Carnaval
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Por João Vitor Costa e Lucas Altino — Rio de Janeiro

Um desfile colorido e mesclando estilos diferentes fez o Paraíso do Tuiuti sair da Sapucaí com a sensação de dever cumprido. A proposta da escola de contar a história dos búfalos da Ilha do Marajó mostrou química entre os carnavalescos Rosa Magalhães e João Vitor. A escola de São Cristóvão conseguiu um desfile vibrante, com e muitas cores vivas na avenida.

Na pista, chamou a atenção o brilho nas fantasias dos destaques nos carros alegóricos, em referência às Índias. Saudando a cultura e os saberes populares, além de fazer uma contextualização histórica, o enredo foi bem desenvolvido. Após a penúltima colocação no ano passado, a Tuiuti pode sonhar com uma apuração mais tranquila na quarta de cinzas.

Com o enredo "O Mogangueiro da cara preta", sobre as origens e lendas dos búfalos da Ilha de Marajá, a Paraíso do Tuiuti abriu a segunda noite de desfiles do Grupo Especial. A escola de São Cristóvão conseguiu um desfile vibrante, com samba animado e muitos brilhos e cores vivas na Avenida. Chamaram atenção as fantasias dos destaques nos carros alegóricos, em referência às Índias. Já as fantasias dos desfilantes de pista eram menos luxuosas, mas ajudaram a contar bem a história.

A equipe renovada contou com o intérprete veterano Wander Pires e a dupla de carnavalescos Rosa Magalhães,  multicampeã do carnaval, e João Vitor Araújo, de volta à escola após passagem de Paulo Barros no ano passado, quando a agremiação de São Cristóvão foi a penúltima colocada.

Aclamada pelo público na concentração e ao ser anunciada nos microfones do Sambódromo, Mayara Lima, que desfilou fantasiada de Deusa Marajoara, roupa com pedraria azul estreia como rainha de bateria da escola.

— Estou muito feliz, vivendo um sonho. Esperando algo grandioso, me emocionei ao chegar aqui. Meu primeiro ano como rainha, já no Grupo Especial. Quando cheguei a escola ainda estava no Grupo B — relembra.

A agora rainha viveu momentos de apuros no desfile de 2022, quando ainda era princesa de bateria. Seu tapa-sexo arrebentou durante o desfile, o que poderia ter tirado pontos da agremiação, já que o regulamento dos desfiles proíbe a genitália desnuda.

— Não (terá problemas), está tudo certo — garantiu Mayara, antes do desfile. No ano passado, Mayara viralizou antes do carnaval, ao publicar um vídeo dançando em sincronia com integrantes da bateria Super Som. — É um body todo trabalhado em pedras, feito por um ateliê que eu amo e tinha o sonho de trabalhar junto há muito tempo. Vai dar tudo certo

O vídeo, que atingiu mais de 1 milhão de visualizações em 24 horas, tornou Mayara personalidade daquele pre-carnaval, o que gerou polêmica com a então rainha, Thay Magalhães, que anunciou que deixaria o cargo ao fim do desfile.

Aplaudida pelo público do Setor 1 ao entrar na Avenida, a comissão de frente foi composta por 28 bailarinos. Os dançarinos se dedicaram a ensaios diários, ao longo dos últimos quatro meses.

— É daquelas coreografias precisas em que não dá para dar um passo a mais ou a menos — conta uma das componentes.

Os profissionais representam a Índia e a ilha paraense. A maior parte usa uma saia que promete um efeito visual na Avenida: o truque é realizado com o apoio de um bambolê acoplado à vestimenta.

Wander Pires, que completa 30 anos de carnaval, deu voz ao samba com o refrão “cadê o boi?”, que embalou o público presente no Sambódromo.

— Mais uma vez compondo para a Tuiuti, mas é como se fosse a primeira vez. O samba foi muito bem aceito e a gente está com uma ansiedade muito grande, porque daqui a pouco tudo se transforma na Sapucaí — previu Cláudio Russo, um dos compositores, da parceria que também tem a assinatura de Moacyr Luz, que garantiu a empolgação no refrão.

Cultura e tradição

A origem dos búfalos da Ilha do Marajó — também chamados de “boi” por lá —, que teriam se salvado do naufrágio de um navio do comércio de especiarias, que tinha como destino a Guiana Francesa, norteou o enredo.

As lendas locais dão alma aos animais, que até falam. Na Sapucaí, a Tuiuti também valorizou a cultura local da Ilha de Marajó.

Idealizador dos desfiles do Búfalo-Bumbá, manifestação cultural marajoara, Mestre Damasceno desfilou no último carro da escola, num trono que faz alusão ao bufódromo, a pista dos desfiles em sua terra, a Ilha do Marajó.

— Não tenho formação escolar, sou formado na cultura popular, conhecedor dos saberes populares do Marajó. Virei representando nosso búfalo marajoara e meu Marajó — explica o mestre de 68 anos, descendente de escravizados e indígenas, e que faz um apelo à valorização dos mestres da cultura popular brasileira. — Dentro das matas, nas comunidades quilombolas e indígenas é onde estão os mestres da cultura popular. Eles precisam ser valorizados.

Mestre Damasceno, que é portador de deficiência visual, está não só na Sapucaí pela primeira vez. Ele nunca havia vindo ao Rio, mas conta que acumula referências das escolas de samba.

— Sempre ouvi muito samba, muito Carnaval do Rio. Como grande competidor de concurso de boi bumbá, já sei como funciona -— afirma, com bom humor e irreverência. — A emoção não para. Mas quando a gente se mexe é porque se garante. Quando se torna artista sabe que vai atravessar por várias emoções.

Conheça a letra do samba

'Mogangueiro da Cara Preta'

  • Autores: Alessandro Falcão / Cláudio Russo / Gustavo Clarão / Julio Alves / Moacyr Luz / Pier Ubertini / W. Correia

Num mar de tempestade e ventania

Foi trazendo especiarias

Que o barco naufragou

Noz moscada, cravo, iguarias

No caminho para as Índias

O marinheiro se perdeu na madrugada

O mogangueiro correu para o igarapé

A curuminha entoou uma toada

Enquanto abria-se a flor do mururé

E nesse encontro entre o rio e o oceano

A grande ilha que cultiva o carimbó

Dizem que índios ainda falam com humanos

Há muitos anos na Ilha de Marajó

Eh! Batuqueiro no samba de roda, curimbó

Quero ver você cantar, como canta o curió

Okê caboclo! Onde vai a piracema?

Rio acima segue o voo de uma juriti pepena

Há mão que modela a vida

No barro marajoara

E o búfalo que pisa

Esse chão do parauara

Chama o Mestre Damasceno

Pra entoar esta canção

Das cantigas da vovó

Do tempo da escravidão

É lá! É lá! É lá!

Canoeiro vive só “morená”

É lá! É lá! É lá!

Mas precisa de um xodó

Cadê o boi?

O mogangueiro, o mandigueiro de Oyá

Meu tuiuti não tem medo de careta

A trás o boi da cara preta do estado do Pará

Ficha técnica

  • Fundação: 05/04/1952
  • Cores: Amarelo ouro e azul pavão
  • Presidente: Renato Thor
  • Carnavalescos: Rosa Magalhães e João Vitor Araújo
  • Diretor de carnaval: André Gonçalves
  • Intérprete: Wander Pires
  • Mestre de bateria: Marcão
  • Rainha de bateria: Mayara Lima
  • Mestre-Sala e porta-bandeira: Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane
  • Comissão de Frente: Lucas Maciel e Karina Dias

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