Rio

Corpo de menino morto no Complexo do Alemão é enterrado no interior do Piauí

Mãe de Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, disse ser capaz de reconhecer policial que teria atirado na criança na quinta-feira

CORRENTE (PI) e RIO - O corpo de Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, morto por um tiro no Complexo do Alemão, foi enterrado nesta segunda-feira por volta das 16h40m, no cemitério municipal da cidade de Corrente, a mais de 800 quilômetros de Teresina, no Piauí. O sepultamento foi acompanhado por centenas de pessoas, e os pais do menino, José Maria Ferreira e Terezinha Maria de Jesus, choraram muito durante a cerimônia. O caixão chegou ao município de manhã, e o velório correu na casa de uma tia.

— Eu vou fazer vencer a Justiça. Aquele maldito que tirou sua vida vai pagar. Eu tenho muita fé em Deus que ele vai pagar o que fez com você. Se eu pudesse, eu mesma acabaria com a vida (dele) — disse, aos prantos, Terezinha de Jesus ao site G1, antes de o caixão ser baixado à cova.

Terezinha, pouco antes de o caixão descer à cova: 'Eu vou fazer vencer a Justiça. Aquele maldito que tirou sua vida vai pagar' Foto: Martha Santhuza / Especial para O GLOBO
Terezinha, pouco antes de o caixão descer à cova: 'Eu vou fazer vencer a Justiça. Aquele maldito que tirou sua vida vai pagar' Foto: Martha Santhuza / Especial para O GLOBO

Terezinha, que declarou ser capaz de reconhecer o policial que teria tirado a vida de seu filho, chegou no mesmo avião que transportava o corpo, junto com uma filha de 12 anos. Segundo Terezinha, Eduardo foi baleado por um PM na favela. A Polícia Militar afirma que ele foi atingido em confronto entre agentes e traficantes. José Maria e uma filha de 18 anos com um bebê viajaram em outro voo. Eles foram recebidos por Leonardo de Jesus França, de 25 anos, filho do primeiro casamento de Terezinha, além de moradores e alunos de uma escola municipal, que seguravam cartazes pedindo paz.

— A polícia foi truculenta, sempre agiu de forma truculenta no Alemão. Nunca fomos ameaçados por bandidos, mas sempre pela polícia. São soldados destreinados, saem atirando em quem estiver pela frente, sem perguntar. Tanto tempo na vida vivendo em um lugar perigoso assim, nos conforta chegar em nossa terra — disse José Maria.

A família pretende passar alguns dias em Corrente e só voltará ao Rio para resolver algumas pendências. A mãe do garoto disse que quer voltar a morar no Piauí.

Eduardo foi atingido por um tiro na cabeça, na última quinta-feira. Ele brincava com o celular na porta de casa, na localidade do Areal, no Complexo do Alemão.

CÂMARA: AUDIÊNCIA PÚBLICA NO ALEMÃO

Após quatro pessoas morrerem baleadas no Complexo do Alemão na última semana, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados resolveu fazer uma audiência pública na comunidade. A decisão foi tomada na tarde de ontem, após uma reunião com familiares de vítimas da violência no Alemão. A Assembleia Legislativa (Alerj) realizará outras duas audiências para discutir as condições de trabalho dos policiais das UPPs e a violência no Alemão. As mortes na comunidade ainda serão investigadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional, que apura a violência contra jovens pobres e negros no país. A sessão ainda não tem data marcada.

O VELÓRIO DO MENINO EDUARDO