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Por Giovanni Mourão — Rio de Janeiro


RESUMO

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GERADO EM: 01/08/2024 - 19:22

Chuvas revelam problemas de escoamento no Rio e ação da Fundação Rio-Águas

Chuvas expõem problemas crônicos de escoamento de água no Rio, afetando regiões Sul, Norte e Oeste. Moradores sofrem com transbordamentos, perdas materiais e saúde. Especialista destaca questões de vulnerabilidade e soluções necessárias. Fundação Rio-Águas atua em projetos de infraestrutura para minimizar impactos e prevenir novos alagamentos.

População  de baixa renda  que vive no loteamento  Jardim Maravilha, em Guaratiba, sofre com inundações da Bacia do Piraquê-Cabuçu — Foto: Fábio Rossi
População de baixa renda que vive no loteamento Jardim Maravilha, em Guaratiba, sofre com inundações da Bacia do Piraquê-Cabuçu — Foto: Fábio Rossi

As chuvas de 30 de abril, que nem foram das mais fortes, evidenciaram um problema crônico no Rio: a ineficiência no escoamento das águas. E, mais uma vez, os mais prejudicados foram aqueles que moram em regiões próximas a rios, canais e valões. Houve transbordamento em regiões das zonas Sul, Norte e Oeste, expondo a histórica falta de cuidado com os cursos d’água pelas particularidades de cada região. No Jardim Botânico e no Catete, motoristas e pedestres chegaram a ficar ilhados, mas a situação foi mais grave em locais como Jardim Maravilha e Acari, onde a água poluída dos rios invadiu a casa de moradores, que perderam móveis e eletrodomésticos e ficaram expostos a doenças.

Na Zona Norte, bairros como Acari, Parque Colúmbia, Coelho Neto e Fazenda Botafogo sofreram com a grande vazão de água do Rio Acari, que transbordou e alagou ruas e casas. Tomadas pela água poluída do rio, vias do entorno ainda cheiravam a esgoto e estavam cheias de lama seis dias depois da chuva. Em razão do alagamento, um ônibus ficou preso na ponte que liga a região ao Morro da Pedreira, e o Hospital municipal Ronaldo Gazolla foi invadido pelas águas.

Estragos permanentes

Uma das casas atingidas pelas chuvas foi a de Renata Rollemberg, em Fazenda Botafogo. A força da água foi tanta que de nada adiantou a válvula de retenção que ela instalou na tubulação de esgoto. Nascida e criada na Rua Vitor Frond, ela conta que ver a casa sendo invadida pela água suja se tornou rotina em dias de chuva forte: as paredes estão cheias de infiltrações, problema que prejudicou a saúde dos filhos pequenos. Na sexta-feira, a região ainda continuava cheia de lama.

— Enquanto chovia, começou a sair água suja pelo ralo da cozinha, que se espalhou pela casa inteira e chegou à altura da minha panturrilha. Foram cinco horas com a casa inundada. Numa chuva em janeiro, minha casa também alagou, e minha geladeira chegou a virar. Perdi uma estante, uma cama e todas as portas de madeira. Estamos sem porta em casa — relata a moradora de 41 anos.

Osvaldo Rezende, especialista em recursos hídricos e professor da Escola Politécnica da UFRJ, afirma que a bacia hidrográfica do Rio Acari é uma das que concentram maior população vulnerável em toda a cidade. Em termos geográficos, ela é muito parecida com a do Rio Piraquê-Cabuçu, que extravasa no Jardim Maravilha, loteamento em Guaratiba: tem uma encosta muito íngreme e chega numa grande planície, onde a água desce rapidamente até chegar a uma superfície plana. Ele explica que a diferença é que o Rio Acari corta uma área urbana muito densa, enquanto boa parte do Cabuçu segue seu curso em regiões de vegetação e, antes de desaguar em Sepetiba, acaba atingindo em cheio o Jardim Maravilha, onde também vive uma população de baixa renda.

— A gente tem a percepção de que as bacias do Rio Cabuçu-Piraquê e do Acari inundam mais que as outras porque as consequências socioeconômicas dessas inundações são mais graves. Mas há rios escondidos sob o asfalto que transbordam muito mas ninguém vê: quando chove, o Rio Carioca, que desce por Laranjeiras e deságua no Flamengo, recebe um volume grande de água de uma bacia muito íngreme, que desce rápido numa galeria subterrânea de apenas 1,8 metro. É um espaço muito pequeno para a vazão do rio, e isso se reflete na água que extravasa e desce pelo asfalto das ruas Cosme Velho e das Laranjeiras quando chove — detalha.

Mais de um dia para escoar

O Jardim Maravilha, que tem sucessivos alagamentos, também sofreu com as chuvas do dia 30. Parte do loteamento se encontra na mancha de inundação do Rio Cabuçu-Piraquê, não permitindo o escoamento das águas mesmo quando o rio não enche. Cobras, ratos e lacraias invadiram as casas dos moradores, que precisaram conviver com o lamaçal de esgoto misturado com lixo pelas ruas.

Rosilda Oliveira mora há 22 anos na Rua Vila Glória, no Jardim Maravilha: água dentro de casa chegou a um metro de altura — Foto: Fabio Rossi
Rosilda Oliveira mora há 22 anos na Rua Vila Glória, no Jardim Maravilha: água dentro de casa chegou a um metro de altura — Foto: Fabio Rossi

Rosilda Oliveira mora há 22 anos na Rua Vila Glória, no Jardim Maravilha. Ela conta que após os estragos causados pela chuva do dia 30, pensa em se mudar — dentro de casa, a altura da água, que demorou mais de um dia para escoar, chegou a um metro.

— A água entrou e invadiu todas as casas. Coitada da minha, de tanto passar por isso, já está a coisa mais feia do mundo — lamenta a moradora, que precisou se abrigar no segundo andar da casa da filha.

Osvaldo Rezende diz que a situação no Jardim Maravilha ainda pode ser parcialmente revertida, uma vez que, no local, “ainda há espaço para macrodrenagem e soluções modernas como jardins de chuva e tetos verdes”, ao contrário da comunidade da Muzema, que é atingida pelas cheias do Rio das Pedras e é considerada sem solução pelo especialista:

— A região da Muzema não tem solução, é muito grave. É uma área muito, muito baixa e muito plana, com ocupações no nível do mangue que existia ali e ao lado de uma lagoa. O solo também é muito mole, então as casas tendem a afundar com o tempo. Uma parte do Rio das Pedras é canalizada pelas próprias construções. É uma combinação de fatores que torna o local totalmente inviável para moradia. É necessária a realocação daquela população para um lugar seguro.

Medidas da Fundação Rio-Águas

A Fundação Rio-Águas, vinculada à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, diz que está desenvolvendo um projeto de ações de infraestrutura para o Jardim Maravilha. As obras vão abranger dois milhões de metros quadrados, beneficiando mais de 22 mil moradores.

No Rio das Pedras, a Fundação Rio-Águas atua, no momento, na limpeza e desassoreamento do rio, em quase toda a sua extensão.

Para diminuir os alagamentos da Muzema, a Rio-Águas desenvolveu projeto em conjunto com a Secretaria de Infraestrutura, a ser implantado na Avenida Engenheiro Souza Filho, nos limites da comunidade de Rio das Pedras.

Para o Rio Acari, a Fundação afirma que trabalha na estimativa de custos para a limpeza e desassoreamento dos trechos 1,2, 3, que beneficiarão diretamente a região de Acari e Fazenda Botafogo.

O projeto para estudar as soluções de drenagem para os alagamentos da Rua do Catete e adjacências está em andamento, e os estudos têm conclusão prevista para o segundo semestre.

Na Bacia do Canal do Mangue, a Rio-Águas mantém em operação os reservatórios de controle de enchentes da Grande Tijuca, nas praças da Bandeira, Varnhagen e Niterói.

Para a Grande Tijuca, a Rio-Águas revisa estudos de ações para melhorar o escoamento das águas pluviais na região e tem como ação prioritária o estudo de construção de um desvio no Rio Maracanã para o desvio do Rio Joana, a fim de que os excedentes de água que chegam ao Rio Maracanã passem a desaguar diretamente na Baía de Guanabara

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