A pouco mais de um mês para o carnaval carioca, o Terreirão do Samba, localizado na Praça Onze, no Centro, está sendo reformado. Quem passa próximo ao local nota ferragens espalhadas no terreno, uma retroescavadeira em atividade e parte da construção de concreto demolida. Segundo a Riotur, que faz a gestão do local, a estrutura estava danificada e foi removida para a implantação de um novo projeto, que inclui 16 contêineres para camarote e 43 barracas. As obras serão de reparos simples, sem mudanças estruturais — processos licitatórios para a exploração do espaço só serão abertos para o carnaval do próximo ano.
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Segundo a Riotur, as obras em curso estão sendo realizadas pela Secretaria municipal de Conservação, a fim de recuperar danos causados por vandalismo e depredação do espaço. O objetivo é "criar um ambiente mais amplo, seguro e confortável para o público, com melhores condições de trabalho para os barraqueiros, tradicionais durante os nove dias de shows da temporada do carnaval".
A Riotur afirma que, até o fim de janeiro, as obras já terão acabado, mas não informou uma data precisa, assim como não divulgou a programação para o carnaval deste ano, dizendo apenas que "os contratos estão em fase final de assinatura e serão divulgados em data paralela à finalização dos reparos".
Na planta do projeto está prevista a instalação de camarotes equipados com oito conjuntos de mesa.
Em nota, o órgão destacou ainda que "apenas após o carnaval será aberto um processo licitatório para a exploração do Terreirão do Samba". Assim, "caberá às empresas interessadas a apresentação e execução dos projetos de revitalização do espaço" para o carnaval de 2025.
História
Criado em 1991, o Terreirão é destinado à preservação do samba e da cultura popular. Inicialmente, a ideia da prefeitura era fazer com que o local recebesse apresentações durante todo o ano, mas, com exceção da época do carnaval, são poucos os eventos ali realizados.
Em agosto de 2023, a Riotur anunciou que o Terreirão iria ser administrado pela iniciativa privada. Contudo, a licitação, com data para setembro daquele ano, ainda não aconteceu, e o espaço continua sob tutela do município.
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Na ocasião, a prefeitura estipulou em R$ 275 mil o valor mínimo para a concessão, além de um percentual variável sobre as receitas arrecadadas. Ganha a licitação quem oferecer a maior outorga. A estimativa é que os ingressos para os eventos fiquem em R$ 30, na média. No último carnaval, a entrada custou R$ 20.
Além da mudança na gestão, a Riotur planejava uma obra de cerca de R$ 10 milhões a ser paga pela nova empresa. Com duração de 18 meses, as reformulações incluíam camarote VIP e 60% da programação voltada para o samba.
Morte em 2019
Os 33 anos do Terreirão são marcados por grandes comemorações, como a gravação, em 2012, do CD e DVD "Batuques do Meu Lugar ao Vivo", do sambista Arlindo Cruz. Contudo, o espaço também foi palco de uma tragédia. Na madrugada do dia 14 de abril de 2019, a estudante de Odontologia Maria Fernanda Ferreira de Lima, então com 20 anos, morreu eletrocutada no local. Segundo amigos, ela levou um choque ao encostar numa barra de ferro em uma área de acesso restrito da produção de um festival de funk que acontecia ali. Uma amiga de Fernanda, identificada apenas como Maria Luíza, também levou um choque, mas sobreviveu.
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O evento foi organizado pelo coletivo Puff Puff Bass e realizado com autorização da Secretaria municipal de Cultura (SMC) , que faz a gestão do Terreirão do Samba, tendo cedido o espaço em troca de 15% da bilheteria. O acidente que resultou na morte da estudante levou a polícia Civil a interditar o espaço por tempo indeterminado.
O Terreirão só foi reaberto para o carnaval de 2020; depois, fechou novamente durante a pandemia, só reabrindo em 2022 para o carnaval oficial realizado em abril daquele ano. Durante o período em que permaneceu fechado, o espaço se deteriorou.
*Estagiária sob supervisão de Cláudia Meneses