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Estandarte de Ouro vai ter a categoria Fernando Pamplona, que incentiva uso de material barato

Pamplona já aproveitou caixas de requeijão para fazer argola, em 1960
Desfile da Vila Isabel em 2012: criatividade de Rosa Magalhães foi o destaque Foto: Gabriel de Paiva/2012
Desfile da Vila Isabel em 2012: criatividade de Rosa Magalhães foi o destaque Foto: Gabriel de Paiva/2012

RIO - “Tem que se tirar da cabeça aquilo que não se tem no bolso” está para Fernando Pamplona como “Penso, logo existo” para Descartes. Assim como o filósofo e matemático francês, o carnavalesco pioneiro tinha uma frase que orientava seu trabalho. Para o mestre, que estreou há 60 anos, fazer fantasias e alegorias de grande efeito com material barato era essencial. E a capacidade de driblar a falta de dinheiro, este ano mais do que nunca, não será em vão: o Estandarte de Ouro, prêmio O GLOBO/Extra aos melhores do carnaval, terá a categoria especial Fernando Pamplona, para estimular quem enche os olhos do público com poucos recursos.

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O professor da Escola Nacional de Belas Artes se encantou com o Salgueiro ao ser jurado em 1959 e virou seu carnavalesco no ano seguinte. Estreou campeão, usando caixas de Catupiry para fazer argolas de guerreiros africanos. Integrou o júri do Estandarte de Ouro e, já afastado, ganhou um prêmio especial pelo conjunto da obra. Morreu em 2013. Em 1986, enredo da vermelho e branco em sua homenagem foi “Tem que se tirar da cabeça aquilo que não se tem no bolso", frase que ouviu do diretor de teatro Mário Brasini e adotou.

O carnavalesco Pamplona Foto: Daniela Dacorso
O carnavalesco Pamplona Foto: Daniela Dacorso

Seus discípulos aprenderam a lição. Maria Augusta, hoje jurada do Estandarte de Ouro, decorou pranchas de isopor com feltro numa ala de surfistas no enredo “Domingo”, na União da Ilha em 1977. A tricolor ganhou o prêmio do GLOBO de melhor escola e por um ponto não foi campeã no júri oficial. Rosa Magalhães criou na Vila Isabel, em 2012, a alegoria “Imbondeiro, a árvore da vida”, revestida de retalhos em cores fortes, conquistando o troféu de melhor escola.

Em 1999, a Mocidade levou o Estandarte de melhor escola trazendo um pierrô cuja gola era de copos descartáveis, criação de Renato Lage.

A entrega do Estandarte de Ouro será dia 13 de março, no Armazém 1 do Pier Mauá. Na ocasião, os autores de “... E o povo na rua cantando é feito uma reza, um ritual”, da Portela de 2012, receberão o prêmio “Samba da década”, escolhido por votação na internet.

Pamplona aproveitou caixas de requeijão para fazer argola em 1960 Foto: Reprodução
Pamplona aproveitou caixas de requeijão para fazer argola em 1960 Foto: Reprodução

Outros premiados

Além da categoria Fernando Pamplona, serão premiados escola, samba-enredo, bateria, enredo, comissão de frente, mestre-sala, porta-bandeira, inovação, personalidade, ala, ala das baianas, puxador, ala de passistas e destaque do público, no Grupo Especial; na Série A, escola e samba-enredo. No “Destaque do público”, internautas vão votar a partir de uma seleção feita pelos sites do GLOBO e do “Extra”. Na terça-feira, após a última escola, o leitor elegerá um item de uma das 13 agremiações do Grupo Especial.

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Compõem o júri o jornalista Argeu Affonso, presidente; o escritor Alberto Mussa; o jornalista Aloy Jupiara; o empresário Bruno Chateaubriand; a cantora Dorina; o professor da Uerj Felipe Ferreira; o ator, produtor e escritor Haroldo Costa; o jornalista Leonardo Bruno; o produtor musical Luis Filipe de Lima; o pesquisador Luiz Antonio Simas; o jornalista Marcelo de Mello, coordenador; a professora e carnavalesca Maria Augusta; o músico Mestre Odilon; e a pesquisadora e escritora Rachel Valença. Ferreira e Rachel não julgarão a Série A.

Em 2021, prêmio terá a 50ª edição

Sempre tradição

O desfile era na Avenida Presidente Vargas; a Beija-Flor,uma escola modesta do Segundo Grupo; Leandro Vieira, carnavalesco da Mangueira, não tinha nascido quando o Estandarte de Ouro foi criado em 1972. Na sua 50ª edição, em 2021, quase nada vai lembrar aquele distante desfile em que o Império Serrano venceu com “Alô, alô, taí Carmen Miranda”. Mas o prêmio EXTRA/O Globo aos melhores do carnaval continua uma tradição.

Atrações

A comemoração terá prêmios especiais, conteúdos digitais exclusivos para os assinantes, lembranças dos premiados e enquetes, seguindo a tendência de abrir espaço à interatividade, que motivou a criação da categoria Destaque do Público em 2018.

Destaque

“O Estandarte formou uma galeria de notáveis. Ao submetê-los à votação popular,estaremos elegendo quem conseguiu o reconhecimento de especialistas na ocasião e ao mesmo tempo passou pelo filtro da história a ponto de se destacar até hoje. Será o melhor de 50 anos de carnaval” , elogia o jornalista Marcelo de Mello.

Autonomia

A principal diferença do Estandarte de Ouro para o júri oficial é que os jurados podem ignorar falhas técnicas se acharem que são detalhes num conjunto empolgante. No desfile do Cristo Mendigo,em 1989, a Beija-Flor abriu pequeno buraco e parte das alas se embolou. A Azul e branco ficou em segundo lugar, mas ganhou o troféu de melhor escola dos jurados do GLOBO.