Caso Henry: babá diz em depoimento que mentiu por medo de Dr. Jairinho

Ex-funcionária da família contou ainda ao delegado do caso que Monique pediu para ela apagar mensagens que relatavam agressões
Henry com a babá Thayna Foto: Reprodução

RIO — Em novo depoimento prestado ao delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), a babá Thayna de Oliveira Ferreira disse que mentiu na declaração dada em 24 de março, quando garantiu que o vereador Jairo Souza Santos Júnior , o Dr. Jairinho (sem partido), sua namorada, Monique Medeiros da Costa e Silva , e o filho dela, Henry Borel Medeiros , morto em 8 de março, viviam em harmonia, por medo do parlamentar. Ela afirmou que,"por ter visto o que Jairinho tinha feito contra uma criança, ficou com medo que algo também pudesse acontecer com ela própria", diz o relatório da polícia, ao qual o GLOBO teve acesso. A ex-funcionária da família alegou ainda não ter contado sobre as agressões do vereador contra o menino a pedido de Monique. Jairinho e Monique foram presos na última quinta-feira .

Caso Henry:   Laudo apontou 23 lesões no corpo da criança

Segundo Thayna, a patroa solicitou que ela apagasse as mensagens trocadas entre as duas em 12 de fevereiro. As conversas foram recuperadas pela Polícia Civil no celular de Monique e dão conta de um alerta feito pela funcionária em tempo real. Ela narrou, pelo WhatsApp, que o vereador havia se trancado no quarto com Henry, e logo depois o menino relatou que recebeu “bandas” e “chutes”. A criança estava mancando e apresentava hematomas nos braços e nas pernas.

Depoimento da babá : Henry fez videochamada para contar para a mãe sobre agressões de Jairinho

\
Imagens foram feitas em 12 de fevereiro, numa das ocasiões que ela teria presenciado a violência do Dr. Jairinho contra a criança, que foi encontrada morta no dia 8 de março

 

No novo depoimento, Thayna contou ainda que presenciou as agressões em dois outros momentos, e que também tinham conhecimento das sessões de violência a irmã de Jairinho, Thalita Souza; a avó materna de Henry, a professora Rosângela Medeiros da Costa e Silva; e a empregada doméstica da família, Leila Rosângela de Souza Mattos. As duas últimas chegaram a prestar depoimento na delegacia e negaram haver algum tipo de relação violenta entre os três.

Veja conversa:  Mãe contou a pediatra que Henry tremia e vomitava ao ver Jairinho

Quando foi ouvida pela primeira vez, a funcionária havia negado ter presenciado qualquer anormalidade na família, a quem disse ter visto reunida no máximo quatro vezes. Na ocasião, ela contou que costumava dar banho em Henry e garantiu nunca ter visto qualquer marca de violência no corpo do menino. Ela relatou que Monique “se esforçava para agradar ao filho de todas as formas e demonstrava carinho com ele”. E contou também que Henry, às segundas-feiras, lhe fazia algumas perguntas, como “Tia, por que existe a separação?” Para essa questão, ela diz ter respondido: “Para as pessoas não ficarem brigando é melhor que se separem.”

Pai de Henry:   'Ela teve um baque ao saber que estava grávida'

A babá relatou ainda que, por volta de 9h30m de 8 de março, recebeu uma ligação de Monique, que dizia: “Você não precisa ir trabalhar hoje. Henry caiu da cama. Perdi meu bem mais precioso”. Dez dias depois, Thayna disse ter sido procurada por Thalita para que fosse à sua casa, já que o advogado do vereador queria lhe fazer algumas perguntas. Ao chegar na residência, ela foi levada por um motorista até o escritório de André França Barreto, com a empregada do casal.

Fortes dores:   Mãe de Henry é atendida em hospital no Complexo de Gericinó e tem alta horas depois

Segundo a babá, André lhe perguntou como era seu relacionamento com Henry, se o menino era feliz, brincalhão e alegre, como era o relacionamento do casal, como eram os três juntos e se a criança apresentava alguma queixa. Na ocasião, a funcionária diz ter sido avisada pelo advogado que seria intimada a prestar depoimento e que deveria “dizer somente a verdade” e “o que havia presenciado”.

Monique Medeiros, mãe do menino Hnery cumpre prisão preventiva e será indiciada por tortura e homicídio duplamente qualificado Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Após um mês de investigação, a polícia concluiu que o vereador agredia o enteado, e que a mãe da criança sabia disso Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Ao ser questionada durante seu depoimento, Monique afirmou acreditar que Henry possa ter acordado, ficado em pé sobre a cama, se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona e caído no chão Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Hnery cumpre prisão preventiva e será indiciada por tortura e homicídio duplamente qualificado Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Monique Medeiros, mãe do menino Hnery cumpre prisão preventiva e será indiciada por tortura e homicídio duplamente qualificado Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Dr. Jairinho foi preso preventivamente e será indiciado por tortura e homicídio duplamente qualificado Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Dr. Jairinho e Monique foram encontrados na casa de uma assessora do vereador Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
De acordo com as investigações, Jairinho dava bandas, chutes e pancadas na cabeça do menino, que morreu no último dia 8 de março Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

De acordo com os advogados Thiago Minagé, Hugo Novais, Thaise Assad e Lucas Antunes, que assumiram a defesa de Monique nesta segunda-feira, eles só irão se posicionar sobre esse e outros pontos quando tiverem acesso integral ao inquérito.