Rio

Museu Nacional sofria de problemas de infraestrutura pelo menos desde 2016

Em junho, BNDES firmou contrato para financiar reforma que incluia prevenção de incêndio
Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em maio de 2018; palácio foi atingido por incêndio em 02 de setembro do mesmo ano Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em maio de 2018; palácio foi atingido por incêndio em 02 de setembro do mesmo ano Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

RIO — O Museu Nacional , na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, que é consumido por um incêndio de grandes proporções na noite deste domingo, já vinha sofrendo de problemas na sua infraestrutura pelo menos desde 2016, segundo relatório interno. Em junho deste ano, o BNDES assinou um contrato de financiamento de R$ 21,7 milhões para restauração do local, e uma parcela da verba deveria ser investida em segurança contra incêndio.

Além disso, os recursos seriam destinados para uma reforma da biblioteca, localizada no Horto Botânico, e para a restauração de estruturas como o telhado do museu e os aposentos do imperador Dom Pedro II.Antes uma vitrine do Império, o museu — fundado em 1818 por D. João VI e desde 1946 vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro —,  vinha sofrendo de goteiras, infiltrações e outros problemas gerais, segundo apontou relatório de 2016 da Biblioteca do Museu Nacional.

"O prédio da Biblioteca continua sofrendo com goteiras e infiltrações, principalmente na área de guarda do acervo; há morcegos e gambás nos forros e ferrugens nos ferros expostos das marquises, convivendo servidores e usuários com plásticos pretos sobre estantes inteiras e baldes por praticamente todos os espaços, dejetos de animais sobre as paredes e estantes e o risco de gesso ou pedaços de concreto caírem sobre alguém ou equipamentos", diz o relatório publicado em agosto de 2017 em referência ao ano anterior.

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‘Só temos verba para medidas paliativas’, diz diretor do Museu Nacional

Anteriormente, em entrevista ao GLOBO de fevereiro , o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, dissera que a instituição precisava de mais verbas para reformar o prédio. "O maior problema são as goteiras. Ficamos preocupados quando cai uma tempestade porque só temos verbas para medidas paliativas de prevenção", disse o paleontólogo na entrevista.

A assessoria do Museu Nacional informou neste domingo que ainda não está claro o que deu início ao incêndio, sendo necessário esperar o trabalho dos bombeiros para obter mais informações. Embora domingo seja um dia de visitações frequentes, o museu fechou às 17h e, neste horário, não há mais ninguém no local além dos funcionários de segurança. No momento em que as chamas começaram a se alastrar, havia quatro vigilantes no prédio.

Os três andares do palácio abrigavam um acervo de 20 milhões de itens, incluindo documentos da época do Império; fósseis; coleções de minerais; artefatos greco-romanos; e a maior coleção egípcia da América Latina. Dentre seus itens mais conhecidos, estavam o esqueleto de um dinossauro encontrado em Minas Gerais e o mais antigo fóssil humano descoberto no atual território brasileiro, batizado "Luzia". Trata-se da instituição científica e do museu mais antigos do Brasil, tendo neste ano completado seu bicentenário. A visitação média mensal é de 5 a 10 mil pessoas.

A vice-diretora do Museu Nacional, Cristiana Cerezo chegou ao local muito emocionada e chegou a se atirar ao chão. Ela afirma que havia muitos produtos inflamáveis no interior do prédio.

— Havia muitos produtos que poderiam causar incêndio, a gente tinha um plano pra evacuar essas substâncias do Museu, mas infelizmente isso aconteceu — disse. — A gente estava trabalhando com a atualização da prevenção de incêndio, realizando treinamentos, é muito triste.

Em nota, o presidente Michel Temer se manifestou sobre o incêndio: "Incalculável para o Brasil a perda do acervo do Museu Nacional. Hoje é um dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos brasileiros".