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Por Vera Araújo — Rio de Janeiro

Num áudio do miliciano Marco Antonio Figueiredo Martins, o Marquinhos Catiri, enviado para o contraventor Bernardo Bello, obtido pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) com autorização judicial, o primeiro alvo reclama que um suposto aliado deles, Marcelo Simões Mesqueu, o Marcelo Cupim, não teria se empenhado para relaxar a prisão do bicheiro. A mensagem de voz teria sido postada no período que Bello esteve preso na Colômbia, de 29 janeiro a 17 de maio deste ano, e Marquinhos Catiri citou que Marcelo Cupim seria amigo de Tula, referindo-se à juíza-auxiliar do I Tribunal do Júri Tula Corrêa de Mello, que decretou a prisão do contraventor.

Bello e Marcelo Cupim foram alvos da Operação Fim da Linha, desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, contra a máfia dos jogos de azar. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, a magistrada negou ser amiga de Cupim e afirmou ser um absurdo dar crédito ao que um criminoso diz a seu respeito. Ela admitiu, no entanto, que foi a uma festa de Natal na casa dele, seu vizinho na Barra da Tijuca, inclusive sendo fotografada no evento, mas justificou:

— Meu filho e a filha dele (Cupim) estudaram no mesmo colégio. Não costumo pedir a FAC (Folha de Antecedentes Criminais) das pessoas que conheço. Mesmo assim, não havia nada contra essa pessoa. Não é meu amigo. Tenho uma vida social ativa. Eu circulo por onde moro, inclusive, depois que decretei a prisão de Bernardo Bello, o que ninguém tinha feito, passei a andar com seguranças do tribunal porque fui ameaçada de morte. Nem correr na praia posso mais — explicou a magistrada.

A juíza Tula está na magistratura fluminense há duas décadas, na maior parte do tempo na área criminal. Ela concorre à vaga de titular do I Tribunal do Júri. Ela não esconde sua paixão pelo júri e revela que ama sua profissão:

— Eu passei essas duas décadas me expondo, mandando prender criminosos, fazendo justiça! No caso do Bernardo Bello, a minha maior preocupação era agir rápido e evitar vazamentos, o que não houve. Tanto que ele foi preso na Colômbia. Eu determinei à Polícia Federal que fizesse o alerta vermelho. Da mesma forma que ordenei a prisão, cuidei da extradição dele respeitando os trâmites processuais e o mais rápido possível, pois havia rumores de que ele não estaria seguro por lá. É meu dever cuidar da integridade dos detentos — ressaltou a magistrada.

Miliciano cita que juíza é amiga de cúmplice de contraventor

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No áudio, Marquinhos Catiri diz que está à frente dos negócios de Bello, mas critica Marcelo Cupim por não estar usando o "meio que vive" para ajudar na libertação do contraventor, responsável pela exploração do jogo do bicho, das máquinas de caça-níqueis e dos bingos, segundo o MPRJ, de parte de Copacabana, na Zona Sul, e Vila Isabel, na Zona Norte. Na denúncia do Gaeco, a conversa é transcrita:

"Tive que falar com o Marcelo Cupim...ficou muito estranho isso. A Tula (Tula Corrêa de Mello - magistrada) ser melhor amiga dele e não relaxar a sua prisão. Tá bom? E ele enrolou... Todas as conversas que ele teve com essas pessoas ele enrolava. Por que você sabe que ele é uma pessoa muito, muito, muito, muito inteligente, referente do meio que ele vive. Até mais...mais vivido do que eu, Marquinho, entendeu, irmão?" (sic)

Em outro trecho, o miliciano refere-se novamente a juíza, dizendo não ter gostado da conversa que teve com Marcelo Cupim sobre ela:

"A conversa que eu tive com Marcelo, eu não gostei da conversa. Na verdade, eu gostei de ter conversado. Mas eu botei coisas para ele, o Marcelo, que na verdade ele teria que fazer com a Tula . Com toda a minha sabedoria, baseado num promotor público que eu conversei para mim poder ir falar com ele, o que que a Tula deveria fazer que não iria manchar a imagem dela, entendeu, amigo?" (sic)

Ao tomar conhecimento do teor da mensagem de voz pelo GLOBO, a magistrada respondeu que o relato comprova a idoneidade dela:

— Ele (Marcelo Cupim) nem ousou fazer tal proposta porque as pessoas conhecem minha conduta. Ai dele se o fizesse (dando a entender que lhe daria voz de prisão). Seria muita audácia. Não vou trocar a minha caneta por bandido algum! — afirmou a juíza — Pelo contrário, indeferi pedidos habeas corpus em favor de Bello, tanto que a decisão de soltá-lo não foi minha, mas do STJ (Superior Tribunal de Justiça) — disse ela.

Bernardo Bello é réu no homicídio do rival na contravenção, Alcebíades Paes Garcia, o Bid, em fevereiro de 2020, quando voltava dos desfiles da Marquês Sapucaí.

Segundo a juíza Tula, logo após a prisão do contraventor, algumas denúncias sobre Bernardo Bello chegaram pelo Disque-Denúncia, desde atentados contra a vida dela até calúnias de que a magistrada "receberia dinheiro" para libertá-lo.

— Chegou o Disque-Denúncia de que ele (Bernardo Bello) iria me matar. Um dos braços-armados dele, Wagner Dantas Alegre, não foi preso e está foragido até hoje. A magistratura é minha vida! Esse bandido (Marquinhos Catiri) não tem ética, nem moral, para falar sobre mim. Não troco de lugar com réu! — afirmou a magistrada.

O MPRJ havia incluído Marquinhos Catiri na denúncia, no entanto, em 19 de novembro, o miliciano foi assassinado em Del Castilho, na Zona Norte do Rio. No mesmo áudio destinado a Bernardo Bello, o paramilitar informa que está de frente nos negócios do patrão e que por isso precisou contratar seguranças: "A minha cabeça está valendo quatro milhões". Ele também conta que era o responsável por pagar propinas às delegacias especializadas para os policiais fazerem vista grossa aos jogos de azar e não reprimirem a jogatina.

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