Rio

Mangueira é campeã do carnaval carioca com o avesso da História do Brasil

Vice-campeonato fica com a Unidos do Viradouro, até o ano passado na Série A
Mangueirenses erguem a taça do campeonato de 2019: verde e rosa vence o carnaval do Rio Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Mangueirenses erguem a taça do campeonato de 2019: verde e rosa vence o carnaval do Rio Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

RIO — No carnaval do Rio, triunfaram o samba, o discurso e a emoção da Estação Primeira de Mangueira. A verde e rosa conquistou seu vigésimo campeonato num desfile sobre os heróis esquecidos da História do Brasil. A apresentação marcou ainda com uma homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março do ano passado.

Foi o segundo campeonato do carnavalesco Leandro Vieira na agremiação, depois da vitória de 2016, com uma homenagem a Maria Bethânia. Este ano, no entanto, as dificuldades tinham sido grandes no barracão, por conta da crise nas escolas de samba. Em vez de materiais caros, Leandro recorreu, então, ao que ele chamou de "luxo da cor" para brilhar na Avenida. Nesta quarta-feira, ele chegou à apuração, na Praça da Apoteose, aos gritos de "viva Leandro".

- A Mangueira merece essa festa. Faz carnaval, representa uma comunidade importante. Um carnaval de representatividade. Esses homens e essas mulheres aqui são os heróis do meu enredo que merecem sempre ser exaltados - disse Leandro nas comemorações do campeonato.

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Já a rainha de bateria da Verde e Rosa, Evelyn Bastos, disse que a vitória com críticas políticas tão contundentes vai incomodar muitos "preconceituosos". Para ela, o título teve um sabor ainda mais especial por exaltar os verdadeiros heróis do povo, mas renegados pela História:

- A gente sabe que essa vitória vai incomodar muita gente. E não por causa da verde e rosa. Mas incomoda aos preconceituosos, racistas. Exaltamos os verdadeiros desbravadores do país , a verdadeira História foi contada. Os reis e rainhas exaltados trouxeram essa vitória.

Ela se disse realizada em poder fazer, na Avenida, uma "crítica social tão importante". No fim, ela afirmou que a vitória é de todo o país:

- A gente desceu da favela. A maior festa desse mundo é do preto, pobre, suburbano e favelado. Ninguém consegue fazer carnaval se não tiver esse poder correndo na veia. Essa vitória não é só nossa. É de você mulato, mestiço, negro. Essa vitória é nossa. Essa vitória é do país inteiro.

O título ponto a ponto

A vice-campeã foi a Viradouro, de Paulo Barros, vencedora ano passado da Série A. Em terceiro lugar ficou a Vila Isabel, com uma das apresentações mais luxuosas da década. Em quarto ficou a Portela. Em quinto, o Salgueiro. E, completando o desfile das campeãs, no sábado que vem, a Mocidade Independente de Padre Miguel.

Confira o resultado final de 2019

A Mangueira liderou junto com a Viradouro até o terceiro quesito (mestre-sala e porta-bandeira). A escola de Niterói, no entanto, perdeu um décimo em alegorias e adereços. A Mangueira, que tinha perdido pontos no quesito ano passado, garantiu as notas 10. E manteve a primeira posição de forma isolada.

Este ano, a agremiação investiu na contratação do casal Priscilla Mota e Rodrigo Negri, criadores de aberturas famosas, como a da mudança de roupas da Unidos da Tijuca, em 2010. Na Verde e Rosa, ele apostaram numa coreografia em que mostrava figuras históricas pequenas diante de índios e negros. Tinha ainda a menina Cacá Nascimento que abria uma faixa com a palavra "presente", em referência à vereadora assassinada Marielle Franco.

A Vila Isabel, que tinha perdido um décimo por ter estourado o tempo limite de desfile em um minuto, chegou a assumir a vice-liderença. Mas, em samba-enredo, a Vila ficou para trás, ao perder três décimos. Viradouro também saiu do quesito com dois décimos a menos. Mas depois saiu ilesa da apuração, e garantiu o vice-campeonato.

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Antes da apuração, já era previsto o duelo entre Mangueira, Vila Isabel e Viradouro. A Velha Manga, com sua versão não oficial da história do país, exaltando os heróis esquecidos do Brasil, como Luisa Mahin e Chico da Matilde. Já a escola do bairro de Noel trazia o Brasil dos imperadores. Se na primeira a Princesa Isabel era retratada de forma caricata, a segunda a mostrava com pompa. Já a Viradouro, que contratou Paulo Barros, apresentou os contos infantis.

A Mangueira chegou a ter um 9,9 em enredo, mas a nota foi descartada.

Nas últimas posições, rebaixadas para a Série A ano que vem, ficaram Imperatriz Leopoldinense e Império Serrano.

Veja imagens do desfile da Mangueira