Rio

'Fomos afastados do ônibus a pedido do sequestrador', disse primeiro fotógrafo a chegar ao local do sequestro na Ponte Rio-Niterói

Fabiano Rocha diz que, em 14 anos de profissão, nunca havia presenciado situação semelhante
Sequestrador foi morto por um atirador do Bope Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Sequestrador foi morto por um atirador do Bope Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

"Eu cheguei a passar na frente do ônibus enquanto vinha para o jornal. Como o meu horário de trabalho é o das 6h, eu passei por ele por volta de 5h20. Vi o ônibus já parado, com o pisca-alerta ligado, mas não ali no local onde se deu o desfecho, ele estava antes do Mocanguê, logo depois do pedágio. Como também havia uma caminhão-reboque da ponte atrás dele, entendi: 'o ônibus quebrou'. Segui e, no jornal, peguei o equipamento e saí para fazer o amanhecer da cidade. Daí foi quando o Márcio Alves (da equipe da fotografia) me ligou e disse que parecia que havia um ônibus sequestrado na ponte. Perguntei se era o da Galo Branco: 'Eu passei por ele agora há pouco, vou correr para lá'. Então mudei a minha rota.

Quando cheguei ao local, a Ponte ainda não estava fechada no sentido Niterói, e eu desci bem em cima do ônibus. Não tinha imprensa alguma lá. Fui o primeiro, mas já havia muitos policiais lá, a PRF... Eram mais de 20 policiais e muitas viaturas. Comecei a registrar toda essa movimentação. Logo saiu a primeira refém: uma mulher com uma blusa vermelha. Depois, saiu outra que não veio para o meu lado, mas para onde estava uma ambulância. Então eu vi que o ângulo que eu estava não era muito bom. Passei para outro ponto, para a frente do ônibus e enquanto chegavam ainda mais policiais. Fiquei a uns 50 metros de distância do coletivo. Depois, a polícia aumentou o isolamento para uns 100 metros. Eu estava com uma lente grande, de 400mm, e mesmo assim eu estava longe.

LEIA : Polícia prende homem que diz ser comparsa de sequestrador de ônibus

Às 7h37, o sequestrador desceu do ônibus, olhou para a gente e voltou para o coletivo. Acho que ele se assustou porque a gente estava de frente, fotografando. Foi a primeira vez em que eu o vi, de fato, pois as cortinas do ônibus estavam todas fechadas. Ele estava com uma máscara no rosto, abaixada, e com um rádio na mão para se comunicar com o negociador. Segundo os policiais com quem falei, fomos afastados do ônibus a pedido do sequestrador, que não queria a imprensa perto. Em outro momento, um policial pediu para que os repórteres de televisão não passassem nada ao vivo porque ele estava acompanhando tudo de dentro do ônibus. Essa orientação nos foi passada diversas vezes.

LEIA : Witzel diz que vai promover snipers por bravura: 'já determinei a promoção'

Chegou o negociador do Bope e saíram mais reféns. Ficou toda aquela adrenalina do "ele vai atirar, ele não vai atirar". Uma outra equipe do batalhão tirou a imprensa dali. Ficamos atrás de uma placa a uns 200 metros. Foram também deslocados mais de 50 curiosos que se penduravam na divisão das pistas, fazendo fotos ou filmando com o celular. A orientação da polícia era deixar tudo. 'Larga tudo como está. Carro, moto, tudo. Vá lá para trás', repetiam.

A informação que a polícia tinha desde o início era que o sequestrador estava armado com um revólver calibre 38. Ouvi várias vezes os policiais alertando para termos cuidado: 'tiro de 38 chega aqui'. Vi que, do meu lado, havia um caminhão baú parado. Conversei com o motorista para conseguir fazer as imagens de cima. De lá, tive uma visão melhor. Fiquei sentado olhando o tempo inteiro para a porta do ônibus.

Às 9h, o sequestrador saiu, jogou um casaco e fez um 'dedo feio'. Pelo ângulo da imagem que eu fiz, acredito que o gesto tenha sido para o atirador do Bope. Foi neste momento em que ele deu um tiro. O sequestrador caiu no chão. As pessoas ao redor comemoraram muito. Parecia um gol no Maracanã. Logo depois, chegou o governador de helicóptero vibrando também, correndo em direção ao local.

Em seguida, os policiais fecharam a frente do ônibus, com viaturas e vans. Não era possível ver se o sequestrador saiu ou não com vida, nem se os reféns desceram do ônibus. Eu saí do local por volta das 11h, quando a ponte reabriu.

Em 14 anos de profissão, na correria do dia a dia e de acompanhar diversas operações policiais, nunca havia presenciado uma situação de sequestro como essa. Foi uma adrenalina muito diferente. Tudo aconteceu em uma fração de segundos. Quando a porta do ônibus abria, a gente sabia que ia descer alguém, mas não sabia quem. Quando o sequestrador saiu pela primeira vez, fiquei assustado, mas a adrenalina me fez ficar ali. É claro que deu medo, mas passou."