Rio Carnaval Carnaval 2022

Samba e bateria seguram Tuiuti no Grupo Especial

Escola ultrapassou o tempo regulamentar em dois minutos e perderá dois décimos
Unidos da Tuiuti levou a África de Paulo Barros para a Sapucaí Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Unidos da Tuiuti levou a África de Paulo Barros para a Sapucaí Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO — Depois de comissão de frente e casal de mestre-sala e porta-bandeira,  inventaram a alegoria exclusiva para os jurados. O abre-alas do Paraíso do Tuiuti passou vazio pela avenida; os componentes só subiam para encenar uma guerra na frente dos jurados.

Negros 'invisíveis': Beija-Flor reivindica seu lugar de fala para celebrar o pensamento do povo preto na Avenida

O primeiro dos muitos equívocos da escola de Paulo Barros, carnavalesco quatro vezes campeão, mas que foi salvo pelo samba excelente e pela bateria inspirada de Mestre Marcão. Por eles, a Azul e Amarelo permanecerá no grupo.


Embalada pelo samba da carta: Viradouro busca o bi lembrando o carnaval de 1919
A África com pitadas de Disney e Hollywood não funcionou.
Referências a ícones pop como Beyoncé, RuPaul e Obama, em metáforas com orixás entram para a lista de bizarrices carnavalescas. O Brasil tem personalidades negras de sobra, dispensa a importação de personagens.

Própria história: Cartola, Jamelão, Delegado e uma multidão de 'camisas' na Mangueira

As alas passaram com filas dos dois lados, vestidas de fantasias sempre iguais, variando apenas as cores. No mais, foi um burocrático desfile de orixás.

Luxo e glória do carnavalesco: Homenagem a Arlindo Rodrigues rende celebração ao carnaval na correta Imperatriz
O quarto carro teve problemas, abrindo buraco em frente ao primeiro módulo de julgamento. E no fim, correu.

Sorte do Tuiuti foi o seu chão.

Sintonia arranhada por acidentes com fantasias


Drums queen Thay Magalhaes from Paraiso do Tuiuti samba school performs during the second night of the Carnival parade at the Sambadrome in Rio de Janeiro, Brazil, April 23, 2022. REUTERS/Amanda Perobelli Foto: AMANDA PEROBELLI / REUTERS
Drums queen Thay Magalhaes from Paraiso do Tuiuti samba school performs during the second night of the Carnival parade at the Sambadrome in Rio de Janeiro, Brazil, April 23, 2022. REUTERS/Amanda Perobelli Foto: AMANDA PEROBELLI / REUTERS

A expectativa para ver as Rainha e Princesa de Bateria da Paraíso do Tuiutí, juntas, na Marquês de Sapucaí era grande. Afinal, os últimos encontros entre as duas foram nada tranquilos. Mas Thay Magalhães e Mayara Lima estavam em sintonia na noite de sábado. O problema foi com as fantasias de ambas, que deixaram genitália e seios à mostra em trechos do desfile.

Abrindo caminhos na Sapucaí

A Paraíso do Tuiuti abriu a segunda noite de desfiles na Sapucaí com o enredo "Ka ríba tí ÿe - Que Nossos Caminhos Se Abram", contando histórias de luta, sabedoria e resistência do povo preto. A  lembrou nomes de personalidades negras como Barack Obama,  Beyoncé, Nelson Mandela e Catherine Johnson.

Portela : Ancestralidade toma a Avenida para enaltecer a força do baobá africano

Mocidade : Oxóssi caçador é aposta para mirar na briga pelo título

Unidos da Tijuca : Supercolorida, Unidos da Tijuca traz de volta a pauta indígena para a Sapucaí ao cantar a lenda do guaraná

Grande Rio : Da comunidade à rainha Paolla Oliveira, escola se veste de Exu para desmistificar a divindade afro-brasileira

Vila Isabel : Martinho encerra o carnaval na homenagem da escola ao sambista que revolucionou a festa

A ideia do carnavalesco Paulo Barros foi apresentar um desfile afrofuturista, num enredo que aborde a glorificação do povo preto, associando personagens conhecidos aos orixás do candomblé. Mandela, por exemplo, veio representado como Oxalá.

A escola mostrou 20 personalidades negras contemporâneas que escreveram seu nome na história com características de 20 divindades africanas. Com isso, cada ala da Tuiuti homenageou um personagem pioneiro nas conquistas do povo negro e reverenciar uma divindade.

Histórico: Renovado, o Estandarte de Ouro completa 50 edições no ano da volta do desfile das escolas na Sapucaí

Confira o samba-enredo

“Ka Ríba TiI Ye – Que nossos caminhos se aram”

Autores: Moacyr Luz, Cláudio Russo, Aníbal, Píer, Júlio Alves e Alessandro Falcão

Intérpretes: Celsinho Mody e Carlos Júnior

Olodumarê mandou
Oxalá me conduzir pelo céu da liberdade
Me falou Orunmilá
Vai, meu filho, semear pelo mundo a humanidade
Nos caminhos de Exu
Me perdendo encontrei nua e crua essa verdade
Que a raiz do preconceito
Nasce do olhar estreito da cruel desigualdade
Sou alabê gungunando o tambor
Trago cantos de dor, de guerra e de paz
Pra ver secar todo pranto nagô
E gritar por direitos iguais
Meu sangue negro que escorre no jornal
Inundou um oceano até a Pedra do Sal

Eh! Dandara!
A espada e a palavra, eh!
Não vai ser escrava
Hei de ver noutras negras minas
Um baobá malê que nasceu do chão
Pra vencer a opressão com a força da melanina

Negro é cultura e saber
Ka Ríba Tí Yê, caminhos de sol
Onde Mercedes, Estelas
Por becos e vielas
Se fazem farol
Pra iluminar Alafins
E morrer só de rir feito mil Benjamins
E cantar! Cantar! Cantar…
A beleza retinta que veio de lá
E cantar! Cantar! Cantar…
Pra saudar o meu Orixá

Ogunhiê! Okê arô!
Laroyê! Meu pai, kaô
Tem sangue nobre de Mandela e de Zumbi
Nas veias do povo preto do meu Tuiuti

Ano atípico: Quinta é carnaval? Sexta é feriado? Entenda como vai funcionar o feriadão

Carnaval 2022: Confira as interdições e acessos ao Sambódromo e à Intendente Magalhães para os desfiles