A Paraíso do Tuiuti abre a segunda noite do Grupo Especial com um enredo que conta a origem e as lendas dos búfalos da Ilha de Marajó, no Pará, com desfile marcado para começar às 22h. Com uma equipe renovada, Wander Pires é quem dá voz ao samba enredo e Mayara Lima, princesa de bateria em 2022, assume o trono como rainha. Já a veterana e multicampeã Rosa Magalhães e João Vitor Araújo são as mentes pensantes por trás do enredo "Mogangueiro da cara preta".
— Nosso enredo começa na Índia, no século XIX, país de origem desse animal. Eles faziam parte do comércio de especiarias, em que se comercializavam tecidos, temperos e búfalos. Um carregamento que saiu a caminho da Guiana Francesa sofreu um acidente no meio do caminho e esse navio teria batido numa pedra, a tripulação humana morreu, mas os bichos conseguiram nadar até a Ilha de Marajó — detalha João Vitor, que está de volta à escola, após ter dado lugar a Paulo Barros no último carnaval.
Esse é o ponto de partida para o "Mongangueiro da Cara Preta", enredo que desbrava a história da origem dos búfalos do país, que não era conhecida pelos próprios carnavalescos antes da elaboração deste carnaval, segundo João.
As lendas em torno do búfalo, contadas desde os tempos da escravidão, davam conta de aventuras de um tempo em que os bichos falavam, dançavam e cantavam. No dia a dia, os animais são usados até como montaria pela polícia e, à noite, conforme aponta o enredo, são lembrados pela canção de ninar "Boi da cara preta".
As belezas da ilha, as artes marajoaras e o folclore também serão destacados na Avenida, bem como as músicas, a dança e o carimbó:
— A gente traz para o desfile o grande Mestre Damasceno, um artista múltiplo, que vive na região da Ilha de Marajó, um dos compositores mais famosos da região Norte, responsável pela criação do Búfalo-Bumbá, que, na verdade, é uma adaptação do auto do boi — conclui João Vitor, à frente do desfile que também contará com a presença da cantora Fafá de Belém.
A Paraíso o Tuiuti chega ao seu primeiro carnaval após a "promoção" de Mayara Lima, então princesa de bateria em 2022, que reina soberana como rainha neste ano. Penúltima colocada no último carnaval, a comunidade de São Cristóvão conta com vozeirão de Wander Pires para levantar a Sapucaí, com os versos de "cadê o boi?".
Conheça a letra do samba
'Mogangueiro da Cara Preta'
- Autores: Alessandro Falcão / Cláudio Russo / Gustavo Clarão / Julio Alves / Moacyr Luz / Pier Ubertini / W. Correia
Num mar de tempestade e ventania
Foi trazendo especiarias
Que o barco naufragou
Noz moscada, cravo, iguarias
No caminho para as Índias
O marinheiro se perdeu na madrugada
O mogangueiro correu para o igarapé
A curuminha entoou uma toada
Enquanto abria-se a flor do mururé
E nesse encontro entre o rio e o oceano
A grande ilha que cultiva o carimbó
Dizem que índios ainda falam com humanos
Há muitos anos na Ilha de Marajó
Eh! Batuqueiro no samba de roda, curimbó
Quero ver você cantar, como canta o curió
Okê caboclo! Onde vai a piracema?
Rio acima segue o voo de uma juriti pepena
Há mão que modela a vida
No barro marajoara
E o búfalo que pisa
Esse chão do parauara
Chama o Mestre Damasceno
Pra entoar esta canção
Das cantigas da vovó
Do tempo da escravidão
É lá! É lá! É lá!
Canoeiro vive só “morená”
É lá! É lá! É lá!
Mas precisa de um xodó
Cadê o boi?
O mogangueiro, o mandigueiro de Oyá
Meu tuiuti não tem medo de careta
A trás o boi da cara preta do estado do Pará
Ficha técnica
- Fundação: 05/04/1952
- Cores: Amarelo ouro e azul pavão
- Presidente: Renato Thor
- Carnavalescos: Rosa Magalhães e João Vitor Araújo
- Diretor de carnaval: André Gonçalves
- Intérprete: Wander Pires
- Mestre de bateria: Marcão
- Rainha de bateria: Mayara Lima
- Mestre-Sala e porta-bandeira: Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane
- Comissão de Frente: Lucas Maciel e Karina Dias