Rio
PUBLICIDADE

Por Paolla Serra — Rio de Janeiro

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 09/08/2024 - 16:19

"Decisão polêmica: Monique e Jairinho absolvidos por fraude no Caso Henry"

Na decisão do Caso Henry, Monique e Jairinho vão a júri popular, sendo absolvidos por fraude. Jairinho segue preso preventivamente, enquanto Monique permanece em liberdade. A juíza destaca provas do homicídio e torturas, negando acusações de torturas contra Monique. A magistrada aponta omissão e atipicidade em relação a Monique, gerando controvérsia e recorrências judiciais. Monique expressa tristeza e busca provar sua inocência nas redes sociais.

A juíza Elizabeth Machado Louro, do II Tribunal do Júri, determinou que Monique Medeiros da Costa e Silva, e seu ex-namorado, Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho, irão a júri popular pelo homicídio contra o filho dela, Henry Borel Medeiros. Na sentença de pronúncia do casal, a magistrada absolveu a professora sumariamente das acusações de torturas contra o menino, falsidade ideológica e fraude processual — o mesmo vale para o médico e ex-vereador, em relação somente ao último crime. Enquanto ele — que será julgado por homicídio e torturas — seguirá preso preventivamente, ela — que será julgada por homicídio e coação no curso do processo — permanecerá em liberdade, tendo que entregar o passaporte em juízo.

De acordo com a decisão de 29 páginas, ao qual O GLOBO teve acesso, a materialidade do homicídio é demonstrada nos exames periciais oficiais juntados ao processo e ainda no laudo de reprodução simulada e no prontuário médico do atendimento recebido por Henry no Hospital Barra D’Or, na madrugada de 8 de março de 2021. A juíza sustenta que, embora o assistente técnico Sami El Jundi, contratado pelo ex-parlamentar, não tenha contestado a laceração hepática como causa da morte do menino, o profissional aventou as mais variadas hipóteses, sem concluir em favor de nenhuma delas.

Veja trechos da sentença de pronúncia

“Relativamente à autoria do crime contra a vida, e no que concerne ao acusado Jairo, a defesa do acusado segue na mesma toada de discutir a materialidade e as lesões encontradas no corpo e seu entrelaçamento com outras possíveis causas para o evento morte. No entanto, duas evidências resultam incontrastáveis: que a vítima foi levada ao hospital para socorro médico em PCR, de madrugada, e a certeza de que somente o casal, naquele momento, encontrava-se em companhia da criança no apartamento”, escreve a magistrada. 


“Além disso, é certo que a vítima havia passado bem o fim de semana em companhia do pai, sem queixas de dor ou qualquer desconforto, tendo sido entregue na véspera da triste ocorrência em perfeito estado físico, razão pela qual, conquanto tenha o fato ocorrido ao abrigo de testemunhas, a probabilidade de ter o réu agredido a vítima, assumindo o risco de lhe causar a morte, não discrepa da prova produzida, examinada em conjunto. Releva assinalar, ainda, que as conclusões do laudo de reprodução simulada, reforçadas pelas constatações do exame cadavérico, são seguras e incontestes em afastar queda ou qualquer acidente doméstico como causa para o estado clínico em que a vítima aportou ao hospital. Tais conclusões, que contaram com a expertise de legistas e peritos criminais, não são apenas técnicas, mas também plenamente consonantes com o raciocínio e o senso comum do homem médio”, completa.

Na sentença, Elizabeth admite as qualificadoras descritas na denúncia do Ministério Público, no que concerne o homicídio imputado a Jairinho: motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. “Em princípio, não existe motivo razoável para um adulto agredir uma criança tenra, em tão pouco tempo de convívio, do qual não se tem notícia de qualquer descontentamento causado pela vítima. Muito ao contrário, publicamente o relacionamento entre acusado e vítima era tido como cordial e amoroso. Portanto, o prazer perverso e sádico na agressão pura e simples surge bem plausível, pelo que (…) deve seu exame ser submetido à íntima convicção dos jurados”.


Em relação aos três crimes de torturas atribuídos também ao ex-vereador, a juíza afirma que as provas testemunhais limitam-se aos depoimentos prestados pela empregada Leila Rosângela de Souza Mattos e pela babá Thayná de Oliveira Ferreira: “Destaque-se que a ausência de vestígios das supostas torturas não elimina a possibilidade de terem elas efetivamente ocorrido. É sabido que as práticas de tortura, em geral, são levadas a efeito de modo a não deixarem marcas, a depender do método utilizado pelo agressor,  como admite o próprio perito assistente indicado pela defesa, quando, em depoimento em juízo, e após confirmar por várias vezes que não havia sinais de maus-tratos na vítima, acabou por reconhecer, respondendo à pergunta da mesma defesa (…) Isso para não falar na tortura psicológica, igualmente prevista no tipo penal em questão e narrada na peça inicial.”


“Assinale-se que a testemunha confirma, em juízo, ter feito três relatos à autoridade policial então tipificados como tortura. Nesses relatos, resulta demonstrado que todas as vezes que Jairo convidava a vítima para com ela se trancar no quarto, a criança de lá saía mancando, ou queixando-se de dor, ou narrando ter sido agredida pelo réu, adotado sempre o  mesmo modus operandi, com destaque para o curto período em que permanecia trancado com o menino, à exceção do primeiro episódio, quando o recolhimento perdurou por cerca de meia hora”, ressaltou Elizabeth Machado Louro.


Sobre o crime de fraude processual, a magistrada afirma não haver nenhuma indicação de pedido, por parte de Monique ou Jairinho, para que a empregada Leila Rosângela limpasse o apartamento onde o casal morava com Henry, no condomínio Cidade Jardim, na Barra da Tijuca, após a morte do menino. Em relação a suposta coação no curso do processo, da qual também eram acusados, a juíza também nega haver indicação de que ele tenha providenciado um carro para conduzir testemunhas até o escritório de um advogado que os representava. 


No que cabe aos crimes de torturas contra Henry imputados a Monique, Elizabeth Machado Louro entendeu pela chamada atipicidade da alegada conduta omissiva. “(…) não corresponde ao aporte probatório a alegação de que a ré não tomou nenhuma providência para evitar a tortura. Os referidos prints deixam claro que, naquele momento mesmo, ela fez planos com a babá para surpreender o primeiro réu em próxima incursão contra seu filho, mediante a compra de câmeras, além de, a todo tempo, fazer apelos, aparentemente desesperados, enquanto durou a insólita situação, para que a babá fizesse cessá-la”, afirmou sobre o momento que Thayná teria alertado a professora, em tempo real, sobre supostas agressões praticadas por Jairinho.


“Já no homicídio, o mesmo raciocínio não se aplica; a uma, porque a ré já havia vivenciado três momentos distintos de triste presságio, a indicar devesse estar mais atenta; a duas, porque estava presente no local do fato. Nesse particular, a análise do binômio obrigatoriedade/possibilidade, a ser sopesado no exame da omissão penalmente relevante, ganha outro contorno, por isso que não se pode, de pronto, afastar a possibilidade de agir, a menos que houvesse demonstração, estreme de dúvida, de que a ré dormia, o que não ocorre, até onde chegou a produção da prova. Na verdade, a ré alega estar dormindo; assim também se diz o acusado, instaurando a dúvida. Por mais que soe extraordinária a conduta do apontado agente comissivo, e ainda mais quando cotejada com o comportamento da ré como mãe ao longo da existência da vítima, a dúvida que se apresenta a partir de versões colidentes dos réus recomenda solução em favor da competência constitucional do colegiado de jurados, desde que não demonstrada categoricamente a versão defensiva ou afastada peremptoriamente a tese acusatória, pelo que a pronúncia é de rigor”, decide a juíza.

Ao GLOBO, o promotor Fábio Vieira informou que irá recorrer da sentença, pedindo a pronúncia de Monique também pelas torturas contra o menino e de Jairinho também por coação no curso do processo. Já os advogados Hugo Novais e Thiago Minagé, que representam Monique, disseram que discordam do despacho em razão da “certeza da inocência da professora” e estão “analisando os recursos cabíveis”. Já o advogado Cláudio Dalledone, que defende Jairinho, falou que a decisão foi proferida por uma “juíza suspeita” e que “será combatida nos tribunais superiores”.

Nas redes sociais, Monique se manifesta sobre decisão

Após a pronúncia, Monique utilizou as redes sociais para afirmar receber com “imensa tristeza, dor e profunda sensação de injustiça” a decisão. ''Já disse e repito aqui para todos... que somente três pessoas sabem o que ocorreu no pior dia da minha vida: Deus, Jairo e meu amado filho. Isso nunca foi escusa de culpa, foi, é e sempre será a verdade... Eu jamais permitiria que qualquer pessoa fizesse mal ao maior amor da minha vida. A mesma fé que me manteve viva sobrevivendo o injusto horror do cárcere, que me impediu até mesmo de me despedir do meu amado pai é a que subsistirá para que eu consiga provar a minha inocência e um dia poder revê-los. Eu estou viva, lutando e de cabeça erguida, apenas por esse propósito. Continuarei firme na fé de que Deus está no comando de tudo, cuidando de tudo e que Henry segue intercedendo por mim", escreveu Monique.

Publicação de Monique Medeiros em rede social foi acompanhada por foto em família, ao lado do filho, Henry, e dos pais — Foto: Reprodução/Instagram
Publicação de Monique Medeiros em rede social foi acompanhada por foto em família, ao lado do filho, Henry, e dos pais — Foto: Reprodução/Instagram

"Carreguei dentro de mim o maior amor da minha vida, meu maior tesouro e hoje carrego ele vivo dentro do meu coração e com a certeza de que a eternidade será testemunha do nosso reencontro. Sempre amei meu filho e sigo amando, sempre cuidei, zelei, brinquei e fui a melhor mãe que pude, a melhor mãe que ele poderia ter. Quem já me acompanha a um tempo e quem me conhece, sabe quem eu sou, sabe do meu caráter, da minha índole. Sigo, como sempre, na fé de que Deus não desampara e que ele está no comando de tudo, pois se a fé move montanhas, a minha fé de mãe, moverá o mundo!! A verdadeira justiça pelo meu filho irá acontecer. Louvado sejo o meu Deus por tudo", completou.

Mais recente Próxima Prefeito de Itaboraí sofre tentativa de assalto em Maricá

Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio

Mais do O Globo

Supremo Tribunal Federal reservou três semanas para ouvir 85 testemunhas de defesa de cinco réus, sendo que algumas são as mesmas, como os delegados Giniton Lages e Daniel Rosa, que investigaram o caso

Caso Marielle: audiência da ação penal contra irmãos Brazão e Rivaldo Barbosa será retomada hoje pelo STF

A decisão do candidato da oposição de deixar a Venezuela por temer pela sua vida e pela da sua família ocorreu depois de ter sido processado pelo Ministério Público por cinco crimes relacionados com a sua função eleitoral

Saiba como foi a fuga de Edmundo González, candidato de oposição da Venezuela ameaçado por Nicolás Maduro

Cidade contabiliza 21 casos desde 2022; prefeitura destaca cuidados necessários

Mpox em Niterói: secretária de Saúde diz que doença está sob controle

Esteve por lá Faisal Bin Khalid, da casa real da Arábia Saudita

Um príncipe árabe se esbaldou na loja da brasileira Granado em Paris

Escolhe o que beber pela qualidade de calorias ou pelo açúcar? Compare a cerveja e o refrigerante

Qual bebida tem mais açúcar: refrigerante ou cerveja?

Ex-jogadores Stephen Gostkowski e Malcolm Butler estiveram em São Paulo no fim de semana e, em entrevista exclusiva ao GLOBO, contaram como foi o contato com os torcedores do país

Lendas dos Patriots se surpreendem com carinho dos brasileiros pela NFL: 'Falamos a língua do futebol americano'

Karen Dunn tem treinado candidatos democratas à Presidência desde 2008, e seus métodos foram descritos por uma de suas 'alunas', Hillary Clinton, como 'amor bruto'

Uma advogada sem medo de dizer verdades duras aos políticos: conheça a preparadora de debates de Kamala Harris

Simples oferta de tecnologia não garante sucesso, mas associada a uma boa estratégia pedagógica, mostra resultados promissores

Escolas desconectadas