Rio
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Por Camila Araujo — Rio de Janeiro


Daniel dos Santos Damas, produtor do filme "A verdade que me contaram”, cursa o 3º ano do Ensino Médio — Foto: Maria Carolina Castro
Daniel dos Santos Damas, produtor do filme "A verdade que me contaram”, cursa o 3º ano do Ensino Médio — Foto: Maria Carolina Castro

RIO – Diretamente de Cordovil, na Zona Norte do Rio, o estudante Daniel dos Santos Damas, de 18 anos, é um dos seis alunos de escola pública que irão representar o Brasil no encontro internacional de cinema “À nous le cinema!”, na França. O evento acontece de 1 a 3 de junho, pela primeira vez desde o início da pandemia. A iniciativa é resultado do trabalho desenvolvido há 12 anos pelo Programa Imagens em Movimento, fundado por Ana Dillon, no Rio de Janeiro.

Na mostra, Daniel dos Santos Damas exibe o filme “A verdade que me contaram”, que produziu junto aos colegas Colégio Estadual Professor José de Souza Marques. O filme narra o percurso de vida de Enzo, um menino que não reconhece sua própria imagem no espelho e aborda o racismo e a LGBTfobia, parte dos temas do encontro internacional deste ano.

– Nosso filme fala sobre identidade de gênero e quer provocar um pouco os jovens, os pais, tios e o tratamento dado às pessoas LGBTQIA+. Eu espero que o público se identifique, busque ter mais empatia com o próximo e questione a realidade em que vivemos. A intenção é que isso leve a uma mudança social – conta.

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Cursando o terceiro ano do Ensino Médio, Daniel não acreditou quando soube que iria para Paris apresentar o curta metragem.

– A professora Ana me ligou para conversar e contou da proposta. Eu comecei a chorar, a tremer, entrei em desespero. Nunca andei de avião, nunca saí do Rio. Depois ela comentou em sala que teria um aluno representante e os colegas falaram: “é o Daniel que tem que ir, ele me representa, representa Cordovil!”. Aí eu chorei de novo, abracei todo mundo – relembra – Para mim é muito gratificante porque eu venho de família pobre, já passei fome. Alcançar esse patamar e esses pilares é muito significativo. Eu nunca imaginei que conseguiria chegar até aqui – comemora emocionado.

Os seis estudantes que embarcam neste sábado (28) à capital francesa são moradores das cidades do Rio de Janeiro (RJ), Camaçari (BA) e Várzea Paulista (SP) e participam ativamente as oficinas oferecidas nas escolas públicas pelo Programa Imagens em Movimento (PIM), idealizado por Ana Dillon. As oficinas de cinema, música e expressão corporal acontecem no contraturno das aulas. Anualmente, quinze vagas são ofertadas por cada oficina e a inscrição é livre a quem se interessar.

Já participaram da iniciativa cerca de 1.400 alunos, 100 educadores e mais 160 filmes foram produzidos nas oficinas. Depois de dois anos sem poder ir aos encontros presenciais, chegou a hora de alçar voo.

Selfie no aeroporto. À frente, a professora Ana Dillon, com os estudantes, da esquerda para a direita: Geovana de Oliveira, Yasmim da Silva, Daniel Damas, Jannielly Borges, Agatha Camila da Silva, Gabriella de Magalhães — Foto: Reprodução/Ana Dillon
Selfie no aeroporto. À frente, a professora Ana Dillon, com os estudantes, da esquerda para a direita: Geovana de Oliveira, Yasmim da Silva, Daniel Damas, Jannielly Borges, Agatha Camila da Silva, Gabriella de Magalhães — Foto: Reprodução/Ana Dillon

– Eu estou particularmente feliz porque essa turma é muito inteligente e tem um potencial alucinante. Colocar esses jovens numa sala de cinema internacional é muito enriquecedor. É um ambiente de partilhas, todo mundo se trata de igual para igual, você tem contato com realidades sociais e culturais muito distintas. Os filmes são impressionantes, feitos com rigor técnico, fazem a gente aprender sobre cinema.

O projeto é fruto de uma parceria pioneira na América Latina com uma rede de 16 organizações internacionais dedicadas à pedagogia do cinema, chamada "Cinema, cem anos de juventude" que conta com a orientação geral de Alain Bergala - cineasta e professor, considerado uma referência mundial no campo da pedagogia do cinema.

No âmbito do trabalho em rede, a cada ano é elaborada de forma colaborativa uma metodologia de iniciação ao cinema, e seus resultados são compartilhados de forma virtual e presencial, em um grande intercâmbio de experiências culturais e audiovisuais. No Brasil, o PIM também desenvolve seus próprios eixos temáticos, que este ano, estão voltados para as questões da identidade, do território, da cultura afro-brasileira e da diversidade de gêneros.

– O escopo desse intercâmbio entre as organizações participantes aumentou muito nos últimos 10 anos, e deu origem a uma rede que foi reconhecida por um edital da União Européia. Nossa intenção é integrar os estudantes brasileiros neste contexto de vanguarda mundial em condição de igualdade, contribuindo para a travessia de alguns abismos sociais que tradicionalmente isolam os estudantes da rede pública – frisa Ana Dillon.

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