RIO — O delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), ouviu, nesta quarta-feira, dia 24, mais duas testemunhas no inquérito que apura a morte de
Henry Borel Medeiros, de 4 anos
, ocorrida no último dia 8. Além da babá da criança, por mais de seis horas, prestou depoimento sua avó materna, a professora Rosângela Medeiros da Costa e Silva. Ela afirmou conhecer o atual genro, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade), há cerca de cinco meses e contou que ele dava presentes e chocolates para agradar Henry e chegou a aplicar uma injeção no menino quando esse estava resfriado.
Em depoimento prestado também na 16ª DP, Dr. Jairinho relatou que, embora tenha formação em Medicina, nunca exerceu a profissão e a última vez que fez uma massagem cardíaca foi em um boneco durante a graduação. Ele disse não ter feito nenhum tio de procedimento de reanimação em Henry, mas ter orientado a namorada e mãe do menino, a também professora Monique Medeiros da Costa e Silva, a fazê-lo, no trajeto do apartamento do casal, no condomínio Majestic, no Cidade Jardim, até o Hospital Barra D’Or.
Muito próxima do neto e da filha, a, Rosângela contou que chegou a ceder parte do terreno onde mora, em Bangu, para que eles morassem com o pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida numa casa no local. Desde que o casal se separou e Monique e Henry foram viver com Jairinho, em novembro do ano passado, a idosa contou que o neto passou a dormir com ela cerca de três a quatro vezes por semana. Ela alegou que o menino, embora estivesse feliz com o novo lar, tinha “predileção” por Bangu, tendo sua residência como referência afetiva.
Laudo do Instituto Médico- Legal (IML) constatou muitas lesões espalhadas pelo corpo do menino, infiltrações hemorrágicas nas partes frontal, lateral e posterior da cabeça, contusões no rim, no pulmão e no fígado. A mãe afirmou acreditar que ele tenha caído da cama e batido a cabeça Foto: Reprodução / Instagram
Coletiva sobre a conclusão do inquérito sobre a morte do menino Henry Borel. Da esquerda para a direita estão:
Marcos Kac (promotor do caso), o delegado Antenor Lopes (diretor da DGPC), Henrique Damasceno (delegado titular da 16ª DP), Denise Rivera (perita criminal) e Ana Paula Medeiros (delegada-adjunta da16ª DP) Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
O delegado titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), Henrique Damasceno, deu uma entrevista coletiva sobre a conclusão do inquérito que apurou a morte de Henry. "A única pessoa calada foi o Henry. Ele pediu ajuda e não foi ajudado", disse o investigador Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Henry, exibe a tatuagem feita para esconder uma homenagem ao ex-marido nas redes sociais. O desenho foi feito no dia em que Monique pediu que Jairinho "pagasse suas coisas" para não prejudicá-lo Foto: Reprodução
Os avós de Henry com o menino ainda bebê. 'Me sinto muito culpada', disse mãe do menino ao pai uma semana após morte. Conversa com o avô da criança faz parte do conteúdo recuperado pela polícia no celular de Monique: 'Tudo foram escolhas minhas', disse ela em outro trecho Foto: Reprodução
Henry em sua última festa de aniversário: pai compartilhou foto nas redes sociais no dia em que o menino faria 5 anos Foto: Arquivo pessoal
Monique revela 'humilhações e agressões' em carta sobre a relação com Jairinho. Carta foi escrita na última sexta-feira (23), no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde recebe tratamento contra a Covid-19. A professora descreve uma rotina de violências, humilhações e crises de ciúmes do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido) Foto: Reprodução
Dr. Jairinho e Monique Medeiros, em fotos feitas no ingresso do casal no sistema penitenciário Foto: Reprodução / Agência O Globo
Vereador Dr. Jairinho, preso, ao lado de diretor de presídio. Na imagem ele come um sanduíche que o diretor entregou para ele Foto: Reprodução
O advogado André Françao, que representava Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, Barreto renunciou à defesa do vereador no caso Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Doutor Jairinho durante discurso na Câmara de vereadores, onde os sete membros do Conselho de Ética da Câmara dos Vereadores decidiram, por unanimidade, abrir o processo de cassação do mandato do vereador Foto: Renan Olaz / Agência O Globo
Dr. Jairinho foi preso junto com Monique, mãe do menino Henry, por tentar interferir na investigação do caso. Segundo a polícia, o casal será indiciado por tortura e homicídio duplamente qualificado, além de poder perder o mandato na Câmara dos Vereadores do Rio Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Hnery cumpre prisão preventiva e será indiciada por tortura e homicídio duplamente qualificado Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Peritos chegam ao edifício Majestic para fazer a reconstituição da morte do menino Henry Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Câmera encontrada por policiais da 16ª DP (Barra da Tijuca) no quarto de Henry. Anotação recuperada em celular de Monique Medeiros da Costa e Silva expõe sua vontade de instalação do equipamento dentro de imóvel no Majestic Foto: Reprodução
Edifício Majestic, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde o menino Henry vivia com a mãe e o padrasto Foto: Reprodução / TV Globo
Henry no colo da mãe enquanto Dr. Jairinho faz um carinho nele Foto: Reprodução
A mãe de Henry, Monique Medeiros, e o padrasto, o vereador Dr. Jairinho, chegam à 16ª DP (Barra) para ser ouvidos como testemunhas Foto: Reprodução / TV Globo / Agência O Globo
Polícia cumpre mandado na casa da família de Monique, em Bangu, Zona Oeste do Rio Foto: Fabiano Rocha em 26/03/2021 / Agência O Globo
Leniel Borel de Almeida em entrevista ao Fantástico: 'Acordo de manhã chorando. Tem que ter muita força, cara. E o que eu sei é que esse menino não pode ter morrido em vão' Foto: Reprodução / TV Globo
Dr. Jairinho na Câmara dos Vereadores do Rio. Ele era padrasto de Henry Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo - 23/05/2019
Henry Borel Medeiros tinha 4 anos quando morreu na madrugada do dia 8 de março em condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde morava com a mãe e o padrasto. A causa da morte, segundo laudo do IML, foi "hemorragia interna causada pelo rompimento do fígado" Foto: Reprodução / Instagram
O pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, que é separado da mãe do menino, tem publicado fotos e mensagens para o menino. Ela diz ainda esperar respostas Foto: Reprodução / Instagram
Em trocas de mensagens entre o pai e a mãe, Monique Medeiros, foi revelado que Henry não gostava de voltar para a casa, onde vivia com Monique Medeiros e o padrastro, o vereador Dr. Jairinho Foto: Reprodução / Instagram
Monique com o filho Henry Foto: Reprodução TV Globo
Rosângela definiu o neto como um menino doce, tímido, introvertido, educado e excelente aluno; a filha como uma mãe zelosa; e Leniel como um “bom pai”. A avó da criança disse que encontrou menino pela última vez no dia 7, estando ele “ótimo”, sem “nenhum problema de saúde” e “nenhum machucado”. No depoimento prestado pelas três médicas pediatras que atenderam o menino na emergência do Barra D’Or, na madrugada seguinte, elas garantiram que ele chegou morto a unidade de saúde e com as lesões externas no corpo descritas nos dois laudos do exame de necropsia.
Os documentos, aos quais O GLOBO teve acesso, apontam que a criança sofreu hemorragia interna e laceração hepática, provocada por ação contundente. Peritos garantem que as lesões apresentadas no documento, como equimoses, hematomas, edemas e contusões, não são compatíveis com um acidente doméstico.
A professora relatou ainda que recebeu uma ligação de Monique dizendo: “Mãe, o Henry não está respirando!” e imediatamente se dirigiu ao Barra D’Or com o outro filho. Durante o trajeto, ela ligou novamente insistindo: “Mãe, vem pra cá”. Minutos depois, disse ter recebido o terceiro telefonema, quando soube que o menino havia falecido. Chegando a unidade de saúde, Rosângela contou que encontrou a filha “desolada”.
Questionada sobre a causa da morte de Henry, Rosângela informou que “pelo que soube” ele “teve um problema no fígado, uma hemorragia causada por uma queda”. Também em depoimento, Monique disse que, por volta de 3h30, foi até o quarto em que o menino dormia e o encontrou com mãos e pés gelados e olhos revirados. Ela afirmou acreditar que ele possa ter acordado, ficado em pé sobre a cama, se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona e caído no chão.