Rio

Museu da História e Cultura Afro-Brasileira é inaugurado na Gamboa com acervo de mais de dois mil itens

Obras de artistas como Nelson Sargento e Heitor dos Prazeres podem ser vistas pelo público no espaço, vizinho ao Cais do Valongo
RI Rio de Janeiro (RJ) 23/11/2021 Inauguração do MUHCAB, Museu da História eda Cultura Afro-Brasileira, na Gamboa - O prefeito do Rio Eduardo Paes inaugura o MUHCAB, na Gamboa. Exposição com telas de Nelson Sargento, Heitor dos Prazeres, e muitos outros. Na foto, escritora Vilma Piedade observa telas de Nelson Sargento. Foto Ana Branco / Agencia O Globo Foto: Ana Branco / Agência O Globo
RI Rio de Janeiro (RJ) 23/11/2021 Inauguração do MUHCAB, Museu da História eda Cultura Afro-Brasileira, na Gamboa - O prefeito do Rio Eduardo Paes inaugura o MUHCAB, na Gamboa. Exposição com telas de Nelson Sargento, Heitor dos Prazeres, e muitos outros. Na foto, escritora Vilma Piedade observa telas de Nelson Sargento. Foto Ana Branco / Agencia O Globo Foto: Ana Branco / Agência O Globo

RIO - Quatro anos após ser criado no papel, o Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), vizinho ao Cais do Valongo, na Gamboa, foi inaugurado nesta terça-feira pela prefeitura, com um acervo de cerca de 2,5 mill itens. No coração da Pequena África e instalado no Centro Cultural José Bonifácio, o espaço abriga pinturas, esculturas e fotografias, incluindo trabalhos de artistas plásticos contemporâneos. A abertura ao público acontece com a exposição “Protagonismo: memória, orgulho e identidade”, que conta com, entre outras obras,  "Árvore Calcinada", de Nelson Sargento;  “Sambistas”, de Heitor dos Prazeres; e uma criada especialmente para o novo museu,  sem título, de Artedeft, artista que utiliza pintura e colagem digital para mostrar a realidade urbana e periférica.

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Logo na entrada, os visitantes dão de cara com uma carranca dando as boas-vindas. Na primeira sala, batizada de Conceição Evaristo, há um grande mapa mostrando  as rotas do tráfico de escravos da África para o Brasil. Lá também é vista a   instalação “Tecendo raízes” , uma ciranda com tecidos africanos que faz uma viagem até as origens dos povos ancestrais. O percurso segue pela sala Agnaldo Camargo, onde o público tem a chance de conhecer uma série de plantas com fins de cura, cada uma relacionada a um orixá, além de esculturas em barro dos mesmos orixás, da artista Carmem Barros.

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Uma outra sala, chamada Grande Otelo, reúne textos e fotos sobre temas como o mito da democracia racial, ditadura e resistência. Três telas de Nelson Sargento, artista multifacetado, baluarte da Mangueira e que também se destacava como pintor, são um destaque à parte, junto a um acervo fotográfico com imagens da atriz Ruth de Souza e do Teatro Experimental do Negro (TEN).Já a sala do Educativo leva o nome de Mestre Marçal e terá atividades para  crianças e adolescentes. Por último, a sala Abdias do Nascimento apresenta uma  linha do tempo e vídeos com a história do Muhcab e uma obra interativa onde o visitante pisa no território conhecido como Pequena África.

–  Estamos no Novembro Negro, essa região é a nossa Pequena África. Fizemos um investimento grande para que  esse prédio funcione como uma espécie de farol que, junto com o Instituto dos Pretos Novos (IPN) e o Cais do Valongo,  possa chamar a atenção para a cultura do povo negro na formação da história da nossa cidade. E que assim, num futuro não tão distante, possamos construir uma sociedade mais justa e mais igual – afirmou o prefeito Eduardo Paes, presente na inauguração.

O Muhcab foi instituído num decreto de 2017 como um braço do centro de interpretação do Cais do Valongo, que vai trabalhar o acervo arqueológico encontrado na região. O Centro de Interpretação da Herança Africana, que ficará no galpão Docas Pedro II, é uma das obrigações assumidas pela União junto à Unesco que ainda não foram cumpridas.

No caso do Muhcab, como ele é definido como um museu de território, edificações, e elementos urbanos também fazem parte do acervo.Para preservar as obras, a  Secretaria municipal de Cultura realizou a limpeza e o restauro das calhas do palacete do século XIX para impedir vazamentos. O Centro Cultural José Bonifácio, restaurado em 2013, foi fundado em 1877 por Dom Pedro II como a primeira escola pública da América Latina, faz parte do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana.  As peças lá guardadas passaram por higienização, sendo que algumas ainda por pequenos restauros.

–  O Muhcab surge com uma missão muito valiosa, que é trabalhar com a memória da cultura negra dessa região e, de alguma maneira, também apontar para o futuro de um Rio de Janeiro que assume a cultura negra como a sua centralidade. Esse espaço tem um acervo rico que trata da luta e a da resistência, além da potência artística do povo negro. É um passeio artístico e educativo para todas as famílias. É uma alegria muito grande apresentar esse museu para a população carioca e para os turistas –  disse o secretário de Cultura, Marcus Faustini.

Em maio deste ano, o Muhcab ganhou um site (rio.rj.gov.br/web/muhcab), dentro de uma cooperação internacional da Prefeitura do Rio com a Unesco, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, em parceria com o projeto Territórios Negros.

–  O museu tem muitas obras que, a partir de agora, vão passar  por um tratamento de maior cuidado e carinho. Além da visitação do acervo, as pessoas vão poder fazer oficinas de teatro e percussão. É emocionante e uma alegria enorme reabrir esse espaço porque eu frequentei muito essa casa nos anos 90, quando ainda era um centro cultural.  Esse museu tem muita importância para o movimento negro – contou o diretor-geral do Muhcab,  Leandro Santanna.