, com os da Acadêmicos do Cubango em 2018 e 2019. Desde então, eles já se destacavam por inovações, com uma linguagem muito conectada com a arte contemporânea brasileira.

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A vencedora do Estandarte de Ouro de melhor escola e mais quatro categorias arrebatou a Sapucaí com alegorias gigantes e com tons quentes, como o vermelho do abre-alas, para mostrar as facetas de Exu, não só o orixá, mas também suas manifestações no dia a dia, como Exu Catiço. No último carro, por exemplo, a estrutura era toda coberta de restos de fantasias velhas, pedaços de esculturas, adereços de outros carnavais e lixo recolhido pelos catadores da associação do antigo aterro de Gramacho, em Duque de Caxias. No enredo, era uma das soluções dos carnavalescos para mostrar que uma das chaves de compreensão do orixá é a transformação, a reciclagem.

Outro grande destaque da agremiação foi a comissão de frente, coreografada por Helio e Beth Bejani, em que o ator Demerson Dalvaro encarnou Exu e venceu o Estandarte de Ouro como destaque do público neste carnaval.

Antes mesmo da leitura das notas, a escola já havia renovado com os carnavelescos campeões.

— Renovamos ontem, vamos seguir com esse processo vitorioso que temos em Caxias. Fomos abraçados pela comunidade, temos total apoio do nosso presidente, é motivo de orgulho para a gente poder defender essa grande Escola — disse Gabriel Hadad na Praça da Apoteose.

No primeiro quesito, fantasias, Grande Rio, Portela, Beija-Flor e Viradouro começaram empatadas em primeiro lugar. Em harmonia, seguiram na ponta apenas Grande Rio e Beija-Flor. Em comissão de frente, a Grande Rio assumiu a liderança isolada. Mas, em samba-enredo, a escola perdeu um décimo e, nos critérios de desempate, ficou atrás da Beija-Flor. Em alegorias e adereços, o sexto quesito a ser lido, veio uma nova virada, com a Grande Rio novamente na liderança, apenas com notas 10, após a agremiação de Nilópolis ter perdido décimos preciosos ao desfilar sem destaques num dos carros e, no abre-alas, com a estrutura de um antílope quebrada. Nos quesitos seguintes, a Grande Rio não perdeu mais a frente e venceu.

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Em último lugar, rebaixada para a Série Ouro em 2023, ficou a São Clemente, que homenageou o artista Paulo Gustavo, mas não empolgou os jurados, com notas baixas em quesitos como enredo e samba-enredo.

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Já a Beija-Flor de Nilópolis ficou em segundo lugar, com um desfile exuberante que reivindicou seu lugar de fala no enredo "Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor". A azul e branca surpreendeu com a grandiosidade de suas alegorias na primeira noite de desfilesCom uma forte mensagem antirracista no que foi apelidado de "carnaval preto", a agremiação trouxe da comissão de frente à última alegoria uma homenagem a artistas e intelectuais negros.

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A campeã de 2020, a Unidos do Viradouro, terminou em terceiro lugar, seguida por Unidos de Vila Isabel, que celebrou Martinho da Vila na Avenida.

Martinho da Vila na comissão de frente da Vila Isabel Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
Martinho da Vila na comissão de frente da Vila Isabel Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo

Em quinto lugar ficou a Portela, com o Acadêmicos do Salgueiro fechando a lista de seis agremiações que voltam no desfile das Campeãs, no próximo sábado.

Fora das campeãs depois de muitos anos, a Mangueira terminou em sétimo, com a Mocidade Independente de Padre Miguel em oitavo, Unidos da Tijuca em nono, Imperatriz Leopoldinense em décimo e Paraíso do Tuiuti na penúltima posição.

A apuração começou com a Mocidade perdendo um décimos devido ao desacoplamento do abre-alas durante o desfile. Enquanto a Paraíso do Tuiuti largou com menos dois décimos, por causa do atraso de dois minutos para deixar a pista. Já a Mangueira foi multada por causa do atraso na retirada dos carros alegóricos do barracão.

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