Na noite de 2 de setembro de 2018, um incêndio destruiu o prédio do Museu Nacional, 85% dos 20 milhões de itens do seu acervo e muito da história brasileira. A reconstrução do Palácio de São Cristóvão, que abriga o museu, na Quinta da Boa Vista, ainda deve se prolongar até 2026. Mas, depois das chamas, e, em seguida, de andaimes, telas e tapumes, o cenário começa a mudar. Quatro anos após a tragédia, a fachada amarela do principal bloco do complexo, com 31 esculturas no topo, será reinaugurada nesta sexta-feira. A conclusão da primeira etapa das obras, que inclui a recuperação do jardim em frente à construção, faz parte das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil.
Também nesta sexta-feira serão inauguradas exposições fotográficas de esculturas, memórias e minerais, em tendas montadas numas das laterais do jardim. Já as peças colocadas na fachada do prédio são réplicas. As originais, em mármore de carrara e pesando entre 200 e 300 quilos, estão sendo restauradas, devendo ganhar lugar dentro do museu.
Veja imagens do Museu Nacional
![Museu Nacional se prepara para as comemorações dos 200 anos da Independência — Foto: Custodio Coimbra](https://s2-oglobo.glbimg.com/GqF15R2wnrUVKY8iljNrPZefiNY=/0x0:982x737/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/V/Z/e3jBBEQZaVBTzUFbboNQ/100316204-ri-rio-de-janerio-rj-31-08-2022-museu-nacional-se-prepara-para-as-comemoracoes-dos-200-ano.jpg)
![Museu Nacional se prepara para as comemorações dos 200 anos da Independência — Foto: Custodio Coimbra](https://s2-oglobo.glbimg.com/dR8TpzYR4BFmmv9s4pxZ89njc7Y=/982x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/V/Z/e3jBBEQZaVBTzUFbboNQ/100316204-ri-rio-de-janerio-rj-31-08-2022-museu-nacional-se-prepara-para-as-comemoracoes-dos-200-ano.jpg)
Museu Nacional se prepara para as comemorações dos 200 anos da Independência — Foto: Custodio Coimbra
![O prédio do Museu Nacional, quatro anos depois do incêndio que destruiu parte de sua estrutura e acervo, em 2 de setembro de 2018. — Foto: Custodio Coimbra](https://s2-oglobo.glbimg.com/pkRNdq28jgn5neGLCdCiv20eXXs=/0x0:1000x750/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/A/4/PgsbA0SN67BB6o4RR6AQ/100316178-ri-rio-de-janerio-rj-31-08-2022-museu-nacional-se-prepara-para-as-comemoracoes-dos-200-ano.jpg)
![O prédio do Museu Nacional, quatro anos depois do incêndio que destruiu parte de sua estrutura e acervo, em 2 de setembro de 2018. — Foto: Custodio Coimbra](https://s2-oglobo.glbimg.com/o3157sUg8XywZNsgP-DAZRvxA6k=/1000x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/A/4/PgsbA0SN67BB6o4RR6AQ/100316178-ri-rio-de-janerio-rj-31-08-2022-museu-nacional-se-prepara-para-as-comemoracoes-dos-200-ano.jpg)
O prédio do Museu Nacional, quatro anos depois do incêndio que destruiu parte de sua estrutura e acervo, em 2 de setembro de 2018. — Foto: Custodio Coimbra
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![Incêndio que destruiu parte do Museu Nacional completa quatro anos neste dia 2 de setembro. — Foto: Custodio Coimbra](https://s2-oglobo.glbimg.com/ZvmB84iWM4I_frfKuAPOFO5bj60=/0x0:4000x3000/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/2/5/qVbQ5TQ0uROLBnUJe7eA/100307247-ri-rio-de-janeiro-rj-30-08-2022-incendio-no-museu-nacional-faz-4-anos-no-dia-2-de-setembr.jpg)
![Incêndio que destruiu parte do Museu Nacional completa quatro anos neste dia 2 de setembro. — Foto: Custodio Coimbra](https://s2-oglobo.glbimg.com/lenHZ0aHUa1_EojjUbZlWxPxU40=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/2/5/qVbQ5TQ0uROLBnUJe7eA/100307247-ri-rio-de-janeiro-rj-30-08-2022-incendio-no-museu-nacional-faz-4-anos-no-dia-2-de-setembr.jpg)
Incêndio que destruiu parte do Museu Nacional completa quatro anos neste dia 2 de setembro. — Foto: Custodio Coimbra
![Operários trabalham no início das obras nas fachadas e telhados do Museu Nacional, em novembro de 2021 — Foto: Hermes de Paula](https://s2-oglobo.glbimg.com/9-4hSFwK2e_hu5ERrvTBIk3Oi2o=/1296x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/v/k/L5onNgSaCp9xdrfAJSeg/96164694-ri-rio-de-janeiro-rj-12-11-2021-cerimonia-de-inicio-das-obras-nas-fachadas-e-telhados-do-2-.jpg)
Operários trabalham no início das obras nas fachadas e telhados do Museu Nacional, em novembro de 2021 — Foto: Hermes de Paula
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![Interior do Museu Nacional durante as obras de recuperação do prédio, em novembro de 2021 — Foto: Hermes de Paula](https://s2-oglobo.glbimg.com/lJZetKkmezxol_F_AFc27Sa8VIo=/1296x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/r/m/0MB3jtRDOCpSXzULHn1g/96164589-ri-rio-de-janeiro-rj-12-11-2021-cerimonia-de-inicio-das-obras-nas-fachadas-e-telhados-do.jpg)
Interior do Museu Nacional durante as obras de recuperação do prédio, em novembro de 2021 — Foto: Hermes de Paula
![O Museu Nacional, em setembro de 2021, três anos após o incêndio — Foto: Brenno Carvalho](https://s2-oglobo.glbimg.com/xojioOwxrlA2mvU7cAhT2PGokvQ=/1359x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/L/k/VuBBKPSsiX9bnnjZEwOg/95040530-ri-rio-de-janeiro-rj-01-09-2021-obras-sem-fim-o-grande-incendio-de-destruiu-o-museu-n-1-.jpg)
O Museu Nacional, em setembro de 2021, três anos após o incêndio — Foto: Brenno Carvalho
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![Trabalho de recuperação do acervo do Museu Nacional um ano depois do incêndio — Foto: Roberto Moreyra](https://s2-oglobo.glbimg.com/WBpYOeab1b-CCLLeusf4_XK41qg=/1296x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/i/E/pciYAXSymaoj4HFax3Og/84332237-ri-rio-de-janeiro-rj-30-08-2019-1-ano-apos-o-incendio-do-museu-nacional-historias-dos-fun.jpg)
Trabalho de recuperação do acervo do Museu Nacional um ano depois do incêndio — Foto: Roberto Moreyra
![Peças que foram resgatadas do incêndio e que depois foram expostas no museu da Caixa, em 2019. — Foto: Brenno Carvalho](https://s2-oglobo.glbimg.com/UaJCrXEzKeq_3FRCjggPph0Enqw=/1260x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/Z/w/57E3eJReGeWBPJAYh60A/84312037-ri-rio-de-janeiro-rj-29-08-2019-montagem-da-exposicao-na-caixa-cultural-com-acervo-do-mus.jpg)
Peças que foram resgatadas do incêndio e que depois foram expostas no museu da Caixa, em 2019. — Foto: Brenno Carvalho
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As obras de reconstrução da mais antiga instituição científica do país — celebrou 204 anos em 6 de junho — começaram em novembro de 2021. Antes, os serviços se limitaram a escoramento, instalação de telhado provisório, busca por relíquias sob os escombros e elaboração de projetos. Com verbas públicas curtas, foi feita uma campanha para doações e parcerias, sendo os valores geridos pela Associação Amigos do Museu Nacional.
O site do projeto Museu Nacional Vive informa que foram captados, até agora, R$ 244 milhões. Há, segundo a instituição, mais de três mil pessoas físicas benfeitoras e 11 parceiros institucionais, incluindo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o BNDES, o Bradesco e a Vale.
— Estamos trabalhando para que as obras deslanchem — diz a reitora da UFRJ (a quem o museu é vinculado), Denise Pires de Carvalho.
'Quintal dos cariocas'
O chamado jardim-terraço do palácio foi revitalizado pela prefeitura, como parte da recuperação da Quinta da Boa Vista, onde estão sendo investidos R$ 14,6 milhões. No jardim, a Secretaria municipal de Conservação reformou muro, balaustrada, postes de ferro, caminhos e vasos em argamassa e estuque. Nos canteiros, foram feitas a limpeza e a recomposição da vegetação.
— A Quinta da Boa Vista foi residência da Família Real e se tornou o quintal de todos os cariocas.— destaca a secretária Anna Laura Secco.
![Frequentadores da Quinta da Boa Vista, a arquiteta Adhora Santos e o marido, o estatístico Iago Carvalho: expectativa com a reforma — Foto: Selma Schmidt](https://s2-oglobo.glbimg.com/kDa5meVLZEGx8vp6JcdU2f81e3E=/0x0:1024x768/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/W/p/bsalSeStasofAOeNgFSQ/whatsapp-image-2022-08-31-at-15.27.11.jpeg)
Hoje assíduos frequentadores da Quinta da Boa Vista, a arquiteta Adhora Santos e o marido, o estatístico Iago Carvalho, ambos de 33 anos, eram recém moradores de São Cristóvão e estavam viajando em lua de mel quando o Museu Nacional pegou fogo. Adhora chegou a visitar, no passado, o museu. Mas Iago ainda não:
— Tenho que me limitar a ver a fachada do palácio e o seu jardim frontal. Pelo visto, as obras vão demorar.
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O garçom cearense Francisco Fábio Alves é outro que vai ter esperar. Ele chegou ao Rio em março do ano passado. Quase todos os dias, corta a Quinta para ir de casa, em São Cristóvão, até o trabalho, no Maracanã.
— Quando olho para o museu, me dá curiosidade para saber o que tinha ali.
O museu tinha uma das mais completas coleções de fósseis de dinossauros do mundo, múmias egípcias e artefatos da arqueologia brasileira. Era especializado em estudos de paleontologia, antropologia, geologia, zoologia, arqueologia e etnologia biológica. Um núcleo de resgate, formado por funcionários da instituição, conseguiu achar, em meio aos escombros, ossos de múmias egípcias e amuletos de metal que estavam nos sarcófagos. Um feito comemorado foi encontrar fragmentos de ossos do crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo localizado na América do Sul.
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O historiador Rafael Mattoso lembra que o Palácio São Cristóvão pertencia a Elias Antônio Lopes, um comerciante português que enriqueceu com o tráfico negreiro. Com a chegada da família real, em 1808, foi cedido para moradia, “em troca de concessões, influência na Corte e títulos”.
— O Museu Nacional foi fundado por Dom João VI em 1818, com o nome de Museu Real, com acervos trazidos pela Corte. Ele só vai se chamar Museu Nacional em 1822, a partir da Independência. Inicialmente se instalou no Campo de Santana, se mudando para o Palácio São Cristóvão em 1892 — acrescenta ele.
A reinauguração parcial do palácio ocorre em meio a uma auditoria, feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), para investigar a lisura dos contratos celebrados após o incêndio e a capacidade de execução das empresas contratadas. A fiscalização, pedida por deputados, começou em abril deste ano e tem prazo até março de 2023. Outro processo em andamento no TCU é motivado por uma representação formulada pelo Ministério Público do tribunal “a cerca de supostas irregularidades administrativas envolvendo a recuperação do museu.”
Mais dois processos do TCU que tratam do museu já têm acórdão. Num deles o tribunal não viu "conduta dolosa" ou "erro grosseiro" dos gestores do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro no incêndio. O órgão não afastou as falhas no museu, mas concluiu que elas aconteceram em decorrência da falta de recursos. No segundo acórdão, o TCU autoriza a auditoria nos contratos celebrados após o incêndio.
Por e-mail, a diretoria da Associação de Amigos do Museu Nacional “reafirma seu firme compromisso com uma gestão de plena transparência e repudia toda e qualquer insinuação relacionada à seriedade com que conduz os processos relacionados à reconstrução do Paço de São Cristóvão e às demais atividades do Museu Nacional.” Diz ainda que, neste momento, "não há qualquer pendência em relação aos órgãos de fiscalização".
Colaborou: Carmélio Dias
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