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GERADO EM: 30/06/2024 - 04:30

Reforma do Museu Nacional de Belas Artes

Um novo Museu Nacional de Belas Artes está sendo reformado para reabrir em 2025, com espaços modernizados e novas exposições. O prédio histórico passa por restaurações complexas, incluindo a recuperação da cúpula central e a preservação de seu valioso acervo de obras de arte brasileira e estrangeira. A diretora Daniela Matera destaca o esforço para transformar o museu em um espaço contemporâneo e acolhedor para os visitantes.

Pendurados em cordas, com martelo de pontas de borracha e fibra nas mãos, alpinistas dão suaves batidas na argamassa externa da cúpula central gigante do prédio do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), na Cinelândia, no Centro do Rio. No trabalho, fazem o chamado "teste de percussão", a fim de identificar desplacamento na peça, com 16 metros de pé-direito, cem metros quadrados e 12 janelas, assinada pelo escultor Rodolfo Bernardelli. O rapel, praticado por uma equipe de nove profissionais, precisou ser incorporado ao minucioso serviço de restauração do edifício, de 1908, com frente para a Avenida Rio Branco, que ocupa um quarteirão e integra o conjunto arquitetônico formado por mais duas instituições culturais, o Theatro Municipal e a Biblioteca Nacional.

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1973, o local está fechado para obras há quatro anos. A expectativa da diretora Daniela Matera é de que seja reaberto ao público, totalmente recuperado e modernizado, no fim de 2025. Até a reinauguração, Daniela quer também criar outra logomarca para o MNBA, além de espaços de convivência — como bistrô e lojas de lembranças — concedidos à iniciativa privada. E implantar uma nova exposição de longa permanência.

— Estamos trabalhando 26 horas por dia para reabrir o espaço como um novo museu — destaca Daniela, que assumiu o MNBA em 2022 e planeja ainda deixar abertas ao público as largas varandas que ficam nas laterais do salão nobre. — Eu sonho com o museu. Acreditando nos sonhos, às vezes acordo e anoto o que sonhei.

Num passeio pelas dependências do prédio se vê um vaivém de cerca de 70 empregados trabalhando na estrutura da construção. Parte do acervo — que reúne 25 mil obras, incluindo coleções de arte africana e indígena, pintura brasileira do século XVIII ao XXI, pintura estrangeira e gravuras, entre outras — não pôde ser guardada na área da reserva técnica por conta de suas dimensões. Precisou ser "envelopada" para ficar protegida da poeira do serviço de restauro.

Caso de quadros, como os que retratam duas batalhas: a do Avaí, de Pedro Américo (mede 6m por 11m), de 1877; e a dos Guararapes, de Vítor Meireles (com 4,9m por 9,2m), de 1879. Moldagens em gesso sobre originais greco-romanos — usadas para estudo, quando funcionava no prédio a Escola Nacional de Belas Artes — foram outras peças que tiveram que ser cobertas, porque não havia como transportá-las.

A recuperação das quatro fachadas do edifício histórico e de seus ornamentos está concluída. A reforma de esquadrias e claraboias está em fase final. Entre outras intervenções na estrutura, o serviço contempla acabar com infiltrações e medidas de prevenção a incêndios. Os recursos somam R$ 27,8 milhões do Fundo de Direitos Difusos, do Ministério da Justiça.

Diálogo espectador e obra

Mais frentes estão em fase de conclusão de projetos executivos. O BNDES aplicará quase R$ 4 milhões na modernização do sistema elétrico da edificação. Já a Shell, via Lei Rouanet (de incentivos fiscais para apoio à cultura), está investindo mais de R$ 5,8 milhões na climatização do prédio, na expansão da reserva técnica do museu e na implantação de uma nova exposição de longa duração. Outro patrocinador, com R$ 1,3 milhão, é o Itaú.

A diretora do MNBA, Daniela Matera, junto a moldagens em gesso sobre originais greco-romanos, cobertas para ficarem protegidas da poeira da obra — Foto: Custódio Coimbra
A diretora do MNBA, Daniela Matera, junto a moldagens em gesso sobre originais greco-romanos, cobertas para ficarem protegidas da poeira da obra — Foto: Custódio Coimbra

— A nova exposição de longa duração será a cereja do bolo. O circuito está sendo repensado pelas curadoras Simone Bibian e Cláudia Rocha. Existe a ideia de incorporar instalações artísticas. Falando hipoteticamente, pode ter uma instalação artística na frente da Primeira Missa no Brasil (tela de Vítor Meireles, de 1860). O quadro estava na parede, e não havia o diálogo espectador e obra. Agora, vamos fazer a relação e trazer para a contemporaneidade. Queremos que obras do século XVIII, do século XIX, dialoguem com obras de artistas do século XXI — conta Daniela.

Andaime suspenso

Das intervenções na estrutura, as últimas a iniciarem foram nas três cúpulas. O serviço está adiantado nas laterais, com dez metros de pé direito e 64 metros quadrados de área.

A proposta inicial de obra nas cúpulas previa a demolição de todo o invólucro de argamassa armada que envolve uma tela metálica (em formato de gaiola de passarinho). A estrutura metálica seria recuperada e revestida por um material novo. Mas o Iphan ponderou quanto à necessidade de remoção completa de uma argamassa centenária. Após estudos, a opção foi pela substituição tão somente dos trechos degradados.

Embora tenha recebido reforço estrutural, entre 1940 e 1960, a cúpula central — diferentemente das outras duas — nunca havia sido restaurada. A sua recuperação exigiu cuidados extras. Além do rapel do lado externo, internamente a solução foi construir uma plataforma suspensa, a fim de ter acesso às paredes.

— O peso do andaime tradicional poderia colocar em risco a laje. Por isso, um calculista projetou uma estrutura independente, quase flutuante — explica o arquiteto do Iphan João Leal, cedido ao museu para acompanhar a obra.

Canil desativado

Segundo a coordenadora-técnica do Iphan-RJ, Letícia Pimentel, a parte mais complexa da restauração do prédio é a da cúpula central:

— É uma estrutura colossal, única, uma construção em forma de escultura.

Letícia acrescenta que um dos desafios é que a equipe do MNBA consiga estabelecer uma rotina de manutenção das cúpulas e elas não necessitem de restauração no futuro:

— Isso está sendo discutido. Dentro desse processo, o que a gente está querendo, a partir da restauração que está sendo feita, é determinar um novo marco zero para essas cúpulas.

De arquitetura eclética, o edifício do MNBA foi projetado pelo arquiteto Adolfo Morales de los Rios. Na fachada principal, há frontões, colunatas e relevos em terracota, além de medalhões pintados por Henrique Bernardelli. Nas fachadas laterais, mosaicos retratam personalidades como Leonardo Da Vinci e Giorgio Vasari, e são assinados pelo francês Félix Gaubin.

A construção tem quatro andares (incluindo o térreo) e terraço. Em algum momento, no terraço foi construído um canil, depois desativado. Dentro da cúpula central, há marcas de que ali havia salas, possivelmente da escola que funcionou no prédio.

Com o prédio fechado para restauração, o MNBA tem realizado algumas exposições extramuros. A maior delas, programada para julho, a "Pretagonismos", tem curadoria de Ana Telles, Reginaldo Tobias, Amauri Dias e Claudia Rocha. Ela marca a reabertura da galeria do BNDES e faz parte do acordo de cooperação técnica com o espaço cultural do banco. A mostra apresenta trabalhos de artistas negros de diferentes gerações, da coleção do museu.

Preciosidades no acervo da instituição

Batalha do Avaí — Foto: Divulgação/MNBA
Batalha do Avaí — Foto: Divulgação/MNBA

Com mais de 60 metros quadrados, o quadro Batalha do Avaí, de Pedro Américo, é a maior pintura de cavalete da história da arte brasileira. Foi pintado nove anos após o confronto, um dos principais da Guerra do Paraguai, ocorrido em dezembro de 1868.

Batalha de Guararapes — Foto: Divulgação/MNBA
Batalha de Guararapes — Foto: Divulgação/MNBA

Na gigantesca pintura a óleo sobre tela, de 1879, Vítor Meireles retrata a Batalha de Guararapes, um confronto militar ocorrido em dois momentos (em 1640 e 1649), entre as tropas do império português e o exército da Holanda, na então Capitania de Pernambuco.

Primeira Missa no Brasil — Foto: Divulgação/MNBA
Primeira Missa no Brasil — Foto: Divulgação/MNBA

A Primeira Missa no Brasil, de Vítor Meireles, é um dos quadros mais famosos da história da arte brasileira. A tela foi pintada entre 1859 e 1861, quando o artista vivia em Paris. A Carta de Pero Vaz de Caminha foi a fonte fundamental de inspiração.

Café, de Portinari — Foto: Divulgação/MNBA
Café, de Portinari — Foto: Divulgação/MNBA

A obra Café, de Cândido Portinari, foi premiada na Exposição de Arte Moderna do Instituto Carnegie, em Nova York (1935). Mostra o trabalho árduo realizado na plantação por homens e mulheres, numa época em que o café era considerado o “ouro verde” do Brasil.

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