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Caso Henry: confira o que cada uma das 29 testemunhas contou em depoimento à polícia

No inquérito sobre morte de menino, no dia 8 de março, na Barra da Tijuca, delegado ouviu parentes, funcionários, médicos e vizinhos da família
O menino Henry Borel de Medereiros tinha 4 anos Foto: Reprodução
O menino Henry Borel de Medereiros tinha 4 anos Foto: Reprodução

RIO — O delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), ouviu 29 testemunhas no inquérito que apura a morte de Henry Borel Medeiros, de 4 anos, na madrugada de 8 de março. Além da mãe, a professora Monique Medeiros da Costa e Silva e do padrasto, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), que moravam com o menino, o pai, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, e a avó da criança, a professora Rosângela Medeiros da Costa e Silva, também prestaram depoimento. A polícia fez ainda perícias no apartamento onde Henry morreu, e uma reprodução simulada do caso.

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Compareceram ainda à delegacia cinco médicas do Barra D’Or, seis vizinhos, a babá, a empregada doméstica, a professora, a psicóloga , além da irmã do vereador, da ex-mulher, de duas ex-namoradas do parlamentar e da irmã de uma delas.

Foram ouvidos também o cirurgião plástico de uma das moças, três funcionários de um salão de beleza frequentado por Monique e ainda um executivo ligado à área da Saúde.

Mãe de Henry diz que encontrou criança no chão com olhos revirados

Monique com o filho Henry Foto: Reprodução
Monique com o filho Henry Foto: Reprodução

A professora disse ter dado banho no filho, por volta de 20h, e depois o colocado na cama de casal para dormir. Monique e Jairinho teriam ficado na sala, vendo televisão. Até 1h50m, Henry teria levantado três vezes, sendo levado de volta ao quarto pela mãe. Ela relatou que foi para o quarto de hóspedes com o namorado de modo a continuar vendo uma série sem que o barulho incomodasse o filho. Logo após, Jairinho teria adormecido.

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Por volta de 3h30, Monique disse ter levantado e chamado o vereador, que foi ao banheiro. Ao voltar ao quarto do casal, ela diz ter encontrado Henry caído no chão, com mãos e pés gelados, olhos revirados e sem responder ao seu chamado.

À polícia, Monique disse acreditar que ele possa ter acordado, ficado em pé sobre a cama, se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona e caído no chão Foto: Reprodução
À polícia, Monique disse acreditar que ele possa ter acordado, ficado em pé sobre a cama, se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona e caído no chão Foto: Reprodução

No depoimento, Monique disse ter gritado por Jairinho, que foi imediatamente ao cômodo. Eles teriam se arrumado rapidamente e se dirigido para o Hospital Barra D’Or. No caminho, a professora diz ter feito uma respiração boca a boca na criança, depois de orientação do parlamentar.  Ao chegar à unidade de saúde, ela contou ter gritado pedindo ajuda, tendo recebido atendimento de várias pessoas imediatamente.

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Indagada se havia lido o laudo com a causa da morte de Henry, Monique afirmou acreditar que ele possa ter acordado, ficado em pé sobre a cama, se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona e caído no chão.

Pai de Henry acompanhou tentativas de reanimação na emergência

Leniel Borel de Almeida, pai de Henry Foto: Reprodução TV Globo
Leniel Borel de Almeida, pai de Henry Foto: Reprodução TV Globo

O engenheiro contou ter recebido uma ligação de sua ex-companheira, Monique, por volta de 4h30 do dia 8. Ela teria dito que o filho deles estava “sem respirar” e foi levado ao hospital. Ao chegar ao local e encontrá-la na companhia de Dr. Jairinho, foi informado de que a criança havia feito um “barulho estranho” enquanto dormia. No quarto do menino, o casal o teria visto com os “olhos virados” e com dificuldade de respirar.

Leniel relatou à polícia que foi ao hospital após ex-mulher lhe dizer que menino "estava sem respirar" Foto: Reprodução
Leniel relatou à polícia que foi ao hospital após ex-mulher lhe dizer que menino "estava sem respirar" Foto: Reprodução

No depoimento, ele relata que a mãe disse ter feito um procedimento de respiração boca a boca em Henry. O pai narrou também ter visto os médicos tentando reanimar a criança, não obtendo sucesso no procedimento. A criança morreu às 5h42m, e seu corpo foi removido para o Instituto Médico-Legal (IML), no Centro da cidade.

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Dr. Jairinho relata ter acordado com gritos da mãe de Henry

Monique e Doutor Jairinho: casal foi ouvido na delegacia da Barra Foto: Reprodução / TV Globo
Monique e Doutor Jairinho: casal foi ouvido na delegacia da Barra Foto: Reprodução / TV Globo

Também em depoimento prestado na 16ª DP (Barra da Tijuca), que investiga o caso, Dr. Jairinho confirmou todas as informações dadas por Monique. Ele contou ter dormido após tomar três medicações que faz uso há cerca de dez anos e, ao ser acordado pela namorada, foi urinar. Com os gritos da companheira, ele disse ter caminhado até o quarto. No local, o vereador diz ter colocado a mão no braço de Henry e notado que o menino estava com temperatura bem abaixo do normal e com a boca aberta, parecendo respirar mal.

Em seu depoimento, dr. Jairinho disse que acho que quadro de Henry evoluía mal antes de chegar ao hospital Foto: Reprodução
Em seu depoimento, dr. Jairinho disse que acho que quadro de Henry evoluía mal antes de chegar ao hospital Foto: Reprodução

Ele disse que acreditou que Henry havia broncoaspirado, mas seu quadro evoluía mal, já que no caminho para o hospital não respondeu à respiração boca a boca nem aos estímulos feitos por Monique. Jairinho contou que, apesar de ter formação em Medicina, nunca exerceu a profissão e a última massagem cardíaca que realizou foi em um boneco, durante a graduação.

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Avó materna conta que filha estava desolada no hospital

Polícia cumpre mandado na casa da família de Monique, em Bangu Foto: Fabiano Rocha em 26/03/2021 / Agência O Globo
Polícia cumpre mandado na casa da família de Monique, em Bangu Foto: Fabiano Rocha em 26/03/2021 / Agência O Globo

A professora Rosângela Medeiros da Costa e Silva, avó materna do menino, definiu o neto como uma criança doce, tímida, introvertida, educada e excelente aluna. Disse ter recebido uma ligação de Monique dizendo: “Mãe, o Henry não está respirando!” e imediatamente se dirigiu ao Hospital Barra D’Or com o outro filho. Durante o trajeto, ela ligou novamente insistindo: “Mãe, vem pra cá”. Minutos depois, disse ter recebido o terceiro telefonema, quando soube que o menino havia falecido. Chegando a unidade de saúde, Rosângela contou que encontrou a filha “desolada”.

Avó de Henry diz à polícia que a criança morreu de hemorragia, devido a uma queda Foto: Reprodução
Avó de Henry diz à polícia que a criança morreu de hemorragia, devido a uma queda Foto: Reprodução

Perguntada sobre a causa da morte de Henry, Rosângela informou que “pelo que soube” ele “teve um problema no fígado, uma hemorragia causada por uma queda”. Rosângela disse ainda que passou a dormir com o neto de três a quatro vezes por semana depois que a filha foi morar com Jairinho, no condomínio Majestic, na Barra da Tijuca.

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Médicas garantem que menino chegou morto

O Hospital Barra D'Or, para onde o menino foi levado Foto: Fabiano Rocha em 06/11/2015 / Agência O Globo
O Hospital Barra D'Or, para onde o menino foi levado Foto: Fabiano Rocha em 06/11/2015 / Agência O Globo

As cinco médicas pediatras que atenderam Henry Borel Medeiros na emergência do Hospital Barra D’Or garantiram que ele chegou morto à unidade de saúde e com as lesões externas no corpo descritas nos dois laudos do exame de necropsia.

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Os documentos, aos quais O GLOBO teve acesso, apontam que a criança sofreu hemorragia interna e laceração hepática, provocada por ação contundente. Peritos garantem que as lesões apresentadas no documento , como equimoses, hematomas, edemas e contusões, não são compatíveis com um acidente doméstico.

Vizinho não escutaram barulho

Condomínio Majestic, na Barra, onde Henry morava com a mãe e o padrasto Foto: Paolla Serra / Agência O Globo
Condomínio Majestic, na Barra, onde Henry morava com a mãe e o padrasto Foto: Paolla Serra / Agência O Globo

Cinco vizinhos e a babá de uma criança de apartamentos próximos à unidade 203 do bloco I do condomínio Majestic, no Cidade Jardim, foram ouvidos pelo delegado Henrique Damasceno. Todos eles garantiram não ter ouvido nenhum barulho ou visto nenhuma anormalidade durante a madrugada do dia 8.

Empregada limpou a casa e soube da morte do menino por Monique

Peritos no condomínio na Barra Foto: Reprodução TV Globo
Peritos no condomínio na Barra Foto: Reprodução TV Globo

Leila Rosângela de Souza Mattos, empregada de Monique e Jairinho, contou que trabalha no apartamento do casal durante os dias de semana, desde 8 de janeiro, e que só viu a família junta três vezes. Ela relatou ter presenciado Henry, no carnaval, correndo em direção ao vereador gritando: “Tio Jairinho, tio Jairinho!” e o abraçando. Ela negou ter presenciado qualquer discussão entre eles.

Empregada contou à polícia que os cômodos da casa estavam como de costume Foto: Reprodução
Empregada contou à polícia que os cômodos da casa estavam como de costume Foto: Reprodução

No dia 8 de março, a mulher relatou ter chegado por volta de 7h30, como de costume, e organizado a casa. Ela disse ter estranhado apenas o fato de a luz da cozinha estar acesa. Ela contou que, às 9h46, Monique lhe telefonou e disse que ela poderia tirar o dia de folga . Minutos depois, quando esperava o elevador, a empregada encontrou a professora retornando do hospital e foi informada sobre a morte de Henry.

Babá diz que ouviu de Monique que perdera 'seu bem mais precioso'

O menino Henry Borel de Medereiros tinha 4 anos Foto: Reprodução
O menino Henry Borel de Medereiros tinha 4 anos Foto: Reprodução

A babá de Henry, Thayna de Oliveira Ferreira , contou aos policiais que iniciou as atividades no apartamento do casal em 18 de janeiro, passando a cuidar de Henry de segunda a sexta-feira, alternando o início da escala de trabalho entre 9h e 11h30, de acordo com as aulas da escola do menino. Ela narrou que o menino assistia às aulas de forma tranquila e concentrada e nunca demonstrou nenhuma irritação nem inquietação.

À polícia, babá de Henry disse que mãe da criança lhe contou que perdeu seu "bem mais precioso", referindo-se ao filho Foto: Reprodução
À polícia, babá de Henry disse que mãe da criança lhe contou que perdeu seu "bem mais precioso", referindo-se ao filho Foto: Reprodução

Ela definiu a criança como “boa” e “perfeita” e negou qualquer ter presenciado qualquer anormalidade na família, a quem disse ter visto reunida no máximo quatro vezes . A funcionária contou também que Henry lhe fazia algumas perguntas, como “Tia, por que existe a separação?”. Para essa questão, ela diz ter respondido: “Para as pessoas não ficarem brigando, é melhor que se separem”.

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A babá relatou ainda que, por volta de 9h30 do dia 8 de março, recebeu uma ligação de Monique, que dizia: “Você não precisa ir trabalhar hoje. Henry caiu da cama. Perdi meu bem mais precioso ”.

Para psicóloga, menino disse que morava com 'um tio'

Henry Borel: morte de menino de 4 anos é investigada por polícia Foto: Reprodução
Henry Borel: morte de menino de 4 anos é investigada por polícia Foto: Reprodução

A psicóloga que realizava o acompanhamento terapêutico de Henry, desde o início de fevereiro, disse ter sido procurada por Monique, que relatava que ele “não queria ficar” em sua casa. A profissional contou ter realizado cinco consultas com a criança , que demonstrava afeto pelos avós maternos e que pronunciou o nome de Jairinho somente no último encontro.

Em depoimento, ela disse que a professora reclamava que Henry não queria ir ao Colégio Marista São José, onde estava matriculado na pré-escola e frequentou 20 dias de aula. A psicóloga relatou que, a partir da segunda sessão, passou a explorar o “espaço lúdico da criança”, brincando, desenhando e fazendo trabalho com massinhas.

Trecho do depoimento da psicóloga de Henry à polícia Foto: Reprodução
Trecho do depoimento da psicóloga de Henry à polícia Foto: Reprodução

A profissional disse ter identificado que o espaço da casa dos avós maternos, em Bangu, onde Henry já morou e frequentava, era agradável, sobretudo pela presença do avô. A mulher contou ainda que Henry contou morar com “um tio” em sua casa. Perguntado quem era, o menino respondeu: “Tio Jairinho”, sem deixar transparecer medo do padrasto. Logo em seguida, ele disse estar com saudades do pai.

Professora nega ter percebido lesão ou sinal de maus-tratos

O Colégio Marista, onde Henry estudava Foto: Paolla Serra / Agência O Globo
O Colégio Marista, onde Henry estudava Foto: Paolla Serra / Agência O Globo

A professora do Colégio Marista São José, onde Henry estudou por 20 dias, disse não ter tido muito contato com o menino, por ele ser aluno novo e pelo fato de estarem atuando em sistema híbrido — com aulas alternadas. Ela disse que Henry apresentava comportamento alegre, falante, participativo e muito interessado.

Trecho do depoimento da professora de Henry Foto: Reprodução
Trecho do depoimento da professora de Henry Foto: Reprodução

A professora negou ter percebido alguma lesão ou qualquer sinal de maus-tratos. Ela negou também que Henry tenha reclamado de algum tipo de abuso ou problema no ambiente familiar.

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Ex-namorada de Jairinho relata agressões e que filha vomitava ao vê-lo

Uma ex-namorada de Jairinho, de 31 anos, relatou ter sido agredida pelo vereador e disse que a filha, de 3 anos à época, ficava nervosa, chorava e até vomitava ao vê-lo. A menina chegou a contar para a avó materna que também apanhava do parlamentar e que teve a cabeça afundada por ele embaixo da água em uma piscina. O caso está sendo investigado em um inquérito aberto na Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav).

Ex-namorada do dr. Jairinho relatou que sofreu agressões dele ao depor na polícia Foto: Reprodução
Ex-namorada do dr. Jairinho relatou que sofreu agressões dele ao depor na polícia Foto: Reprodução

Ela relatou que conheceu Jairinho em 2010, na festa de comemoração pela eleição de seu pai, o policial militar e ex-deputado estadual Jairo de Souza Santos, o Coronel Jairo (MDB), e logo depois eles teriam ficado noivos. Na ocasião, o vereador era oficialmente casado com a dentista Ana Carolina Ferreira Netto, mãe de dois de seus três filhos — fato que era negado pelo político e seus familiares, segundo ela.

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A mulher contou que, em determinado momento, sua filha não mais queria ficar em sua companhia quando ela estava com Jairinho. A menina chorava e pedia para dormir com a avó materna .

Em depoimento, ex-namorada disse que, em uma viagem,contou ter encontrado o vereador segurando sua filha pelos braços. Criança estava assustada Foto: Reprodução
Em depoimento, ex-namorada disse que, em uma viagem,contou ter encontrado o vereador segurando sua filha pelos braços. Criança estava assustada Foto: Reprodução

A testemunha disse ainda que em uma ocasião em que viajou com Jairinho e a filha para Mangaratiba, ele lhe ofereceu remédios para dormir. Ela teria colocado o comprimido embaixo do travesseiro. Ao chegar à sala do apartamento, contou ter encontrado o vereador segurando pelos braços a criança , que estava assustada. Ela relatou também um episódio em que, depois de uma discussão, decidiu voltar para a casa a pé. Inconformado, o vereador foi de carro atrás das duas, abriu a porta e mandou que entrassem. Diante da recusa, ele teria pegado a criança pela cintura e a colocado bruscamente no veículo.

Irmã de ex-namorada confirmou que sobrinha não gostava da presença de Jairinho

A irmã dessa ex-namorada de Jairinho corroborou algumas das informações prestadas pela cabeleireira. A professora de Educação Física contou que “toda vez” que o vereador a buscava, a criança dizia que “não queria ir” e, por vezes, vomitou “de tão nervosa”.

Ex-namorada de Jairinho diz que conversaram 'como se nada tivesse acontecido' no dia da morte

Vereador Dr. Jairinho é padrasto do menino Henry Borel, que morreu no dia 10 de março Foto: Renan Olaz / Divulgação CMRJ
Vereador Dr. Jairinho é padrasto do menino Henry Borel, que morreu no dia 10 de março Foto: Renan Olaz / Divulgação CMRJ

Uma outra ex-namorada de Jairinho contou que, às 11h46 do dia 8 de março — seis horas e quatro minutos após atestada a morte de Henry —, eles conversaram “ como se nada tivesse acontecido ”. A estudante afirmou que o parlamentar a enviou mensagens para saber sobre o resultado de seu antibiograma, um exame laboratorial que a moça realizaria depois de se queixar de ardência ao urinar.

Ao depor, amante de Jairinho relatou que ele nada falou sobre a morte do enteado Foto: Reprodução
Ao depor, amante de Jairinho relatou que ele nada falou sobre a morte do enteado Foto: Reprodução

No depoimento, ela conta que Jairinho escreveu no WhatsApp: “Preciso saber o que deu no antibiograma. Tem que tratar, tem que tratar”. Ao responder que não fez o exame, a mulher foi repreendida por ele: “Que loucura é essa?”. A estudante disse que, em momento algum, ele comentou sobre o ocorrido com Henry e que ela ficou sabendo do falecimento do menino por amigos em comum e, depois, pela imprensa. O corpo do menino foi liberado do hospital para o IML por volta de 13h.

A mulher disse ainda ter ligado para a irmã de Jairinho, tendo o próprio posteriormente retornado o telefonema. Ela disse que o vereador a orientou a “ficar tranquila” pelo fato de ter sido intimada a depor, pois apenas teria que relatar como fora o relacionamento dos dois e se ele era agressivo. Ela reiterou que ele continuou sem falar sobre o falecimento do enteado tampouco sobre como se sentia.

Ela revelou que começou a namorar Jairinho em 2014, quando assessorava uma vereadora e pediu afastamento do cargo. Ela diz ter ficado com ele durante seis anos, entre idas e vindas, já que na época o parlamentar era casado com Ana Carolina . Em janeiro, a ex-mulher dele chegou a registrar uma ocorrência também na 16ª DP narrando ter sido agredida por ele.

Ex-namorada volta atrás e admite agressões

Em um novo depoimento, a estudante voltou atrás nas declarações prestadas e relatou uma série de episódios de violência que sofreu por parte do parlamentar, no qual disse ser sequer " capaz de contabilizar ". Ela alegou ter mentido e omitido informações por se sentir "ameaçada", uma vez que no momento em que prestou o primeiro depoimento Jairinho ainda estava em liberdade.

A estudante contou que, a partir do segundo ano de relacionamento, passou a "sofrer constantes agressões físicas", inclusive depois do término do namoro, com a primeira delas em 2016. Em 2015, enquanto dormia, o vereador colocou na boca do filho dela, atualmente com 8 anos, um papel e um pano e disse que ele não poderia engolir. Ele teria deitado a criança no sofá da sala, ficado em pé no sofá e apoiado todo o peso do seu corpo nele com o pé.

Agressão rompeu pontos de implante de silicone

O delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP, ouviu um médico que realizou o implante de silicone em uma das ex-namoradas de Jairinho. Ela havia relatado que os pontos da cirurgia foram rompidos em uma das agressões que sofreu do vereador. Em depoimento, o médico disse não se lembrar do episódio. Porém acrescentou que procuraria o prontuário da paciente.

Advogado chamado para impedir que corpo fosse ao IML

Um advogado contou que foi contactado às 4h57m do dia 8 de março por Jairinho, que tentava impedir que o corpo de Henry fosse encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML). Na delegacia, a testemunha relatou que o vereador lhe escreveu: “Amigo, quando puder me liga”; “amigo, me dê uma ligada”; “coisa rápida”; e “preciso de um favor no Barra D’Or”. Às 7h17m, o executivo retornou, pelo aplicativo de mensagens, dizendo: “Pode ligar.” Segundo o advogado, o vereador, “em tom calmo, tranquilo e sem demonstrar nenhuma emoção”, contou que “tinha acontecido uma tragédia” e falou sobre a morte de Henry. Explicando que Monique “estava sofrendo muito”, ele pediu ajuda na “agilização do óbito”.

Ex-mulher confirma agressões dois dias após cerimônia religiosa de casamento

A dentista Ana Carolina Ferreira Netto confirmou que sofreu agressões por parte do parlamentar, no dia 29 de dezembro de 2013 — dois dias após o casamento deles em cerimônia religiosa. Ela contou que, ao desistir de uma viagem de lua de mel depois de ter visto o marido conversando no telefone com outra mulher, ele a chutou. Na época, a dentista chegou a fazer um registro de ocorrência por lesão corporal e ainda um exame de corpo de delito, mas dias depois retornou à 16ª DP (Barra da Tijuca) e informou que não gostaria de representar criminalmente contra Jairinho.

Babá diz ter mentido por 'medo de Jairinho'

Em novo depoimento, em 12 de abril, a babá Thayna de Oliveira disse que, por medo, havia mentido na declaração dada em 24 de março, quando garantiu que Dr. Jairinho, Monique e Henry viviam em harmonia. Ela afirmou que,"por ter visto o que Jairinho tinha feito contra uma criança, ficou com medo que algo também pudesse acontecer com ela própria". Ela afirmou, ainda, que a avó materna do menino, a professora Rosângela Medeiros da Costa e Silva, tinha conhecimento das agressões sofridas por Henry.

Empregada citou ‘cara de apavorado’ de Henry após agressões

No segundo depoimento prestado , no dia 14 de abril, a empregada doméstica Leila Rosângela de Souza Mattos acrescentou informações à declaração que apresentou em 23 de março. A funcionária contou estar no apartamento da família do médico quando a babá Thayna de Oliveira Ferreira narrou em tempo real as agressões do parlamentar a Henry. Segundo ela, o menino saiu do quarto com "cara de apavorado".

A funcionária negou ter visto o menino relatar à babá que levou “bandas” e “chutes” do vereador . Ela contou que, embora Thayna tenha perguntado à criança sobre o que acontecera no quarto, ela nada teria respondido— ao menos que Rosângela tenha ouvido. Ela relatou que o menino disse estar mancando por ter “caído da cama” e pediu para que não tivesse os cabelos penteados, pois sua “cabeça doía”.

Irmã de Jairinho nega ter tido conhecimento de violência

A irmã do vereador, Thalita de Souza , diferente do que contou a babá Thayna de Oliveira Ferreira , negou ter tido conhecimento de qualquer agressão praticada pelo irmão. No depoimento, a funcionária relatou ainda ter sido orientada por ela a não contar sobre “tudo que sabia” acerca das bandas e chutes do vereador contra o menino. Essas informações também não foram confirmadas por Thalita.

Cabelereira viu Monique falar com Henry por videochamada e ouviu briga

A cabeleireira que atendia Monique no dia 12 de fevereiro, quando Henry teria confessado que era agredido por Dr. Jairinho, viu quando a professora recebeu uma videochamada do filho. Ela ouviu enquanto Henry Borel Medeiros contava para a mãe que o médico e vereador o havia agredido . Ela lavava, hidratava e escovava o cabelo e fazia manutenção da unha de acrigel e embelezamento de pés e mãos.

A cabeleireira contou à polícia que viu quando a criança, chorando, perguntou se ele atrapalhava a mãe, contou da briga com o padrasto e pediu que ela voltasse para casa. Em seguida, Monique teria ligado para Jairinho e, aos berros, o repreendeu por seu  comportamento com o filho.

Outros dois profissionais que trabalham no mesmo salão de beleza também prestaram depoimento na delegacia. Eles atenderam a professora no mesmo dia e presenciaram as ligações feitas e recebidas por ela.