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Rio

Morte de Henry: conheça a vida do menino e como foi a investigação que levou à prisão de seu padrasto e de sua mãe

Provas técnicas foram decisivas para conclusão do inquérito, que reuniu também trocas de mensagens de celulares e depoimentos
Ilustração do caso Henry Foto: André Mello - Editoria de Arte
Ilustração do caso Henry Foto: André Mello - Editoria de Arte

RIO — Onze horas antes de dar entrada na emergência do Hospital Barra D’Or com múltiplas lesões no corpo, Henry Borel Medeiros, de 4 anos e 10 meses, demonstrava espontaneamente suas características mais marcantes. Alegre, brincalhão e carinhoso, o menino dança, ri e abraça a barriga do pai, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, enquanto os dois são filmados pela câmera de segurança da saída de um parque de diversões na Barra da Tijuca.

Câmeras de segurança de um parque de diversões dentro de um shopping center na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, registram as últimas imagens do menino Henry Borel, morto em março de 2021 em um crime ainda não esclarecido
Câmeras de segurança de um parque de diversões dentro de um shopping center na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, registram as últimas imagens do menino Henry Borel, morto em março de 2021 em um crime ainda não esclarecido

O local era um dos preferidos da criança, que não teve tempo de completar o primeiro mês de aulas em uma escola católica do bairro. Nem de ser matriculado no curso de teatro escolhido pela mãe, a professora Monique Medeiros da Costa e Silva. Tampouco de fazer amizades no condomínio para o qual os dois se mudaram com o namorado da mãe, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), no fim do ano. O menino morreu na madrugada do dia 8 de março deste ano.

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Alternando momentos de euforia e choros, muitas vezes seguidos de vômitos, Henry chegou a frequentar uma psicóloga por cinco sessões, desde o início de fevereiro. A ideia, para a mãe, era que a profissional acompanhasse o menino nessa “experiência nova” da família — depois de oito anos juntos, a professora e o engenheiro se separaram em julho. Ela também queria orientação sobre como fazê-lo dormir sozinho em seu quarto.

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A família

Professora e engenheiro se conheceram em festa de amiga em comum, na Barra
Ilustração Caso Henry - família Foto: André Mello - Editoria de Arte
Ilustração Caso Henry - família Foto: André Mello - Editoria de Arte

Quase uma década antes de conhecer Jairinho, Monique, com 23 anos, no início de 2011, conheceu Leniel, então com 27. Os dois celebravam o aniversário de uma amiga, no restaurante Faenza, na Barra da Tijuca. Ele, graduado em Engenharia, trabalhava como oficial de Marinha Mercante e fazia curso de especialização para virar chefe de máquina de uma empresa ligada a exploração de petróleo. Ela, formada em Letras (Português e Literatura), estava recém-aprovada em um concurso para professora da prefeitura do Rio e fazia estágio probatório na Escola Municipal Ariena Viana da Silva, em Senador Camará.

Começaram a namorar e Monique foi morar no apartamento de Leniel, na Estrada do Pontal, no Recreio. O relacionamento embalou e, na noite de 14 de dezembro de 2012, o casal oficializou o matrimônio em uma igreja do bairro. Depois, deram uma festa no salão de um condomínio a dez minutos dali.

Trabalhando embarcado até 2015, Leniel passou a fazer escalas de até 21 dias fora de casa, rodando pelos portos de Campos, Macaé, Vitória e Aracaju. Monique continuou a lecionar na Ariena Viana da Silva - colégio que atende até o 5o ano do Ensino Fundamental, é localizado em área de risco na Zona Oeste e cujos alunos atingiram as últimas metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

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Numa das maiores altas de desemprego da história, Leniel acabou perdendo sua vaga. Passou então a alugar seu apartamento e, depois de uma reforma na casa dos fundos do terreno dos sogros, se mudou para lá com Monique.

Meses depois, o engenheiro conseguiu uma recolocação em Aracruz, cidade com pouco mais de 100 mil habitantes no Espírito Santo. Com uma casa locada na região, ficava lá de segunda a quinta-feira. Depois de um jantar em um restaurante do município, em agosto de 2015, Monique engravidou. Ela voltou ao Rio para o parto de Henry, na maternidade Perinatal, em 3 de maio do ano seguinte.

Depois do nascimento de Henry, Monique e Leniel chegaram a ficar em Aracruz (ES) por cerca de cinco meses, até o contrato de trabalho do engenheiro chegar ao fim. A família, então, retornou para a casa que tinham conseguido junto à residência dos pais da professora. Pouco tempo depois, o pai do menino conseguiu um novo emprego, como coordenador de projetos de uma multinacional.

Dessa vez, a proposta era para que Leniel trabalhasse embarcado em Macaé, onde passou a ficar durante os dias de semana. Monique não teria concordado em se mudar com o filho para o interior do estado e poucas vezes chegou a visitar o marido.

Depois da licença maternidade, a professora retornou à escola onde trabalhava em Senador Camará, sendo promovida à diretora em 2018. Pela proximidade, optou em permanecer na casa dos pais.

Ao crescer, o menino foi matriculado em um jardim escola nas redondezas. E passou a dividir o tempo entre brincar, jogar futebol e correr atrás de Olívia, a cachorrinha da família. Nos fins de semana, com a volta do pai a cidade, ficavam esporadicamente no apartamento do Recreio.

Separação

Relacionamento não resistiu ao isolamento na pandemia
Ilustração Caso Henry - separação Foto: André Mello - Editoria de Arte
Ilustração Caso Henry - separação Foto: André Mello - Editoria de Arte

Para Leniel, o afastamento do casal — Macaé e Rio ficam a quase 200 quilômetros de distância — contribuiu para que o relacionamento esfriasse. Filhos de pais divorciados e moradores de Duque de Caxias, o engenheiro diz ter insistido para que tentassem uma reaproximação por causa de Henry.

— Não casei para me separar e dizia isso sempre para a Monique. Sabia no fundo, que isso não seria bom para nosso filho e não queria que ele sofresse — contou.

Os dois, então, continuaram juntos e, no início da pandemia, o engenheiro acreditou que fossem viver mais próximos e felizes, já que, com o home office , conseguiria ter por perto a mulher e o filho. Mas estava enganado:

— Acabou que passei a fazer 18, 20 reuniões por dia. Quase não nos falávamos, e eu só conseguia brincar com o Henry à noite, já cansado. Isso acabou por nos afastar ainda mais. A partir daquele momento, nossa relação desandou de vez e ela pediu a separação logo depois.

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Em julho do ano passado, Monique decidiu sair com Henry da cobertura do Recreio e voltar para a casa dos pais em Bangu. No depoimento à polícia, a professora disse que o relacionamento entre eles chegou a melhorar na ocasião.

Mudança

Monique e o filho vão morar com vereador na Barra
Ilustração Caso Henry - mudança Foto: André Mello - Editoria de Arte
Ilustração Caso Henry - mudança Foto: André Mello - Editoria de Arte

Em 31 de agosto, durante um almoço profissional no Shopping Village Mall, na Barra, ela contou ter conhecido o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior.

Em outubro, após alguns encontros, os dois começaram a namorar. Já em novembro, o parlamentar propôs à professora que eles fossem morar, com Henry, em um apartamento no condomínio Majestic, no Cidade Jardim. O imóvel, de três quartos, ficou com um cômodo para o casal, outro para o menino e um terceiro para hóspedes, como os três filhos de Jairinho.

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Na delegacia, Monique disse que, quando o filho não dormia com os avós — o que ocorria de três a quatro vezes por semana —, ele acabava pegando no sono entre ela e o namorado, na cama de casal.

Últimos dias

Novo colégio, futebol, aulas de inglês e passeio com o pai
Ilustração Caso Henry Foto: André Mello - Editoria de Arte
Ilustração Caso Henry Foto: André Mello - Editoria de Arte

Com a mudança para a Barra, a família passou a contar com uma empregada e uma nova babá. Ele continuou ficando grande parte do tempo com os avós maternos, mas quando estava no apartamento, recebia visitas do pai, que podia levar o menino para passear a qualquer momento.

Com o início do ano letivo, ele estava em uma turma de 15 alunos da Pré-Escola do Colégio Marista São José, que fica a quatro minutos de carro do Majestic. Ele frequentou exatos 20 dias de aula. Funcionários, professoras e pais de aluno não chegaram a notar nenhuma anormalidade no comportamento da criança.

Henry também gostava de jogar futebol e, em um vídeo divulgado por Leniel nas redes sociais, balbuciava as primeiras cores em inglês. Em seu último fim de semana de vida, o menino visitou a casa da avó, foi a uma festa infantil e brincou no parque de diversões.

Investigação

Delegado ouviu testemunhas, fez perícias e reprodução simulada
Ilustração do Caso Henry Foto: André Mello - Editoria de Arte
Ilustração do Caso Henry Foto: André Mello - Editoria de Arte

De acordo com depoimentos prestados por Monique e Jairinho na 16ª DP (Barra da Tijuca), que apurou as circunstâncias da morte de Henry, o casal assistia a série “Narcos” na televisão do cômodo de hóspedes, quando, por volta de 3h30 do dia 8 de março, levantaram para deitar no quarto. Henry, que havia pegado no sono no local, como já era habitual, teria sido encontrado pelos dois caído no chão, com pés e mãos gelados e olhos revirados.

O laudo de necrópsia apontou que a criança sofreu hemorragia interna e laceração hepática e apresentava equimoses, hematomas, edemas e contusões que não seriam compatíveis, segundo peritos, com um acidente doméstico, como queda.

O inquérito, aberto no dia da morte do menino, ouviu 29 testemunhas, entre familiares, funcionários e vizinhos da família. Alguns foram ouvidos mais de uma vez e mudaram seus depoimentos. Também depôs um alto executivo da área de saúde, que foi contatado por Jairinho para tentar impedir que o corpo do menino fosse encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML), onde foram atestadas as agressões à criança. Esse advogado relatou ter sido contactado pelo padrasto do menino a partir de 4h57 do dia 8 de março. Ele havia chegado ao Hospital Barra D’Or com Monique e Henry às 3h50. O óbito do menino só foi atestado às 5h42 pela equipe médica.

Os aparelhos celulares e laptops de Monique, Jairinho e do engenheiro Leniel Borel de Almeida, pai de Henry, foram apreendidos e periciados.

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Reprodução simulada

Peritos fazem a reprodução simulada por cerca de quatro horas no apartamento do casal Foto: Editoria de Arte com foto de Domingos Peixoto
Peritos fazem a reprodução simulada por cerca de quatro horas no apartamento do casal Foto: Editoria de Arte com foto de Domingos Peixoto

Mesmo com a ausência de Monique e Jairinho, peritos do IML e do ICCE e de policiais da 16ª DP realizaram, na tarde do dia 1º de abril, uma reprodução simulada por cerca de quatro horas no apartamento. Uma investigadora representou a professora e um agente representou o parlamentar nas encenações. Um boneco, com as características de peso e altura de Henry também foi usado.

Após oito semanas de apuração, o delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP, concluiu o inquérito e apresentou o relatório final indiciando Monique Medeiros e o Jairinho por crime de homicídio duplamente qualificado.

As prisões de Jairinho e Monique

A polícia concluiu que o vereador agredia o enteado, e que a mãe da criança sabia disso
As prisões de Jairinho e Monique Foto: Editoria arte
As prisões de Jairinho e Monique Foto: Editoria arte

Na manhã do dia 8 de abril, policiais da 16ª DP prenderam Jairinho e Monique Medeiros, em Bangu, na Zona Oeste do Rio. A polícia concluiu que o vereador agredia o enteado, e que a mãe da criança sabia disso — pelo menos desde o dia 12 de fevereiro. Ele, Monique e a babá do menino teriam mentido à polícia quando disseram que a relação da família era harmoniosa.

De acordo com as investigações, Jairinho dava bandas, chutes e pancadas na cabeça do menino, que morreu no último dia 8 de março. Jairinho e Monique foram encontrados pela polícia em uma casa em Bangu. Uma conversa entre Monique Medeiros e a babá de Henry, Thayna de Oliveira Ferreira, cerca de um mês antes da morte do menino, foi um dos fatores que mais pesaram contra o casal.

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Após a prisão, o casal deixou a 16ª DP (Barra da Tijuca), na Zona Oeste do Rio, após caminharem, escoltados, em silêncio até as duas viaturas da Polícia Civil, rumo ao Instituto Médico-Legal (IML), no Centro. Pessoas que acompanhavam a cena xingaram os suspeitos e os chamaram de "assassinos" . Um homem mais exaltado chegou a furar o bloqueio da polícia e deu um tapa no vereador.

Mudanças em depoimentos

Após a prisão dos dois, Thayna de Oliveira Ferreira, de 25 anos, ex-babá de Henry prestou novo depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca) sobre o caso. Para a polícia, ela teria mentido no primeiro interrogatório, quando negou saber que o menino era agredido. Ela admitiu que mentiu na declaração dada em 24 de março, por medo de Jairinho ,  e afirmou ter presenciado três agressões de Dr. Jairinho contra Henry. A ex-babá contou ainda que Monique solicitou que ela apagasse as mensagens trocadas entre as duas em 12 de fevereiro e que a avó materna de Henry sabia das agressões .

A empregada doméstica Leila Rosângela de Souza Mattos também depôs novamente e acrescentou informações à declaração que apresentara em março. A funcionária contou estar no apartamento da família em 12 de fevereiro, data em que a babá Thayna narrrara em tempo real as agressões do parlamentar a Henry. Segundo ela, o menino saiu do quarto com " cara de apavorado ".

Em depoimento, a irmã de Jairinho, Thalita Fernandes Santos disse que Monique lhe contara que o menino tinha dificuldade de “ aceitar o relacionamento ” do casal. Ela acrescentou que a professora revelou ter levado o menino a um acompanhamento psicológico pela dificuldade que ele tinha de aceitar a relação da mãe com o parlamentar. Thalita negou ter visto ou presenciado qualquer comportamento anormal entre a família.

No dia 4 de maio, a Policia Civil concede entrevista coletiva sobre a conclusão do inquérito. O GLOBO teve acesso às 110 páginas do inquérito sobre o caso . O delegado Henrique Damasceno disse, referindo-se aos argumentos de inocência da mãe do menino, que "'a única pessoa calada foi o Henry" . "Ele pediu ajuda e não foi ajudado", declarou o delegado. O pai do menino, Leniel Borel, disse em suas redes sociais: " Henry, hoje vimos a justiça começando a ser feita" .

O secretário de Polícia Civil do Rio, Allan Turnowski garantiu que as provas técnicas foram essenciais para a conclusão do inquérito e o consequente indiciamento de Jairinho e Monique. Ele destacou a robustez dos documentos, obtidos através de exames de necropsia, da reprodução simulada no apartamento e da perícia nos equipamentos eletrônicos .

'Humilhações e violência': a carta de Monique sobre Jairinho

Duas semanas após a prisão a mãe de Henry rompeu com o vereador e escreveu de próprio punho e da cadeia, uma carta de 29 páginas narrando episódios de violência
'Humilhações e violência': a carta de Monique sobre Jairinho Foto: Editoria arte
'Humilhações e violência': a carta de Monique sobre Jairinho Foto: Editoria arte

Cerca de duas semanas após ter sido presa, a mãe de Henry, Monique Medeiros, resolveu romper com Jairinho ao escrever, de próprio punho e da cadeia, uma carta de 29 páginas . Além de narrar sua versão dos fatos, desde a separação com o pai do menino, o engenheiro Leniel Borel, até o início de um relacionamento que ela conta ser baseado em ciúmes e agressividade com Dr. Jairinho — o que estaria fazendo com que ela tivesse que tomar ansiolíticos e remédios para dormir. Monique também contradisse o que havia alegado em depoimento sobre o momento em que encontrou o filho sem vida.

Caso Henry: Por que a estratégia de separação das defesas de Monique e Dr. Jarinho?

“Estou sofrendo muito. Não há um dia que eu não chore pela morte do meu filho”. Foi assim que começou a carta de Monique Medeiros. Ela também buscou desfazer algumas impressões sobre seu comportamento após a morte do filho , como o fato de ter feito uma selfie na 16ª DP (Barra da Tijuca), que investiga o caso, no dia do depoimento, e ter ido a um salão de cabeleireiro um dia após o sepultamento de Henry. A defesa conta que a ida ao salão foi por pressão do político, que exigia que a professora, que tinha emagrecido e arrancado tufos de cabelos — ela usa megahair —, se mostrasse “apresentável”.

Nesse novo relato, Monique Medeiros se colocou como vítima de agressões e do ciúme doentio de Jairinho. De acordo com a defesa dela, após ser presa, a mãe de Henry se sentiu segura para falar a verdade.

Após a divulgação da carta, o então advogado de Jairinho, Braz Sant’Anna, classificou a carta como “peça de ficção”. Ele assumiu a defesa de Jairinho depois de o advogado André França Barreto deixar o caso alegando querer evitar “conflito de interesse”. Ele representava o casal desde o primeiro depoimento que prestaram, em 18 de março, mas Monique contratou o escritório de Thiago Minagé, Hugo Novais e Thaise Assad quatro dias após a prisão

— A carta da Monique é uma peça de ficção, que não encontra apoio algum nos elementos de prova carreados aos autos. Não há realidade no relato dela — afirmou o defensor, em entrevista a O GLOBO.

Jairinho denunciado por agressão a outra criança

MP peediu a prisão do vereador por tortura contra filho de ex-namorada
Jairinho denunciado por agressão a outras crianças Foto: Editoria arte
Jairinho denunciado por agressão a outras crianças Foto: Editoria arte

Já após a prisão de Jairinho pela morte de Henry, o Ministério Público começou a investigar outras denúncias de agressão de ele é acusado. No fim de junho, Jairinho foi denunciado por tortura contra o filho de uma de suas ex-namoradas , a estudante Débora de Mello Saraiva. O documento aponta que ele submeteu o menino, de 2 anos à época, com emprego de violência, a “intenso e desnecessário sofrimento físico e mental, como forma de aplicar-lhe castigo pessoal ou medida de caráter preventivo”. A decretação de uma nova prisão preventiva pelo crime contra o parlamentar, que já está preso pelo homicídio triplamente qualificado de Henry, também foi pedida.

A criança teria ainda tido um papel colocado em sua boca por Jairinho, que disse que “se engolisse, ele iria ver”. Logo após, o vereador teria também colocado um saco plástico na cabeça do menino e dado voltas de carro com ele, pelas ruas do condomínio. Já em 9 de março de 2015, ao sair sozinho com a criança, ele teria dado início a “sessões de tortura” no veículo, causando-lhe hematomas nas bochechas e vômitos. Naquele mesmo dia, o descer sozinho de uma altura entre 50 e 70 centímetros, o menino caiu e quebrou o fêmur .

De acordo com as investigações da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav), o menino foi levado por Jairinho e Débora ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, onde recebeu uma imobilização nas duas pernas por dois meses. Como, aos médicos da unidade, Jairinho alegou que o menino havia sofrido um “acidente automobilístico”, ele também foi denunciado pelo crime de falsidade ideológica.

Em abril, o vereador havia sido denunciado também pelo Ministério Público por tortura em outro caso . Segundo a denúncia, entre os anos de 2011 e 2012, submeteu uma menina , então com 4 anos, a intenso sofrimento físico e mental, como forma de castigo pessoal.

O documento relata que o vereador mantinha, à época, um relacionamento amoroso com a mãe da vítima e se aproveitava do fato para, nas oportunidades em que se encontrava sozinho com a criança, torturá-la física e mentalmente . “Tem-se que o denunciado batia com a cabeça da vítima contra diversos lugares, chutava e desferia socos contra a barriga da criança, além de afundá-la na piscina colocando seu pé sobre sua barriga, afogando-a, e de torcer seu braço”, diz a denúncia.

As perdas de Jairinho

Político ficou sem partido e Conselho de Ética foi a favor se sua cassação
As perdas de Jairinho Foto: Editoria de Arte
As perdas de Jairinho Foto: Editoria de Arte

Poucas horas após a sua prisão, em 8 de abril, teve início um processo que culminaria no julgamento da sua cassação pela Câmara. Naquela data de abril, enquanto Jairinho passava pela triagem do sistema penitenciário do Rio de Janeiro, o Solidariedade anunciou a sua expulsão dos quadros do partido.

Um dia após a prisão, foi publicada no Diário Oficial a exoneração da pedagoga Monique do Tribunal de Contas do Município (TCM). Ela era lotada no gabinete do conselheiro Luiz Antônio Guaraná. Ela deixou o cargo comissionado e voltou à Secretaria municipal de Educação (SME) onde é servidora de carreira.

Em 14 de abril, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) do Rio informou que o diretor da cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio, pediu para ser exonerado após denúncias de regalias durante a passagem de Jairinho e Monique pela unidade. Um vídeo revela Jairinho recebendo um sanduíche das mãos do então diretor da unidade Ricardo Larrubia da Gama.

Jairinho está preso no presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, e Monique, no Instituto Penal Ismael Sirieiro, em Niterói.

Processo de cassação

Fragilizado politicamente, ele viu o processo que levaria à sua cassação ser agilizado. Em maio, a Comissão de Justiça da Câmara deu parecer favorável ao recebimento da representação feita pelo Conselho de Ética e Decoro , que pedia a sua cassação.

O também vereador Luiz Ramos Filho (PMN) foi sorteado relator do caso e recomendou a sua cassação aos demais membros do Conselho. O relatório foi aceito por unanimidade. A defesa dele afirmou que ele era um pai carinhoso, mas não sensibilizou os demais parlamentares .

Já com relação ao seu registro profissional de médico, neste mês, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) suspendeu o cautelarmente . O Conselho Pleno do Cremerj também decidiu pela abertura de um processo ético contra ele, que pode culminar na cassação definitiva do seu direito ao exercício da medicina.

A sindicância contra ele fora aberta em março, quando vieram à tona as primeiras suspeitas de participação dele na morte do enteado, Henry Borel.