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Por Luã Marinatto — Rio de Janeiro


O contraventor Rogério Andrade durante o carnaval de 2018 — Foto: Agência O Globo
O contraventor Rogério Andrade durante o carnaval de 2018 — Foto: Agência O Globo

Um dos maiores contraventores do estado do Rio, Rogério Andrade expandiu seus domínios para além do jogo do bicho e das máquinas de caça-níquel. Segundo o Ministério Público do Rio (MP-RJ), o bicheiro também passou a atuar, nos últimos anos, no ramo das apostas esportivas, conforme atesta a denúncia da Operação Calígula, desencadeada na última terça-feira. A ação mirava Andrade e vários outros membros da quadrilha, como o ex-PM Ronnie Lessa, réu pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, e os delegados Marcos Cipriano e Adriana Belém, ambos presos. Rogério não foi localizado pelos agentes e é considerado foragido.

O texto assinado por promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cita uma conversa captada com autorização judicial no celular de Márcio Garcia da Silva, o Mug, um dos alvos da operação e apontado como responsável por gerenciar a exploração dos jogos de azar na Barra da Tijuca e no Recreio, bairros da Zona Oeste do Rio. No diálogo, travado em novembro de 2017, um interlocutor identificado apenas como "Sandrinho Recreio" diz ao comparsa de Rogério Andrade que está "entrando em um trabalho que se consiste em apostas também, porém são apostas de futebol feitas por um site". O homem continua: "Mas não quero entrar sem antes saber com você se essa modalidade já é de algum de vocês".

Mug, então, envia um alerta por áudio: "Irmão, isso aí é uma coisa que é do homem, entendeu? Se for na área, eu tenho que conversar pessoalmente contigo porque não pode, entendeu? Ele proíbe mesmo. Não deixa botar não". Em seguida, Márcio pondera: "Agora, se for um esquema teu em outro lugar, aí não tem problema não cara, de jeito nenhum. Agora, se for aí no bar, nessa área aí não dá, entendeu? Mas aí eu converso pessoalmente contigo. O negócio é maneiro pra caramba e a gente já tá na pista com isso, entendeu? Geral!"

Mais à frente, Mug dá mais detalhes da operação relativa às apostas esportivas: "Isso aí já está geral, Rio de Janeiro todo. Só que ELE que botou né! Ele que introduziu e eu tomo conta de alguns lugares, entendeu? Mas pode ser pela televisão, pode ser pelo tablet, pode ser uma loja... Eu sei, eu já tenho até loja, entendeu?". Diante do posicionamento do comparsa de Rogério Andrade, Sandrinho recua: "Já vou falar que não pode, então". E arremata: "Deus me livre! Tá vendo? Por isso eu quis logo falar com você".

Para os promotores, a conversa "deixa bem claro" de que maneira se dá o monopólio do contraventor com as apostas esportivas "dentro da área dominada por ele". A denúncia frisa ainda que, "de acordo com o diálogo entre Mug e Sandrinho, Rogério Andrade já dominava o jogo de apostas de futebol, no mínimo, desde 2017" — há cerca de cinco anos, portanto.

O texto lembra também um episódio ocorrido no dia 14 de novembro de 2019, quando dois homens foram mortos com diferença de poucas horas em Realengo, mais um bairro na Zona Oeste no qual a exploração dos jogos de azar seria controlada por Rogério Andrade. Oseas Gomes Sales, de 33 anos, e Pablo Costa Nunes, de 31, eram conhecidos por organizar bolões esportivos na região, que chegavam a pagar prêmios de até R$ 70 mil.

O carro de Oseas foi atingido por cerca de 20 disparos, à noite, enquanto Pablo, que também trabalhava em uma feira vendendo frutas, foi executado com diversos tiros pela manhã. Testemunhas contaram que Oseas havia desistido de organizar os bolões, mas estava preparando uma espécie de despedida do negócio. A principal linha de investigação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), já no dia seguinte aos crimes, era a de que as duas mortes teriam sido encomendadas por bicheiros.

"Oséas teria recebido ordem da contravenção da Zona Oeste para encerrar as apostas que vinha fazendo de bolões de futebol", pontua a denúncia do Gaeco, que destaca a "saideira" anunciada pela vítima pouco antes da execução. "Note-se que é a mesma modalidade de jogo que Sandrinho pretendia colocar", frisam ainda os promotores.

A atuação da quadrilha do campo das apostas esportivas também ficou evidenciada na vertente da investigação que mirou o chamado núcleo tecnológico do bando, dedicado exclusivamente a desenvolver ferramentas e servidores próprios, depois repassados aos comparsas responsáveis por coordenar a operação em cada local. Um relatório elaborado por técnicos da Divisão Especial de Inteligência Cibernética do MP-RJ, obtido pelo GLOBO, detalha um material obtido em um site vinculado a esse grupo. Na página, era possível obter aplicativos nomeados como "caça-níquel", "jogo do bicho" e "futebol", provavelmente associado às apostas esportivas.

A investigação identificou que o aparato tecnológico chegou a ser disponibilizado para integrantes da quadrilha em pelo menos cinco estados, além do Rio de Janeiro. As cidades de Fortaleza, no Ceará, e Florianópolis, em Santa Catarina, foram citadas por membros do bando nas conversas captadas pelos agentes. Já o relatório da Divisão Especial indica uma possível atuação no Pará, no Piauí e no Rio Grande do Sul.

Os programas criados também rodavam nas máquinas de caça-níquel, calculando automaticamente até mesmo a comissão a ser paga a cada envolvido na atividade ilegal. Esse mesmo grupo também era acionado quando essas ferramentas apresentavam algum problema ou não funcionavam corretamente, atuando como uma espécie de "suporte técnico".

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