Carnaval
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Por — Rio de Janeiro

“Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”, que vai embalar o próximo desfile da Vila Isabel, leva uma única assinatura e contrasta com os demais sambas-enredo para o próximo carnaval, alguns com parcerias que chegam a uma dúzia de pessoas. Das 12 composições do Grupo Especial, apenas essa não é inédita. Uma delas, a da Paraíso do Tuiuti, foi encomendada; as outras dez são resultado de concorridas disputas.

Três décadas separam a composição de Martinho da Vila — de 1993 e que está sendo reeditada — da atual safra e mostram como o processo de seleção dos sambas-enredo mudou. De lá para cá encareceu, e hoje, para vencer a disputa numa escola é preciso investir alto com torcida, gravação em áudio e vídeo, contratação de intérprete e outras despesas infladas pela longa duração da competição, um custo que pode passar de R$ 200 mil.

Conheça os sambas de 2024 do Grupo Especial

Conheça os sambas de 2024 do Grupo Especial

A maioria dos sambas da atual safra leva a assinatura de alguns dos grandes campeões das escolas, como Lequinho, na Mangueira; Marcelo Motta, no Salgueiro; e Wanderley Monteiro, na Portela. O que chama atenção é a quantidade de “autores”. Na Imperatriz Leopoldinense e na Unidos do Porto da Pedra são 12.

Alguns compositores ouvidos pelo GLOBO dizem que os múltiplos parceiros são uma saída para enfrentar o custo do processo de escolha dos sambas. Muitos entram para dividir as despesas ou buscar quem as financie. Neste caso, nem sempre compõem. Não que no tempo de Martinho não houvesse claque, por exemplo. A diferença é que antes era na base da amizade ou em troca de uma cerveja. Agora até os torcedores são profissionais. O gasto com eles, além do transporte, pode incluir o ingresso e até mesmo o que beberem na quadra, não saindo por menos de R$ 2 mil cada fase.

— Antigamente você parava o ônibus na comunidade e enchia de torcedores. As pessoas queriam uma noitada de samba no Salgueiro ou na Portela; hoje não querem mais. E a partir do momento que essa diversão não existe mais, as pessoas vão por consideração a um chefe de torcida ou por profissão. Então hoje existem profissionais disso, que vão levar os torcedores para você — afirma o compositor André Diniz, um dos maiores vencedores de samba na Vila Isabel, que este ano participou de seis disputas, sendo que em quatro não assinou.

O grupo que assina cada samba em disputa tem de arcar ainda com a contratação de um intérprete, de preferência do Grupo Especial, o que não sai por menos de R$ 2 mil, a noite. A despesa normalmente é elevada pela contratação de músicos, podendo triplicar o valor. Com a internet, passou a ser fundamental badalar o samba nas redes sociais, o que implica gravação em áudio e vídeo (em torno de R$ 10 mil). Algumas despesas, como as com torcida e intérprete, se multiplicam pela quantidade de eliminatórias, que podem passar de dez.

Direito de arena

Quem perde a disputa só tem a despesa para dividir. Já quem ganha tem como retorno financeiro o que se paga do chamado direito de arena (um percentual da venda de ingressos na Sapucaí) e o direito autoral, que somam algo entre R$ 400 mil e R$ 480 mil. Os compositores alegam, no entanto, que boa parte desse dinheiro fica com as escolas, por conta de acordos feitos no passado. Ao longo dos anos, o acerto se mostrou desvantajoso para quem faz os sambas, já que algumas agremiações ficam com até 80% desse valor.

Para ter algum lucro, os autores dos sambas acabam disputando em várias escolas, o que passou a ser permitido de uns anos para cá. Um outro recurso comum são as parcerias estreladas, com nomes como Moacyr Luz, Dudu Nobre, Arlindinho Cruz e Marcelo Adnet, que além de ajudar a encher as quadras, facilitam a busca por investidores. O compositor Samir Trindade, que já ganhou 13 sambas no Grupo Especial, acha que o encarecimento da disputa elitiza o carnaval.

— O samba começou no morro. Os compositores não eram letrados, mas tinham muito talento. Hoje há muitos professores. Falta representatividade. É preciso voltar às nossas raízes — cobra Samir que disputou, este ano, sambas na Portela, Mangueira, Salgueiro e Beija-Flor, mas não venceu.

O compositor Felipe Filósofo é daqueles que acreditam que o talento e a criatividade podem superar qualquer investimento financeiro. Sua principal crítica é direcionada à permissão para que se componha para diferentes agremiações.

— É preciso fazer uma reflexão sobre a produção em série e se dedicar à escola do coração — defende o compositor, cujo samba “Não há tristeza que possa suportar tanta alegria” feito para o desfile da Viradouro em 2022 ganhou o Estandarte de Ouro na categoria inovação.

Cláudio Russo, cuja assinatura aparece nos sambas da Unidos da Tijuca, Viradouro e Paraíso do Tuiuti, mas participou também de outras duas disputas, discorda de quem vê nisso uma potencial perda da qualidade ou risco de padronização.

— Tem de ganhar o melhor samba. Aí todo mundo fica contente, incluindo a torcida da escola. Ruim é quando isso não acontece — defende o compositor, que comanda o podcast “Mandando a letra”.

‘Todo mundo sabe compor’

Paulinho Mocidade, que este ano voltou a ganhar um samba na escola que carrega no sobrenome, é do tempo em que para entrar numa disputa de samba-enredo era preciso ingressar na ala de compositores, fazer um estágio de dois anos e só depois começar a concorrer. Integrante de uma parceria com mais sete nomes, incluindo o humorista Marcelo Adnet, ele garante que todos colocaram a mão na massa, mas admite que há casos em que o parceiro só entra com o dinheiro e a assinatura:

— Na nossa parceria não teve disso, todo mundo ali sabe compor. A gente fez um racha, ganhamos com um samba legal, um dos melhores da safra. Mas geralmente não é isso que ocorre. São vários (compositores), tem dois ou três que fazem (o samba) e o restante dá ajuda financeira. Isso virou um negócio, fazer o quê?

Os compositores não se eximem de culpa sobre o rumo que a disputa de samba-enredo tomou nos últimos anos. Mas são unânimes em afirmar que algo precisa mudar e que depende dos dois lados.

Alguns sinais já vêm sendo dados nos últimos tempos. Cláudio Russo aponta como bom exemplo a Grande Rio que, desde 2020, reduziu para quatro o número de eliminatórias, não permite que as parceiras levem cantor do Grupo Especial para defender seus sambas e não cobra ingresso para o público, barateando a disputa. A Viradouro também não cobra ingressos nas primeiras eliminatórias.

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