Rio

Morre Jorge Picciani, ex-presidente da Alerj

Ex-deputado tinha 66 anos e lutava contra um câncer na bexiga. Ele estava em prisão domiciliar desde 2018
O ex-presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Jorge Picciani Foto: Marcelo Carnaval
O ex-presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Jorge Picciani Foto: Marcelo Carnaval

RIO — Morreu na madrugada de desta sexta-feira, por volta das 2h, o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e pecuarista Jorge Picciani. Ele estava internado em São Paulo, onde se tratava de um câncer na bexiga. Nas últimas semanas Picciani foi intubado e já não estava mais consciente. A informação foi confirmada pelo atual presidente da Alerj, André Ceciliano, que afirmou que o velório deve ser realizado no Palácio Tiradentes — já colocado à disposição da família.

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Ele lutava desde 2017 contra um tumor na bexiga, o que o levou a se licenciar da presidência da Alerj para realizar sessões de quimioterapia e uma cirurgia para a retirada da próstata e da bexiga. Naquele mesmo ano, ele foi preso durante a Operação Cadeia Velha. Picciani já havia sido diagnosticado com a doença no mesmo órgão, em 2010. Na ocasião, ele ficou internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, onde retirou um divertículo na bexiga (diverticulectomia vesical), que estava causando sangramento e infecção urinária.

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Picciani passou a cumprir prisão domiciliar em março de 2018, devido ao agravamento do seu estado de saúde. O político era reavaliado a cada dois meses por uma perícia médica. Em abril de 2019, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou um pedido de revogação da sua prisão domiciliar.

Em nota, o MDB-RJ manifestou luto pela morte de Picciani. O partido político afirma que seus correligionários passam pelo "mais profundo sentimento de pesar" com a notícia e se solidariza com a família e os amigos do ex-presidente da Alerj. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, que já foi do mesmo partido de Picciani, também manifestou seu pesar após o anúncio da morte do ex-deputado:

— Quero manifestar meu pesar, sempre guardei com ele uma ótima relação. Era uma ótima pessoa. Abraçar os filhos e a mulher dele. Morreu ainda muito jovem. Hoje já falei com Leonardo e Rafael Picciani.

Pelo Twitter, o governador do Rio, Cláudio Castro, disse que recebeu a notícia com tristeza:

"Neste momento doloroso, deixo aos familiares meus sentimentos e que encontrem em Deus a força necessária para superar a dor da perda".

Outro político que se manifestou foi o ex-governador do Rio Luiz Fernando Pezão (MDB), que também está em prisão domiciliar. Ele afirmou que “Picciani era um ser político na sua essência" e transmitiu votos de pesar aos familiares.

Carreira política

Filho de um casal de confeiteiros, Picciani foi criado em Mariópolis, bairro de classe média-baixa da Zona Norte do Rio, vizinho ao campo de Gericinó, nos limites da cidade com Nilópolis. Em 1985, na primeira experiência política, atuou na região como cabo eleitoral da candidatura do advogado Marcelo Cerqueira a prefeito pelo PSB. O pleito foi vencido por Saturnino Braga, do PDT de Leonel Brizola.

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Em 1990, Picciani conquistou o primeiro de seus seis mandatos como deputado estadual. Passou por todos os cargos importantes do Legislativo, até se eleger, por quatro mandatos consecutivos, presidente da Alerj (2003-2010), posto que voltou a ocupar em 2/2/2015, após ficar quatro anos afastado do Parlamento. Jorge Sayed Picciani era conhecido na política como "homem de palavra", porque cumpria os acordos acertados. Gostava de ser chamado assim. E foi justamente por cumprir a palavra com os empresários do setor de transportes, protegendo os interesses da classe em quase três décadas de votações da Assembleia Legislativa do Rio, conforme revelaram investigações, que foi preso em 2017. Ele estava em prisão domiciliar.

O primeiro sinal de ligação de Picciani com o setor de transporte ocorreu em dezembro de 1996. Sob a sua liderança, um grupo de deputados conseguiu incluir em projeto do governador Marcello Alencar emenda que determinava a não incidência do ICMS sobre o transporte intermunicipal de passageiros. Marcello teve de recorrer à Justiça e a emenda foi julgada inconstitucional pelo Supremo. Os deputados ainda acabaram com a possibilidade de multas e fiscalização sobre o setor, assim como a cobrança de débitos fiscais. Com este formato, o projeto foi aprovado numa velocidade recorde. Nos dois casos, as emendas tinham as digitais de Picciani, que anteriormente, ainda no PDT sempre discursava a favor da cobrança de ICMS.

Em abril de 1999, o então governador Anthony Garotinho revelou em conversas com interlocutores ter sido pressionado pelos deputados Sérgio Cabral Filho e Picciani, que teriam pleiteado a Secretaria de Transportes para atender à bancada do partido na Assembleia e ao esquema de influência da Fetranspor na Casa. Ele também denunciou ter sofrido uma tentativa de suborno logo depois de determinar a redução de 15% nos preços das passagens de 588 linhas intermunicipais de ônibus.

No campo pessoal, os anos 1990 também foram férteis para Picciani. No período, ele adquiriu cinco fazendas, casas em condomínios da Barra da Tijuca e de Búzios e carros importados. Desde então, sempre que cobrado sobre o salto patrimonial, sustentou que os bens acumulados eram fruto do trabalho como produtor rural, atividade que passou a se dedicar a partir de 1984.

Casado com Hortência Oliveira Picciani, ele tem cinco filhos: o deputado federal Leonardo Picciani; o deputado estadual Rafael Picciani; o zootecnista Felipe, que presidiu a Associação Nacional de Criadores de Nelore e cuida dos negócios da família; Arthur e o caçula Vicenzo.

O corpo de Picciani será velado neste sábado, às 8h, no Palácio Tiradentes, no Centro. O sepultamento será no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, às 11h30m.