Foi com um gosto de passado que chegou ao fim o Desfile das Campeãs (e, com ele, o carnaval da Sapucaí), na manhã deste domingo. Depois de uma noite que começou com um show inédito, com Anitta, Zeca Pagodinho, Alcione e Neguinho da Beija-Flor e transcorreu com o habitual desfile de famosos, a campeã e a vice não apareceram inteiras para o público: um carro alegórico da vice-campeã Imperatriz Leopoldinense teve problemas e não entrou na avenida, impedindo a entrada da Viradouro. A campeã começou seu desfile já com dia claro, às 6h15, e terminou depois das 7h, para um Sambódromo ainda cheio.
A noite começou com o show em homenagem aos 40 anos do Sambódromo, na verdade um curto desfile em que Anitta caminhava e recebia os convidados Zeca Pagodinho, Alcione e Neguinho da Beija-Flor. Como a apresentação começou no setor 3, o povo do setor 1, popular, vaiou o início, quando Anitta cantava "Alguém me avisou" e só passou a aplaudir quando Zeca entrou. No meio da noite, também como parte das festividades, o paraglider Rafael Goberna voou sobre a passarela, no meio de um show de luzes, repetindo o homem voador de Joãosinho Trinta em 2001, no desfile da Grande Rio. Durante cerca de cinco minutos, Goberna deu rasantes na avenida, saindo da Praça da Apoteose, ao som do "Ita", do Salgueiro.
— Essa ideia surgiu há uns oito anos, quando eu vi o meu amigo Gui Pádua descendo de paraquedas e, depois, quando vi drones na Sapucaí, eu tive certeza. Eu nunca desfilei na avenida, então, agora foi a minha estreia — explicou Goberna, que já realizou voos em pontos turísticos do Rio, tais como Bondinho, Cristo Redentor e São Conrado.
A primeira escola a desfilar foi a Unidos de Vila Isabel, sexta colocada com o enredo "Gbala -- Viagem ao templo da criação", reedição de 1993. Dos dois integrantes de peso que passaram mal no desfile da segunda-feira de carnaval, o puxador Tinga se disse melhor do pique de pressão e se apresentou normalmente, e o carnavalesco Paulo Barros, que está renovado para 2025 com a escola, não apareceu. A rainha de bateria da Vila, Sabrina Sato, empreendeu uma maratona particular: do Rio ela voou para São Paulo, para desfilar na Gaviões da Fiel, quarta colocada no Grupo Especial paulistano.
— É uma maratona, mas o mais importante é ver todos os trabalhadores do carnaval dando o seu melhor. Meu costeiro me machucou aqui e aqui (mostrando o ombro e as costas), mas tá tudo bem.
Aplaudido pelos fãs, Martinho da Vila voltou à Sapucaí ainda recebendo cumprimentos pelo aniversário de 86 anos, durante o desfile da escola. Sobre o resultado, ele manteve o bom humor:
— Foi bom. Pensei que ia ganhar o carnaval, mas chegamos nas campeãs.
Já ao comentar a polêmica a respeito da falta de jurados negros nos desfiles, Martinho foi lacônico:
— Não vi nenhum. A atriz Taís Araújo, que veio na escola seguinte, a Portela, comentou o caso: — Quem organiza o carnaval tem que prestar atenção nisso, inclusive no júri. É uma manifestação popular e a maioria do povo é preto. Os organizadores da festa têm que ter mais cuidado com isso.
Taís estava satisfeita com a divulgação que o livro "Um defeito de cor", base do enredo, ganhou no carnaval, com exemplares esgotados.— Acho que isso prova que o carnaval é um dos maiores meios de comunicação do Brasil.
A Portela também tinha Adriane Galisteu, no papel de musa, além de madrinha de um camarote. — Todas as escolas que desfilaram estavam lindas, e a Viradouro foi merecedora -- disse a loura.
Salgueiro e Grande Rio se apresentaram com animação e rainhas badaladas, respectivamente Viviane Araújo e Paolla Oliveira. Enquanto as campeãs desfilavam de novo, duas gigantes do carnaval carioca comunicavam, pelas redes sociais, seus novos carnavalescos, ambos vindos do carnaval de São Paulo: a Mangueira, sétima colocada, contratou Sidney França, que estava na Vai-Vai, e o Salgueiro, quarto, roubou o bicampeão Jorge Silveira da Mocidade Alegre.
A Imperatriz Leopoldinense, além de Rafa Kalimann, tinha o carnavalesco popstar Leandro Vieira, que se disse feliz com o vice-campeonato, embora esperasse o bi, depois da boa repercussão da apresentação que fechou o domingo de carnaval.
-- Eu tento fazer o desfile com a leitura mais clara possível, com muito açúcar -- disse ele, que não deixou de elogiar os colegas Tarcísio Zanon e a dupla Gabriel Haddad-Leonardo Bora, respectivamente da campeã Viradouro e da Grande Rio, terceira colocada. -- Eles são f… demais -- resumiu Leandro.
A escola, no entanto, não repetiu o desfile de uma semana antes: os balões que encantaram o público não vieram, e o último carro, que representava o misticismo da lua e das marés, teve dificuldades e acabou não entrando. O portão de entrada foi fechado com a alegoria do lado de fora mesmo, o que não impediu a Imperatriz de encerrar sua apresentação -- mesmo um tanto desfalcada.
O problema maior ficou para a campeã Viradouro, que não conseguia entrar por causa do carro da coirmã atravessado no caminho. Depois de cerca de meia hora de silêncio, os integrantes da bateria conseguiram passar e começaram a tocar, para entreter o público. O desfile em si, no entanto, só começou às 6h15 a manhã, já com dia claro, e fora da ordem: o carro abre-alas acabou vindo antes da comissão de frente, com sua badalada serpente rastejando no chão. O presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro, e o puxador da escola, Wander Pires, e o carnaval 2024 terminou sob o sol.