Fora do isolamento, Jairinho divide cela com presos por tráfico, fraude no INSS e envolvimento com a milícia
Espaço em Bangu 8 já foi ocupado pelo contraventor Rogério Andrade e por deputados estaduais supostamente envolvidos em esquemas de corrupção do qual seu pai também foi acusado e detido
Paolla Serra
30/04/2021 - 12:12
/ Atualizado em 30/04/2021 - 13:07
Jairinho preso e fichado Foto: Guito Moreto/Agência O Globo e Reprodução
RIO — O médico e vereador
Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho
(sem partido), ocupa, desde o fim da tarde de quinta-feira, dia 29, a cela D do Presídio Pedrolino Werling de Oliveira, no Complexo de Gericinó, conhecido como Bangu 8. Com o fim do isolamento, seguindo os protocolos contra a Covid-19 da Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), o parlamentar, investigado pela morte do enteado, Henry Borel Medeiros, de 4 anos, passa a ocupar um dos maiores espaços coletivos da unidade, com cerca de 70 metros quadrados, com capacidade para até 44 pessoas e atualmente ocupado por outros cinco presos. A namorada de Jairinho, a professora
Monique Medeiros da Costa e Silva
, mãe de Henry, é também investigada pela morte do menino.
Jairinho divide o local com o arquiteto Clayton Luiz Vieira, preso na Operação Sturm, em dezembro do ano passado, acusado de dar suporte técnico a construções de prédios irregulares na comunidade da Muzema, na Zona Oeste do Rio. Um dos prédios, do Condomínio Figueiras, desabou, matando 24 pessoas em 2019. De acordo com o Ministério Público, o profissional orientava os construtores Ivonaldo Teixeira Costa e Clodoaldo Dias Godinho. Ele foi denunciado por organização criminosa.
Laudo do Instituto Médico- Legal (IML) constatou muitas lesões espalhadas pelo corpo do menino, infiltrações hemorrágicas nas partes frontal, lateral e posterior da cabeça, contusões no rim, no pulmão e no fígado. A mãe afirmou acreditar que ele tenha caído da cama e batido a cabeça Foto: Reprodução / Instagram ▲
Coletiva sobre a conclusão do inquérito sobre a morte do menino Henry Borel. Da esquerda para a direita estão:
Marcos Kac (promotor do caso), o delegado Antenor Lopes (diretor da DGPC), Henrique Damasceno (delegado titular da 16ª DP), Denise Rivera (perita criminal) e Ana Paula Medeiros (delegada-adjunta da16ª DP) Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo ▲
O delegado titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), Henrique Damasceno, deu uma entrevista coletiva sobre a conclusão do inquérito que apurou a morte de Henry. "A única pessoa calada foi o Henry. Ele pediu ajuda e não foi ajudado", disse o investigador Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo ▲
Monique Medeiros, mãe do menino Henry, exibe a tatuagem feita para esconder uma homenagem ao ex-marido nas redes sociais. O desenho foi feito no dia em que Monique pediu que Jairinho "pagasse suas coisas" para não prejudicá-lo Foto: Reprodução ▲
Os avós de Henry com o menino ainda bebê. 'Me sinto muito culpada', disse mãe do menino ao pai uma semana após morte. Conversa com o avô da criança faz parte do conteúdo recuperado pela polícia no celular de Monique: 'Tudo foram escolhas minhas', disse ela em outro trecho Foto: Reprodução ▲
Henry em sua última festa de aniversário: pai compartilhou foto nas redes sociais no dia em que o menino faria 5 anos Foto: Arquivo pessoal ▲
Monique revela 'humilhações e agressões' em carta sobre a relação com Jairinho. Carta foi escrita na última sexta-feira (23), no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde recebe tratamento contra a Covid-19. A professora descreve uma rotina de violências, humilhações e crises de ciúmes do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido) Foto: Reprodução ▲
Dr. Jairinho e Monique Medeiros, em fotos feitas no ingresso do casal no sistema penitenciário Foto: Reprodução / Agência O Globo ▲
Vereador Dr. Jairinho, preso, ao lado de diretor de presídio. Na imagem ele come um sanduíche que o diretor entregou para ele Foto: Reprodução ▲
O advogado André Françao, que representava Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, Barreto renunciou à defesa do vereador no caso Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo ▲
Doutor Jairinho durante discurso na Câmara de vereadores, onde os sete membros do Conselho de Ética da Câmara dos Vereadores decidiram, por unanimidade, abrir o processo de cassação do mandato do vereador Foto: Renan Olaz / Agência O Globo ▲
Dr. Jairinho foi preso junto com Monique, mãe do menino Henry, por tentar interferir na investigação do caso. Segundo a polícia, o casal será indiciado por tortura e homicídio duplamente qualificado, além de poder perder o mandato na Câmara dos Vereadores do Rio Foto: Guito Moreto / Agência O Globo ▲
Monique Medeiros, mãe do menino Hnery cumpre prisão preventiva e será indiciada por tortura e homicídio duplamente qualificado Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo ▲
Peritos chegam ao edifício Majestic para fazer a reconstituição da morte do menino Henry Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo ▲
Câmera encontrada por policiais da 16ª DP (Barra da Tijuca) no quarto de Henry. Anotação recuperada em celular de Monique Medeiros da Costa e Silva expõe sua vontade de instalação do equipamento dentro de imóvel no Majestic Foto: Reprodução ▲
Edifício Majestic, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde o menino Henry vivia com a mãe e o padrasto Foto: Reprodução / TV Globo ▲
Henry no colo da mãe enquanto Dr. Jairinho faz um carinho nele Foto: Reprodução ▲
A mãe de Henry, Monique Medeiros, e o padrasto, o vereador Dr. Jairinho, chegam à 16ª DP (Barra) para ser ouvidos como testemunhas Foto: Reprodução / TV Globo / Agência O Globo ▲
Polícia cumpre mandado na casa da família de Monique, em Bangu, Zona Oeste do Rio Foto: Fabiano Rocha em 26/03/2021 / Agência O Globo ▲
Leniel Borel de Almeida em entrevista ao Fantástico: 'Acordo de manhã chorando. Tem que ter muita força, cara. E o que eu sei é que esse menino não pode ter morrido em vão' Foto: Reprodução / TV Globo ▲
Dr. Jairinho na Câmara dos Vereadores do Rio. Ele era padrasto de Henry Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo - 23/05/2019 ▲
Henry Borel Medeiros tinha 4 anos quando morreu na madrugada do dia 8 de março em condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde morava com a mãe e o padrasto. A causa da morte, segundo laudo do IML, foi "hemorragia interna causada pelo rompimento do fígado" Foto: Reprodução / Instagram ▲
O pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, que é separado da mãe do menino, tem publicado fotos e mensagens para o menino. Ela diz ainda esperar respostas Foto: Reprodução / Instagram ▲
Em trocas de mensagens entre o pai e a mãe, Monique Medeiros, foi revelado que Henry não gostava de voltar para a casa, onde vivia com Monique Medeiros e o padrastro, o vereador Dr. Jairinho Foto: Reprodução / Instagram ▲
Monique com o filho Henry Foto: Reprodução TV Globo ▲
O grupo atuava na ocupação do solo, execução das obras, locação, entre outras atividades ligadas ao grupo de paramilitares da região. Na ocasião, investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), mostraram que, mesmo após o desabamento do edifício, a milícia continuou atuante na região, e contando com a colaboração de policiais civis e militares além de políticos nos negócios ilegais.
Também ocupa a cela D um homem acusado de crimes contra a previdência social, através de um esquema de fraudes de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); um funcionário do aeroporto internacional do Rio que teria liberado a entrada de uma remessa de drogas ao estado; além de outros dois presos. A galeria conta com beliches, cinco banheiros e três chuveiros. Todos têm direito a quatro refeições e duas horas de banho de sol diárias no pátio.
A cela D já foi ocupada pelo contraventor Rogério Andrade e pelos deputados estaduais André Corrêa (DEM), Luiz Martins (PDT), Marcus Vinícius Neskau (PTB), Marcos Abrahão (Avante) e Chiquinho da Mangueira (PSC), presos na Operação Furna da Onça, da Polícia Federal, desdobramento da Lava-Jato que apurava um esquema que teria movimentado R$ 54 milhões. Em troca de pagamentos regulares, seria oferecido, então, apoio a Sérgio Cabral nas votações realizadas na Alerj. O ex-governador permanece preso na cela D de Bangu 8.
Carta foi escrita na última sexta-feira (23), no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde recebe tratamento contra a Covid-19. A professora descreve uma rotina de violências, humilhações e crises de ciúmes do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido) Foto: Reprodução ▲
Carta foi escrita na última sexta-feira (23), no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde recebe tratamento contra a Covid-19. A professora descreve uma rotina de violências, humilhações e crises de ciúmes do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido) Foto: Reprodução ▲
Carta foi escrita na última sexta-feira (23), no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde recebe tratamento contra a Covid-19. A professora descreve uma rotina de violências, humilhações e crises de ciúmes do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido) Foto: Reprodução ▲
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Carta foi escrita na última sexta-feira (23), no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde recebe tratamento contra a Covid-19. A professora descreve uma rotina de violências, humilhações e crises de ciúmes do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido) Foto: Reprodução ▲
O pai de Jairinho, o policial militar e deputado estadual Jairo de Souza Santos, o Coronel Jairo (MDB), chegou a ser alvo da Furna da Onça, mas, na ocasião, havia se internado em um hospital particular na Barra da Tijuca, onde foi preso e permaneceu acautelado por uma semana.
Jairinho deixou a cela de isolamento C3, após passar pela classificação de risco — procedimento no qual o diretor, desde o ingresso do vereador no local, em 8 de abril, analisou a “aceitação” dos demais presos ao convívio com ele. No último dia 16, ele procurou atendimento médico no Hospital Penitenciário Hamilton Agostinho, também no Complexo de Gericinó, e relatou sentir dores de cabeça, tontura e um quadro de ansiedade. O vereador foi medicado e, ao retornar a unidade, entrou em nova quarentena por mais 14 dias.
Monique Medeiros da Costa e Silva permanece isolada no Hamilton Agostinho. Ela testou positivo para coronavírus, no dia 19, em um exame PCR feito no Instituto Penal Ismael Sirieiro, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, onde estava presa desde então. Em nota, a Seap informou que ela está recebendo atendimento médico e só retornará à unidade quando apresentar melhora em seu quadro de saúde.
De acordo com o laudo da tomografia computadorizada realizada por ela no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, ao qual o GLOBO teve acesso exclusivo, 5% dos pulmões dela estavam comprometidos pela doença, no dia 20. "A extensão do acometimento do parênquima pulmonar é de 5%", diz trecho do laudo, que relata ainda que a área afetada é o lobo inferior esquerdo do pulmão.