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Estandarte de Ouro: Império Serrano é eleita a melhor escola da Série Ouro no carnaval 2022

Inocentes de Belford Roxo venceu o prêmio de samba-enredo. Vencedores foram escolhidos na manhã desta sexta-feira, após o segundo dia de desfiles do grupo
Império Serrano levou para a Avenida enredo contando a história de Manuel Henrique Pereira Foto: Fabio Motta / Prefeitura do Rio / Divulgação
Império Serrano levou para a Avenida enredo contando a história de Manuel Henrique Pereira Foto: Fabio Motta / Prefeitura do Rio / Divulgação

RIO — O Império Serrano foi eleita a melhor escola da Série Ouro de 2022 pelos jurados do Estandarte de Ouro, prêmio O GLOBO/Extra aos melhores do carnaval . A verde e branco de Madureira, última a desfilar, pouco antes de o dia clarear nesta sexta-feira, veio com o  enredo "Mangangá", sobre um célebre capoeirista baiano, do carnavalesco Leandro Vieira, o mesmo da Mangueira, no Grupo Especial.

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A ganhadora do Estandarte de Ouro de melhor samba-enredo da Série Ouro de 2022 é a Inocentes de Belford Roxo, com "A meia-noite dos tambores silenciosos", inspirado no maracatu. Os compositores são Cláudio Russo, Júnior Fionda, Lequinho, Tem Tem Jr., Fadico, Altamiro, Tem Tem Sampaio e Marcelinho Santos.

As juradas Rachel Valença e Maria Augusta não julgaram a Série Ouro.

Os vencedores dos prêmios no Grupo Especial serão divulgados domingo de manhã. O Estandarte de Ouro completa 50 edições este ano.

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Império Serrano levou o Estandarte de melhor escola na Série Ouro Foto: Pedro Ivo / Prefeitura do Rio / Divulgação
Império Serrano levou o Estandarte de melhor escola na Série Ouro Foto: Pedro Ivo / Prefeitura do Rio / Divulgação

A verde e branco de Madureira, que fechou os desfiles da Série Ouro, apresentou em seu enredo, sob o comando do carnavalesco Leandro Vieira, a história de Manuel Henrique Pereira, imortalizado como o capoeirista Besouro Mangangá, que segundo a lenda tinha o corpo fechado e protegido pelos orixás. A escola, que levou até um "besouro-drone" para a Avenida, mostrou ainda a luta do capoeirista pela libertação dos negros. A grande novidade do desfile foi a bateria do Mestre Vitinho, que trouxe um naipe de berimbaus.

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O carnavalesco destacou a união da escola em abraçar o enredo e a representatividade que levou para a Sapucaí. Uma das principais preocupações foi caprichar nos detalhes para fazer um desfile que dispute pela vaga no Grupo Especial.

— É uma alegria fazer parte do desfile do Império. Ver que a fantasia que eu desenho e as alegorias que eu penso estão alinhadas com os outros quesitos da escola — disse Leandro Vieira. — O meu trabalho nunca vai ser marcado pelo luxo, e acho que conseguir criar uma estética original pra poder vestir uma escola que se apresentou com pinta de escola rica é um super desafio.

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A Inocentes de Belford Roxo lembrou de pessoas negras mortas pela violência Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
A Inocentes de Belford Roxo lembrou de pessoas negras mortas pela violência Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

Preparando-se para o desfile da Mangueira na Avenida, Leandro diz que o momento de pisar novamente da Sapucaí foi marcado pela volta do carnaval e da festa, que na Série Ouro trouxe a resistência entre as principais inspirações. A pandemia de Covid-19 ressignificou esse retorno:

— Foi muito emocionante pisar na Avenida depois de dois anos, com saúde, podendo abraçar pessoas que eu gosto e ver o público ali. Foi muito emocionante mesmo. Foi a certeza de que a vida venceu a morte.

E em uma demonstração de aliar resistência à festa, com o enredo "A meia-noite dos tambores silenciosos", a Inocentes de Belford Roxo viajou até o Recife para contar a história de uma tradição do carnaval pernambucano: a Noite dos Tambores Silenciosos. Uma festa que há mais de 50 anos celebra a ancestralidade negra.

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A Inocentes de Belford Roxo apresentou uma tradição do carnaval pernambucano, “A meia-noite dos tambores silenciosos”, uma cerimônia de sincretismo religioso realizada em Recife Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
A Inocentes de Belford Roxo apresentou uma tradição do carnaval pernambucano, “A meia-noite dos tambores silenciosos”, uma cerimônia de sincretismo religioso realizada em Recife Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

A música homônima do cantor e compositor Lenine foi o estopim para o tema ser proposto pelo carnavalesco Lucas Milato, imediatamente abraçado pela agremiação. A apresentação da primeira versão do samba-enredo logo se sagrou como ponto de partida, e dispensou a ideia de fazer um concurso para escolher a composição.

— As frases são cantadas, os termos usados são afro, alguns não são de fácil conhecimento. E mesmo assim, até o fim, nos setores 12 e 13, as pessoas cantaram na íntegra. Vimos isso durante toda a Avenida, cantando muito e exaltando essa festa em Recife — diz Reginaldo Gomes, presidente da Inocentes de Belford Roxo. — Nós botamos um trio, pela primeira vez, com três cantores na frente do carro de som. Era obrigação ter o carro de som muito forte para fazer esse som ainda mais forte, como tinha que ser.

"Oyá igbalé Oyá / Sou eu a voz dos Inocentes / Oyá eparrei Oyá / A alma preta se faz presente", diz trecho do samba-enredo premiado neste ano. Cláudio Russo, um dos compositores, conta que a opção por palavras pouco usuais para a maioria foi um "desafio bom", integrando a cultura negra ainda mais ao samba da Avenida.

— Estamos todos muito felizes. É um samba que representa a ancestralidade africana, principalmente em Pernambuco. A gente veio considerando esse um samba forte, mas num desfile ao lado de outros muitos bons. Quando passamos na Avenida é que tivemos certeza do samba ganhar. A Avenida é um termômetro — diz Cláudio Russo.

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Às 9h45, apesar da noite agitada na Avenida, o compositor Júnior Fionda ainda não conseguia se desligar. Após cruzar a Sapucaí, a notícia da premiação da Belford Roxo com o Estandarte elevou ainda mais a adrenalina. Tanta representatividade, no samba construído dentro da própria casa, deu um peso maior ao enredo, conta:

— Um grande enredo só pode trazer um bom samba. Uma festa que acontece em Recife e nunca foi falada na Avenida. A gente precisa da cultura brasileira hoje ainda mais. Fazer um samba sobre a alma preta, pertencimento e ancestralidade. A gente já sabia que faria um samba com força, forte. Sobre esse prêmio, só os orixás poderiam prever. Esse evento é o maracatu, mas antes é um terreiro, onde são evocados os ogus, onde se reúnem familiares de pretos mortos injustamente. É uma representatividade muito grande, e nunca foi falado na Avenida.

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O prêmio para a Inocentes foi uma surpresa, diferente da Império Serrano, onde também participou do desfile, auxiliando na comissão de frente. A volta do carnaval foi especial, resume:

— (O prêmio) Do Império já era bem esperado. Na Avenida, a gente sente. A química entre público, escola, chão, eu tinha quase certeza. A Inocentes eu queria, mas é um ano mais difícil porque, acho, mais temos sambas bons no grupo de acesso, de todos os tempos.